Ser presença de Jesus Misericordioso junto aos encarcerados é o que os agentes da Pastoral Carcerária fazem todas as semanas. Celebrando a Eucaristia, dando instrução catequética ou simplesmente ouvindo as suas partilhas de vida, a Pastoral Carcerária realiza um importante trabalho de evangelização na Diocese de Taubaté. Atualmente, sete unidades prisionais são atendidas regularmente. Fabrício Augusto Simões Martins, 47, coordenador da Pastoral na diocese e no Sub-Regional de Aparecida, explica, nesta entrevista, como é o trabalho realizado pela Pastoral Carcerária e fala sobre os desafios enfrentados.
O LÁBARO: Fale um pouco de sua participação dentro da Igreja e sobre como conheceu a Pastoral Carcerária?
Fabrício: Pertenço à Paróquia Mãe da Igreja, em Taubaté, e sirvo como Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística na Comunidade Menino Jesus de Praga. Estou há oito anos na Pastoral Carcerária, há cinco anos na coordenação desta Pastoral na Diocese de Taubaté e há três na coordenação no Sub Regional de Aparecida. Em torno de há nove anos estava servindo ao MESCE na Capelania Militar Nossa Senhora de Loreto, no Cavex de Taubaté. Foi quando então fui convidado a conhecer a Pastoral Carcerária na diocese de Taubaté. Me chamou à atenção o desafio da Pastoral Carcerária em ser presença de Deus, que é amor e misericórdia, para todos os irmãos encarcerados, motivados pelo versículo bíblico: “Estive preso e viste me visitar” (Mt 25,36).
O LÁBARO: O que é a Pastoral Carcerária e como é a atuação na Diocese de Taubaté?
Fabrício: A Pastoral Carcerária é uma pastoral da Igreja Católica que tem como missão ser presença de Cristo e de sua Igreja no mundo dos cárceres, desenvolvendo, assim, os trabalhos que essa presença exige junto com os irmão e irmãs dentro dos cárceres, bem como os seus familiares. O estar junto com os irmãos e irmãs privados de sua liberdade nos faz apreciar sua forma particular de viver a Fé e, iluminados pela luz do Evangelho, conseguimos enxergar sua dignidade e valor sagrado aos olhos de Cristo, pobre e excluído com eles. Nosso objetivo é evangelizar e promover a dignidade humana, na busca constante de um mundo sem cárceres, conscientizando a sociedade para a difícil situação do sistema prisional, em vista da redução da população carcerária para, assim, buscamos superar por meio de uma justiça restaurativa, promover a inclusão social e motivar a criação de políticas que zelem pelo respeito dos direitos humanos. Buscamos, como batizados, tocar na carne de Cristo presente no irmão necessitado, acolhendo-o para que tenha “vida em abundância” (cf. Jo 10,10).
O LÁBARO: Quais os maiores desafios que a Pastoral Carcerária enfrenta na realização de seu trabalho?
Fabrício: Nosso desafio maior é conseguir agentes de pastoral para fazer essa missão acontecer. Em nossa região de Taubaté e Tremembé, temos um núcleo de penitenciárias que conta com: 02 Penitenciárias masculinas; 02 Penitenciárias feminino; 01 Centro de Detenção Provisório masculino; 01 Centro de Progressão Penitenciário masculino e 01 Hospital de Custódia e tratamento psiquiátrico. Temos uma escala de visitas semanais de segunda a sábado. Somos amparados pela Lei e pela resolução SAP- 151, de 26/12/2018, que garante o direito da Igreja prestar assistência religiosa e humanitária. O perfil para estar junto à Pastoral Carcerária é ser batizado na Igreja Católica e ter vida ativa na Igreja.
O LÁBARO: Em 1997, a Campanha da Fraternidade abordou esse tema, refletindo sobre a situação dos encarcerados no Brasil. Hoje, como você vê essa realidade? O que precisa melhorar no sistema prisional e qual a importância da presença da Igreja Católica nos presídios?
Fabrício: A Campanha da Fraternidade de 1997, com o tema “Fraternidade e os encarcerados” e o lema “Cristo liberta de toda as prisões”, despertou a sensibilidade e a solidariedade dos cristãos, e de todos homens e mulheres de boa vontade, para com as vítimas e para com os encarcerados, ajudando-os a perceber a realidade carcerária do Brasil e se comprometerem nas mudanças necessárias; ajudar presos e presas a se tornarem sujeitos ativos no seu processo de conversão e de reinserção na sociedade. Neste sentido, a fraternidade, iluminada pela caridade que vem de Deus (1Jo4,7), anima-nos a colaborar com o divino propósito de unir o que está dividido de reconduzir o que extraviou, e de estabelecer a divina concórdia em toda criação. Pelo meu tempo de convivência nas penitenciárias de nossa Região do Vale do Paraíba, o sistema é bem receptivo à Igreja; os diretores responsáveis contam muito com os trabalhos prestados, e de mesmo modo vejo os diretores das unidades sendo prestativos. A Pastoral Carcerária tem um significado muito importante na vida destes irmãos e irmãs encarcerados, sendo de respeito e amor. Somos bem acolhidos e recebendo gestos de gratidão. Através de nossas palavras direcionadas ao ensinamento de Deus e também o grande dispor da escuta de ouvir os seus sentimentos e atos sem julgamentos. Sabemos que para muitos faltou projeto de vida, amor e união familiar.
O LÁBARO: Ainda há muito preconceito em relação à pessoa do preso. E quem já cumpriu a pena, carrega por muito tempo o estigma do crime cometido. O recomeço da vida na sociedade pode ser um duro caminho. Como vencer o preconceito? Que ações a Igreja, através da Pastoral, realiza ou pode realizar nesse sentido?
Fabrício: Infelizmente ainda e sempre haverá preconceitos com o reeducando (preso). Quem já passou pelo sistema prisional fica marcado e não se livra de algumas marcas deixadas em seu psicológico, pelo sistema de órgãos público ou mesmo pela sociedade. O trabalho da Igreja é acompanhar o reeducando no cumprimento de sua pena perante a justiça, para que se arrependa e se reconcilie com Deus. Acompanhamos também as suas famílias, levando o Evangelho do Amor, porque as famílias também sofrem pelos atos cometidos pelo familiar infrator e enfrentam o julgamento da sociedade.
O LÁBARO: Qual o meio para se conhecer melhor o trabalho que a Pastoral Carcerária realiza e como se tornar um agente dessa pastoral?
Fabrício: A Pastoral Carcerária está presente no Brasil e também atua em nível mundial. Para conhecer melhor a Pastoral Carcerária da Igreja Católica e o trabalho que ela realiza, você pode acessar o nosso site: www.carceraria.org.br. Se você quiser saber mais e tiver o desejo de participar, nos procure através do Secretariado de Pastoral, na Cúria Diocesana de Taubaté.
Por Pe. Jaime Lemes