O mês de maio inicia-se com a comemoração de São José Operário e o dia do Trabalhador. O trabalho é uma realidade que exige disposição, disciplina, empenho. Por mais que alguém trabalhe naquilo que goste, em si o trabalho é sempre exigente e desgastante. Porém, mais difícil que trabalhar é ficar sem trabalho. Sobretudo devido à pandemia, nosso País atinge os mais altos índices de desemprego, com todas as consequências pessoais e sociais que isso pode acarretar. Paradoxalmente, quando não se tem emprego percebe-se, mais nítida e intensamente, o quanto o trabalho é importante e realizador na vida de cada um. No dia 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII, publicava a encíclica social “Rerum Novarum”, que tratava das questões trabalhistas e das “realidades novas” geradas pelo processo de industrialização. Neste ano de 2021, dedicado a São José, contemplamos esse santo homem que nos inspira a realizar todo trabalho segundo a vontade de Deus. Sob este enfoque, neste artigo, refletiremos sobre a espiritualidade do trabalho e a mística que move o cristão a realiza-lo.
Marcando a comemoração do 90º aniversário da Rerum Novarum, o então papa João Paulo II, em 1981, publicava sua primeira encíclica, a Laborem Exercens, sobre o trabalho humano, de onde colhemos os principais elementos aqui apresentados. A espiritualidade do trabalho tem suas bases na Palavra de Deus. Já no livro do Gênesis (cap. 1), vemos o relato da criação como obra, ou trabalho de Deus. Para dar um cunho religioso ao ritmo da semana, o texto sagrado apresenta a obra de Deus realizada em seis dias e o descanso no sétimo. Com isso propõe-se ao ser humano que participe da obra do Criador e que esta inspire seu trabalho e seu descanso.
No evangelho escrito por Marcos (6,3) Jesus é apresentado como o carpinteiro. Sendo ele um trabalhador e o anunciador do evangelho, em sua pessoa podemos contemplar o evangelho do trabalho. Muitas de suas parábolas fazem referência ao trabalho do pastor, do agricultor, do médico, do pescador, do comerciante, do servo, do feitor, do operário, etc.
São Paulo, como discípulo e apóstolo do Senhor, também ensina sobre o trabalho. Na segunda carta aos Tessalonicenses (cap.3), diz que trabalha noite e dia, enfrentando um trabalho duro e penoso para não ser pesado a ninguém e para dar exemplo àqueles que vivem preguiçosamente, sem trabalhar. Completa dizendo (em outras palavras) que quem quer comer, deve trabalhar. Já na carta aos Colossenses (cap.3), Paulo nos diz que tudo o que fizermos, seja feito de coração, como que para o Senhor, segundo a vontade de Deus e não simplesmente para atender ao chefe ou para agradar a alguém. Aqui está o essencial da mística e da espiritualidade do trabalho. Claro que realizando o trabalho segundo a vontade de Deus, melhor serviremos aos nossos semelhantes e nosso trabalho atingirá sua dimensão social, pois a atividade que procede do ser humano também para ele se destina.
Todo trabalho, quer seja manual ou intelectual, tem sua cota de fadiga, de peso, de sofrimento. Assim, nosso trabalho pode ser associado ao mistério de cruz e ressurreição do Senhor Jesus. Unimos nossos sofrimentos aos de nosso Senhor em vista a criar um mundo novo e melhor para todos. Colaboramos assim, de algum modo, com Jesus, associados a Ele na obra da redenção da humanidade, levando nossa cruz de cada dia.
Que nossos trabalhos sejam desenvolvidos não simplesmente com o objetivo de alcançar progresso e tornar melhor nossa vida terrena, o que certamente é importante, mas sobretudo, como cristãos, nosso trabalho seja uma maneira de colaborar para que o Reino de Deus vá se concretizando já neste tempo de nossa história, através de relações de justiça, de fraternidade, de buscar o bem para nós e para todos. Com tais disposições, iniciemos a atividade de cada dia com uma oração, oferecendo a Deus o trabalho a ser realizado segundo sua Vontade e para o bem de nossos semelhantes. O trabalho feito com essa disposição já é uma forma de oração.
Dom Wilson Angotti Filho
Bispo Diocesano de Taubaté
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