São José: a espiritualidade da vida cotidiana

“A Igreja confia também no insigne exemplo de São José” (Redemptoris Custos, n.30). Lembremos da afirmação fundamental do Papa Santo Paulo VI ( 1897-1978)  que São José “ é a prova que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não são necessárias coisas grandes, mas bastam e são necessárias as virtudes humanas comuns e simples, mas verdadeiras e autênticas” (Homilia de 19 de março de 1969).

A liturgia propõe a todos São José como modelo de fidelidade e pureza de coração, de fidelidade às responsabilidades que Deus nos confia, de testemunha do amor de Deus, para caminhar nos caminhos da santidade e da justiça e cooperar fielmente na realização da obra da salvação.

Os ensinamentos dos Papas, sobretudo nestes últimos dois séculos encontraram em São José uma referência equilibradora, apresentando-o sempre como modelo de vida autenticamente cristã, verdadeira , austera, severamente simples, sem nenhum daqueles maravilhosos enfeites que comumente acompanham a vida dos  santos e santas. Quantas gerações foram formadas nesta grande escola!

Através dos exemplos disso São José, “vê-se como Deus espera de cada um de nós aquilo que ele tem o sacrossanto direito de esperar, ou seja, a correspondência fiel e generosa ao seu chamado, à sua vontade, ao seus desejos, o empenho fiel e diligente daqueles muitos dons naturais e sobrenaturais que ele mesmo distribuiu a cada um, segundo as  diferentes condições de vida, segundo os diversos deveres do estado que a cada um Ele deu” ( Papa Pio XI, Locução de 19 de março de 1961).

Da figura de São José vem para todos um oportuno apelo, e também aquele sentido de medida, de paciência, e aquele ‘amor silentii’ e o amor de sacrifício, que fazem muito sólidas as obras de piedade, de mútua assistência, de elevação espiritual e material.

A tríplice concupiscência: o dinheiro, que antes de tudo tem um terrível poder de atração; a sede de domínio é inextinguível; os prazeres da vida que induzem à condescendência , à fraqueza. Quem deseja se salvar, colocar-se ao seguro na casa do Pai e conservar os preciosos dons de natureza e de graça dados por Deus, não precisa fazer outra coisa senão espelhar-se no perene ensinamento evangélico e da Igreja, dos quais a humilde vida de São José oferece um exemplo muito significativo “ (Papa João XXIII, Homilia de 19 de março de 1961).

Naturalmente, pela razão do trabalho que exerceu. São José é especialmente proposto como modelo de santidade para os trabalhadores. O Papa Bento XV (1854-1922) escreveu: “ Os proletários, os operários e todos os trabalhadores devem, por um título ou por um direito próprio, aprender com ele o que tem de imitar. Por ele, embora fosse de estirpe déreis, casado com a mais santa e excelsa entre as mulheres, e pai putativo do Filho de Deus, apesar disso, passa a sua vida no trabalho, e com o seu esforço e com a sua profissão providencia o necessário para a manutenção dos seus. José, contente do pouco do que era seu, conduziu com forte e elevado ânimo as privações e as dificuldades inseparáveis daquela maneira sutil de viver a exemplo do seu Filho, o qual, sendo senhor de todas as coisas, e revestido da semelhança de um servo, de boa vontade abraçou a suma pobreza e a penúria de todos as coisas” (Papa Bento XV, Motu Proprio”Bonum sane”, 25 de julho de 1920).

Ao propor o exemplo de São José, a Igreja procura chamar os trabalhadores à consideração de sua grande dignidade, e convidá-los a fazer de suas atividades um meio poderoso de aperfeiçoamento pessoal e de mérito eterno. A verdadeira dignidade do homem não se mede por resultados grandiosos, mas pelas disposições interiores de ordem e de boa vontade.

É evidente que a santidade de José encontra a sua origem e também a sua expressão na particular união e intimidade que ele teve com Maria e com Jesus; é daqui que deriva a extraordinariedade da vida e do trabalho de São José, inteiramente simples sob todos os aspectos. São José é a prova da grandeza em qualquer tipo de vida cotidiana, se esta for transformada em resposta de amor para com Deus, na aceitação simples e generosa da sua vontade.

O Papa Santo Paulo VI propõe justamente a adesão de São José à vontade de Deus como ‘o segredo da grande vida’ para cada homem, sem exceção. Como o Concílio Vaticano II (1962-1965) lembra: “ Jesus pregou a santidade da vida  a todos os seu discípulos de qualquer condição. O mesmo serviço temporal, se aceitado com fé como cooperação à vontade divina se torna manifestação da caridade com a qual Deus amou o mundo” (Lumem Gentium, nn.40-41).

As narrações dos evangelistas deram pouco espaço ao mistério da vida escondida de Jesus, preocupando-se mais com a sua vida pública, mas não deixa de ser verdade, se tomada dentro do contexto do tempo, que a vida escondida de Jesus foi preponderante, manifestando desta forma no dia-a-dia a grande realidade da encarnação.

“Trata-se , em última análise, da santificação da vida cotidiana, que cada um deve adquirir segundo o próprio estado e que pode ser vivida segundo um modelo acessível a todos” (Redemptoris Custos, n.24).

Sendo que São José , na economia da encarnação , foi designado pelo próprio Deus para ser o educador de Jesus, a este por sua vez procurou ser-lhe submisso (Lc 2,51; Hb 5,8), a Igreja a não cessa de confiar a São José á vida espiritual dos fiéis, na certeza de que aquele que recebeu a plena confiança do Pai celeste a respeito do seu Filho predileto, deseja a reproduzir os seus sentimentos no seu corpo, que é a Igreja.

A espiritualidade de São José, como a proposta pelo magistério da Igreja é, por sua vez, o caminho de cada homem, porque supõe a grandeza da vida cotidiana enquanto tal. A maneira mais ou menos extraordinária, com a qual cada um saberá viver a sua vida ordinária no exercício constante das mais variadas virtudes, dependerá daquele grau de animação que cada vida a interior saberá atingir do mistério, da encarnação do Verbo que age em todos. Nazaré é certamente um lugar geográfico, mas foi sobretudo um mistério da vida de Cristo, ou seja, um tempo e um lugar de salvação.

Homem entre os homens, Jesus condividiu na humildade e na obediência o dia-a-dia, as instituições, os ritos, o cansaço, a dor e o trabalho, a fim de transformar tudo, purificando e santificando tudo pelo contato com sua presença redentora. Em Nazaré, Jesus viveu sob a proteção, a guia e a autoridade do pobre carpinteiro de Nazaré. José, a lição que brota de toda sua vida, continuará sempre a ser uma escola para a Igreja.

Prof. Dr. José Pereira da Silva

Leia Também:

O perfil interior de São José: exemplo de vida interior

×