O FILHO ETERNO SE FEZ HOMEM

Em dezembro, celebramos o mistério do Natal. A palavra “mistério” nos remete a uma realidade que diz respeito a Deus. Em uma sociedade que enfatiza o aspecto comercial da festa, convém refletir sobre o sentido e a extensão desse fato que, com alegria, celebramos. O Filho Eterno, que sempre existiu no seio da Trindade, em um momento da história, nasceu como um de nós. Sem deixar de ser Deus assumiu a condição humana, vivendo em tudo como nós, exceto no pecado. Esse fato mudou não só nossa história, mas também nossa compreensão acerca de nós mesmos, de nosso agir e de nosso destino. Sobre esses aspectos proponho esta reflexão.

Ser como Jesus

A Encarnação do Filho Eterno nos faz conhecer a que o ser humano é chamado. Jesus revela o homem ao homem; nEle contemplamos a estatura do homem perfeito (cf. Ef.4,13). Pela Encarnação, o Filho feito homem nos revela como o Pai nos considera; compreendemos nossa dignidade: somos filhos de Deus. Jesus, o Filho que se fez homem, é filho por excelência, pois tem a mesma natureza divina de Deus Pai. Nós, unidos ao filho Jesus, somos filhos assumidos, adotados por Deus Pai (cf. Ef.1,5). Não temos natureza divina, mas somos criados por Deus, por Ele queridos e amados. Eis nossa dignidade; ela é comum a todo ser humano. Ao assumir a condição humana, o Filho elevou-a, associando-a à Sua divindade. A partir da Encarnação do Filho, nossa humanidade está irreversivelmente unida a Deus. Nossa natureza humana, afastada de Deus devido ao nosso pecado, em Jesus foi resgatada e unida a Deus de maneira definitiva e eterna. O Filho encarnado e glorificado leva consigo nossa humanidade ao seio da Trindade.

Agir como Jesus

O agir do Filho é referência a orientar o agir do cristão e inspira todo homem. Ao contemplarmos a maneira de Jesus agir, intuímos como o cristão é chamado a viver. “Ao discípulo basta ser como o Mestre” (Mt.10,25). Quem é discípulo de Jesus, aprende do Mestre e Senhor e, por opção, coloca-se junto aos mais pobres; assume uma atitude de serviço; não se serve das pessoas nem busca tirar vantagens das situações; em tudo, move-se por amor. É isso que confere pleno sentido à vida humana. O verdadeiro discípulo não busca os próprios interesses, mas dedica-se pelo bem e a felicidade dos outros. Diante das necessidades concretas dos semelhantes, o discípulo de Jesus tudo faz para que os menosprezados recuperem a integridade do ser, a saúde, o que precisam para viver, a dignidade. O discípulo de Cristo dispõe-se a perdoar, a ser verdadeiro, justo, bom. Inspirando-se no agir de Jesus, o cristão é aquele que não só se comove com a situação do outro, mas se compromete ajudando-o a superar o que o aflige; perdoando e corrigindo quem errou, revelando a verdade e  indicando o caminho a quem se encontra desorientado; suscitando esperança de vida a quem caminha sem perspectiva. Diante das necessidades concretas das pessoas, o cristão não pode se contentar em rezar; pode e deve rezar, mas deve fazer-se, concretamente, solidário e comprometido em ajudar o irmão que sofre. A espiritualidade do cristão deve ser encarnada e inspirada no agir de Cristo; por isso levamos seu nome. Fazer a vontade do Pai e dar a vida pelos irmãos é o que nos caracteriza e nos distingue como cristãos. “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo.13,35).

Participar do destino de Jesus

Tendo assumido a condição humana, Jesus também revela nosso destino divino. Quem nesta vida verdadeiramente segue a Jesus é destinado a estar com Ele na eternidade. “Pai, quero que lá onde eu estou estejam comigo aqueles que me destes” (Jo.17,24). O caminho de Jesus implica na entrega de si, passa pela cruz, mas também conduz à ressurreição e à vida em comunhão com Ele, na eternidade. O Filho que assumiu nossa condição humana, ao ser exaltado na glória, elevou consigo nossa humanidade e, na esperança, já nos fez participantes de sua glória. Os que caminham com Jesus, demonstrando que O amam, observam sua Palavra, participam de sua vida e herdarão o que Ele promete (cf. ICor.2,9). Jesus abre a todos o acesso à vida eterna e à comunhão com a Trindade. Por isso dizemos que ao assumir nossa condição humana ele nos elevou a participar de sua condição divina. Celebrar o nascimento de nosso Senhor encerra contemplar e participar de todo mistério da vida de Cristo. A isso todo ser humano é chamado. A todos, desejo feliz e santo Natal!

Dom Wilson Angotti
Bispo Diocesano de Taubaté

 

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