Entrevista: Pe. Fábio Modesto – um pároco e sua vivência pastoral

Nesta edição, conversamos com o Pe. Fábio Modesto, 42, pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo e assessor diocesano da Catequese. Pe. Fábio fala sobre a comemoração dos 30 anos de criação da paróquia, dos desafios pastorais e também sobre a criação do ministério de catequista.

O LÁBARO: Em dezembro, a Paróquia de São Pedro Apóstolo completou 30 anos de criação. Como foi celebrar esse momento?

Pe. Fábio: Desde sua instalação a paróquia celebra este momento no 3º domingo do advento (gaudete). Isto foi pensado pelos responsáveis, à época, para que o Pároco não se ausentasse do mutirão de confissões da Forania. Então, desde que cheguei, me acostumei que as missas em intenção ao aniversário da paróquia não se faziam no dia 15/12, e sim, no domingo da alegria. Este ano não foi diferente, principalmente por causa do momento de cautela que ainda vivemos: celebramos solenemente, pedimos que o povo colocasse em suas orações pessoais a intenção especial de nossa paróquia, mas sem nenhuma aglomeração ou festa presencial.

O LÁBARO: Para o senhor, qual o significado de celebrar esse momento com os paroquianos e como sintetizaria esses 30 anos de história? 

Pe. Fábio: A história da Paróquia de São Pedro Apóstolo é muito densa e repleta de significado, pois ela é composta por muitas outras histórias. O nascimento e crescimento do bairro, o surgimento das escolas, a criação de uma associação de moradores… tudo aconteceu à sombra da Igreja de São Pedro. As famílias que deram origem a ela já estão na 3ª ou 4ª geração e continuam amando e se dedicando a este projeto. Celebrar o 30º ano da paróquia é celebrar muitas histórias e muitas raízes, que firmaram nosso povo e nossa comunidade, é a prova de que o Reino de Deus transforma as pessoas e as realidades que ele toca.

O LÁBARO: Quais desafios e realizações o senhor destacaria nesse tempo em que está à frente da paróquia?

Pe. Fábio: Desde que cheguei, aprendi a amar a Paróquia com o mesmo amor que o povo dedica a ela. Sempre fui uma pessoa exigente e sistemática e me deparei com uma comunidade viva, ativa, cheia de projetos e capacidade de realização, o que me fez ser mais exigente do que já era, sempre repetindo: “só lhes cobro o que sei que vocês podem dar e se esperam o melhor é necessário se dedicar ao máximo!”. O desafio para a comunidade foi se acostumar com a diferença de carisma entre mim e o Padre Hugo. Ele, muito mais paternal, social e flexível e eu o oposto. Contudo, o tempo é senhor de todas as coisas e permitiu ao povo e a mim fazer uma bela parceria pelo bem da paróquia. A partir de então os desafios financeiros, administrativos, pastorais que enfrentamos sempre foram vistos como parte do processo, e as conquistas obtidas no enfrentamento desses desafios, consequências inevitáveis de nossa dedicação conjunta.

O LÁBARO: Já há bastante tempo o senhor tem assumido a missão de assessorar a Catequese na Diocese de Taubaté. O que lhe encanta nesse trabalho e quais os desafios?

Pe. Fábio: Sou assessor da catequese desde seminarista. Este trabalho me proporcionou experiências ímpares e a aquisição de um conhecimento sobre catequese que só o contato com os catequistas, personagens principais desta grande missão/dimensão da Igreja, poderia proporcionar. Vi os documentos catequéticos nascerem, estive nas semanas brasileiras de catequese, participei da discussão sobre a elaboração do diretório nacional, sempre bebendo do conhecimento nascido da prática catequética de nossos agentes, ricos em amor pela Igreja, dedicados ao seguimento de Jesus, apaixonados pela transmissão da fé. Sempre coloquei como meu principal desafio proporcionar aos catequistas o mesmo que me proporcionaram, fazê-los entender que teoria e prática são vias de mão dupla, que embelezam o Reino. Para tanto, a partir de suas práticas, busco valorizar o que já são, propondo que se tornem cada vez mais: conhecedores das verdades do Reino, discípulos do mestre, missionários da caridade.

O LÁBARO: Com o Motu Próprio Antiquum Ministerium, o Papa Francisco instituiu em 2021 o Ministério de Catequista. Qual a importância dessa iniciativa para a Igreja?

Pe. Fábio: O ministério de catequista é um sonho antigo e uma discussão recorrente no âmbito da catequese. O Diretório Geral para a Catequese, de 1997, fez uma breve menção a um ministério de catequista, abrindo o debate sobre o tema. No Diretório Nacional, em 2005, ele apareceu como uma resposta à empolgação dos catequistas com a ideia de elevar o serviço catequético ao status de ministério e, na tentativa de efetivá-lo, foi lançado o estudo 95 (ministério do catequista) pela CNBB em 2008. Contudo, nada disso bastou para transformar o ministério em uma realidade. Com o motu próprio o Papa Francisco concretizou o antigo sonho, dando reconhecimento a esse tão antigo trabalho da Igreja, apontando para a importância e seriedade com que deve ser tratado na comunidade eclesial.

O LÁBARO: O que muda na Pastoral Catequética com essa iniciativa?

Pe. Fábio: A idéia não é promover mudanças, mas reconhecimento. Observando a boa prática catequética, é possível identificar catequistas que desempenham seu papel com a grandeza e a dignidade de verdadeiros ministros, buscam conhecimento e se aprimoram em metodologia, e a estes reconheceremos como ministros da catequese. Fica cada vez mais claro, no entanto, a atenção que toda Igreja deve ter com a escolha e a formação dos catequistas e quão impensável seria alguém despreparado exercendo tão importante função.

O LÁBARO: Como vai acontecer a instituição desse ministério na Diocese de Taubaté?

Pe. Fábio: A pedido de Dom Wilson, estamos elaborando o Diretório Diocesano de Catequese. Durante esse processo, o Papa Francisco lançou o motu próprio “antiquuum ministerium”, então, à luz dele e dos “critérios e itinerários” da CNBB, acrescentaremos às nossas diretrizes diocesanas os caminhos para a instituição dos ministros catequistas. Contundo, é importante saber que a formação é uma condição que sempre existiu para que alguém desenvolvesse o trabalho catequético, de modo que não serão criadas estruturas e burocracias novas. O ministério será a coroação do belo trabalho de muitos e o objetivo a ser atingido por aqueles que ingressarão no processo, cientes de seu compromisso com a formação e a perseverança na catequese.

O LÁBARO: Como a catequese tem lidado com os limites impostos pela pandemia e quais as perspectivas para este ano?

Pe. Fábio: O ano de 2020 nos surpreendeu e deixou-nos sem reação. Esperávamos voltar ao normal em 2021, mas com a proximidade do fim do ano começamos a ver que não seria possível. Dom Wilson liderou um projeto de catequese mista que vigorou ano passado. O modelo era híbrido (parte presencial e parte à distância), sendo que os encontros presenciais deviam ser realizados pelos padres e os à distância desenvolvidos pelos pais ou responsáveis. Foram dois encontros mensais: 1 na Igreja, outro em família. Os roteiros dos presenciais foram elaborados por uma equipe de padres escolhida pelo bispo e os temas e roteiros à distância propostos pela equipe diocesana. Para este ano a expectativa é que a catequese volte ao normal com 100% dos encontros presenciais.

Por Pe. Jaime Lemes

×