QUINQUAGÉSIMA PASCAL: COMO IGREJA, CAMINHAMOS COM O RESSUSCITADO

Após percorrermos o período quaresmal, vivenciando sua índole batismal e penitencial, chegamos ao Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor, como o ápice do ano litúrgico.

Transcorridos esses dias, abre-se a nós, um novo percurso, o Tempo Pascal ou a quinquagésima pascal, cinquenta dias, em que movidos pelo Espírito Santo, caminhamos com o Ressuscitado.

O ano litúrgico, como pedagogia de formação cristã, traz em sua essência a consciência de celebrarmos a obra da salvação através da entrega total de Jesus Cristo no alto da Cruz.

É importante, como participantes da ação litúrgica, observarmos como nos envolvemos em cada momento celebrativo, acolhendo a força sacramental das palavras ditas por quem preside, pela Palavra proclamada, pelos sinais santificados e distribuídos e entregues a nós. Do mesmo modo, mergulhar na espiritualidade de cada tempo litúrgico é abastecer-se e alcançar uma renovação espiritual.

O caminho do Tempo Pascal é de fato uma experiência de Ressurreição, quando à luz da Palavra de Deus, acompanhando os Atos dos Apóstolos (primeira leitura dos domingos pascais), vemos a ação do Espírito Santo, que age na comunidade e comunica os sinais de vida, a força do testemunho, a superação das perseguições, os castigos sofridos, mas acima de tudo, a alegria que contagia e sustenta.

A riqueza da Palavra de Deus se expressa ainda, pela proposta vinda da narrativa do evangelho, onde a cada domingo, passamos pelas aparições do Ressuscitado e depois, de modo particular, a partir do quarto domingo, as manifestações do “Eu sou” de Jesus.

De acordo com Matias Augé, o tempo pascal possui quatro dimensões: “cristológica, pneumatológica, eclesial-sacramental e escatológica”.

Traduzindo de forma mais simples, podemos pensar, o tempo do Cordeiro, do Espírito Santo, da Igreja e da Plenitude. De fato, quando percorrermos as orações das celebrações, os prefácios pascais e os textos bíblicos, esses elementos são perceptíveis.

Assim, viver o Tempo Pascal, como uma dimensão cristológica é recordar o sentido do Cordeiro Pascal. A consciência da entrega total e plena que Jesus realiza, tornando-se a oferta e o ofertante. “A Páscoa é a celebração total de nossa redenção. Em primeiro lugar, contudo, ela é comemorativa da paixão vitoriosa de Cristo e tem como ponto de referência a tipologia da imolação do Cordeiro Pascal (cf. Êxodo 12)” (Augé, 2019).

Já como tempo do Espírito Santo, a quinquagésima pascal, nos remete a consciência da ação que ressuscita Cristo e que fecunda a comunidade da nova aliança até então fechada e tomada pelo medo e pela insegurança. “Cristo, ressuscitado por obra do Espírito, torna-se fonte do Espírito. O dom do Espírito é a meta para a qual tendia todo o acontecimento terreno de Jesus. A sua vida-morte-ressurreição eram finalizados principalmente para este fim. Pois é somente com o dom do Espírito Santo que é radicalmente superado no ser humano o regime da carne e se instaura o regime novo do Espírito (Romanos 7,5-6), no qual se torna possível caminhar para uma vida nova (Romanos 6,4)”. (Augé, 2019).

Fecundada pelo Espírito Santo, a Comunidade Apostólica, expressão da Comunidade da Nova Aliança, rompe as barreiras e sai para anunciar o Ressuscitado e testemunhá-lo com os sinais de vida. “A Páscoa é a festa da Igreja, novo povo de Deus (cf. Êxodo 19,5-6). Todo o mistério da Igreja tem sua origem na Páscoa e encontra nela a sua força”. É muito significativo perceber claramente a ação divina que coloca a Igreja em movimento e em missão, principalmente para proclamar a misericórdia. Seremos identificados como filhos e filhas da Ressurreição na medida em que a misericórdia estiver presente em nossas palavras e atitudes. Testemunha de Cristo, é aquela pessoa na qual deixa transparecer a vida com atitudes e gestos que de fato, ressuscitou.

Por fim, o tempo pascal, é o momento do anúncio da plenitude, ou da dimensão escatológica. Nossa meta é o céu. Cristo realiza a obra da salvação para resgatar a dignidade humana e colocá-la novamente em relação com o Criador. “A Páscoa é antecipação da vida nova e espera da realização definitiva em Cristo”. Viver com este olhar para o alto, para a plenitude da vida, e a qual já nos alimentamos em cada Eucaristia que participamos.

Que estes cinquentas dias, ajudem-nos a viver com intensidade a força da Ressurreição no intimo do nosso coração.

Pe. Kleber Rodrigues da Silva

 

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