José no evangelho de Mateus é honrado com o título singular de “esposo de Maria”, título que lhe vem oficialmente reconhecido na genealogia de Jesus (1,16) e logo depois na narração da concepção virginal (v.19). Também a mãe de Jesus, Maria, é sem ambiguidade e ainda mais frequentemente apresentada como “casada com José”(v.18); “casada com um homem” (Lc 1,27;2,5) ela é mulher, da qual José quer – mas não deverá separar-se (Mt 1,20-24).
Se os evangelistas insistem contextualmente também sobre a circunstância que Maria é virgem (Lc 1,27.34; Mt 1,23.25) e que Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo (Mt 1,18; Lc 1,35), isto significa que a aparente conflitualidade das situações é particularmente intencional; a concepção e o nascimento de Jesus de uma virgem deveriam acontecer dentro de um contexto do matrimônio. O matrimônio de Maria e José não é portanto, uma simples colocação para resolver alguns problemas práticos, mas este deve ser visto em toda a sua verdade, como um fato diretamente preestabelecido pela vontade de Deus.
José é o esposo de Maria; Maria é a esposa de José: o matrimônio deles é verdadeiro; Jesus foi concebido pela esposa de José; Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Todas estas afirmações encontram fundamento no evangelho; a sua realidade é ordenada para a encarnação do Verbo. O Concílio de Calcedônia (DS 1480) e os Concílios de Constantinopla ( II, DS 219: III, DS 291) formularão tal mistério com a terminologia que nos é comum, mas são os evangelistas a sublinharem em suas narrações os elementos essenciais.
A origem divina de Jesus, Verbo de Deus, está expressamente afirmada com referência explícita ao Espírito Santo (“Maria se encontrou grávida por obra do Espírito Santo Mt 1,18-20”;”o Espírito Santo descerá sobre ti e a potência do Altíssimo te cobrirá”(Lc 1,35) e com a insistência sobre a virgindade de Maria ( Mt 1,18.23.25; Lc 1, 27.34), mas contemporaneamente são levadas em consideração também aquelas exigências predispostas pelo próprio Deus através das promessas feitas a Davi ( Sm 7,16; Is 7,14) e oportunamente relembradas pelos evangelistas (Mt 1; Lc 2,32).
Não por acaso, José é classificado entre os descendentes de Davi (Mt 1, 16) e é repetidamente indicado como “filho de Davi (v.20)” da, “casa de Davi” (Lc 1,27), da “casa e família de Davi” (2,4). Se os evangelistas não estão preocupados em reivindicar esta qualificação para Maria, não é necessário forçar o texto, mas simplesmente reconhecer, invés disto, que a messianidade de Jesus passa através de José. Jesus é filho de Davi, porque é filho de José.
A genealogia (Mt 1,1-17) não deve ser absolutamente separada da narração da origem de Jesus (VV. 18-25). A genealogia legaliza a davicidade de José; a série dos “gerou” pára nele (v.16) no pleno respeito e da ação do Espírito Santo reivindicada para a concepção de Jesus (v.18): a ponte entre José, “filho de Davi” (v.20), e Jesus é constituído pelo matrimônio de José, expressamente qualificado “ esposo de Maria”, da qual nasceu Jesus.
Prof. Dr. José Pereira da Silva
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