Espiritualidade Eucarística

É essencial compreender que a espiritualidade eucarística não se trata de um devocionalismo feito de práticas como visitas ao sacrário, adoração ao Santíssimo, Missa do Santíssimo, entre outras. De fato, a Eucaristia deve envolver a vida inteira do cristão. Por isso, devemos falar em Vida Eucarística.

Sendo necessária para a espiritualidade cristã, a Vida Eucarística requer, algo mais do que ir até o Santíssimo para adorar. “A espiritualidade eucarística não é apenas participação na Missa e devoção ao Santíssimo Sacramento; mas abraça a vida inteira”, confirmou o Papa Bento XVI na Sacramentum Caritatis (n. 77).  A Eucaristia é o ápice da vida cristã e, ao mesmo tempo, ela é ponto de partida para se viver os princípios da fé na rotina do dia a dia.

Trata-se de vivenciar o grande e profundo sentido da Eucaristia. Em primeiro lugar, a Eucaristia é união com Cristo, que define a santidade de vida. Supõe o discipulado, isto é, o seguimento de Cristo, praticando o que se escutou do Evangelho. É por isso que na celebração Eucarística temos a Liturgia da Palavra. Ela não é apenas uma parte preparatória para o que veria depois como ato principal, a Comunhão. É mesmo parte constitutiva da Missa da qual não se pode simplesmente dispensar.

A Eucaristia é comunhão fraterna. Quando recebemos a Eucaristia não fazemos comunhão com Cristo somente. Estabelecemos mediante ela, um compromisso com os irmãos, buscando viver fraternalmente com o próximo. A Eucaristia é alimento que nos impulsiona para o exercício da caridade.

A Eucaristia nos insere ainda, na comunhão eclesial. Ela deve fazer nascer em nós, um profundo sentimento de pertencimento e de compromisso com a comunidade. Deve fazer brotar naquele que comunga, a disponibilidade para o serviço generoso e para participação ativa na vida e na liturgia da Igreja. Ela é impulso para o ardor missionário conduzindo-nos da Mesa Eucarística para a Missão.

Para que haja uma verdadeira espiritualidade Eucarística é preciso considerar o compromisso ético cristão. É inconcebível uma espiritualidade eucarística dissociada do senso de justiça, da empatia social, da fidelidade aos valores éticos e morais que leva o cristão a promover os valores da vida, da dignidade humana, do respeito a natureza, da civilidade e da cidadania.

O que dizer de uma pessoa que passa uma hora em adoração ao Santíssimo para, em seguida, desconsiderar o sofrimento do irmão? Ou entregar-se a propagar o ódio nas redes sociais, hostilizando quem pensa diferente? Ou compactuar com atitudes grosseiras e preconceituosas de quem insulta os outros?

Finalizo citando palavras de Bento XVI. “É necessário explicitar a relação entre mistério eucarístico e compromisso social”. “O mistério da Eucaristia habilita-nos e impele-nos a um compromisso corajoso nas estruturas deste mundo” (Sacramentum Caritatis, 89 e 91). “Eu não posso ter Cristo só para mim; posso pertencer-lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram e hão de se tornar seus” (Deus caritas est, 14).

Pe. Silvio José Dias

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