Uma das maiores críticas de Jesus aos religiosos de seu tempo era o culto religioso no templo, sem ligação com a vida cotidiana. Outra crítica bastante repetida nos evangelhos, principalmente nos sinóticos, é a observância exacerbada da lei acima da dignidade humana.
Há tempos, temos percebido uma volta a essa tendência. O cristão leigo, muitas vezes, tem separado suas práticas religiosas da vida cotidiana. Participa da Missa e dos demais sacramentos por uma tradição familiar, mas, muitas vezes, sem a consciência do compromisso que deve ser assumido em cada sacramento que recebe.
Essa tendência que temos visto na Igreja é, primeiramente, pela falta de uma experiência com Jesus. A fé sem uma verdadeira experiência de Deus não leva ao compromisso, ao passo que a experiência com Deus leva ao serviço ao próximo, à igreja e ao mundo.
O próprio Cristo nos exorta a sermos “sal da terra e luz do mundo” (Cf. Mt 5, 13-14) ou, em outras palavras, sermos imitadores de Cristo, em todas as realidades da vida.
O Papa São Paulo VI no documento Evangelli Nuntiandi destaca a importância do cristão leigo na evangelização no mundo: “o mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’ e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam, o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento” (EN 70). Todas essas realidades necessitam ser alcançadas pelos discípulos de Cristo, ou seja, por aqueles que se colocam a serviço do Reino anunciado por Cristo.
O cristão leigo que assume a fé em Jesus e faz uma experiência autêntica, a Ele se configura. Desta forma, busca por meio da vida de oração e pelas obras, se assemelhar cada vez mais ao Senhor que o conduz.
A espiritualidade do seguidor de Cristo não pode ser, portanto, “desencarnada” e nem “alienada”, mas sim comprometida com a causa de Cristo e de Seu Reino.
Temos um elenco de homens e mulheres que souberam assumir o compromisso da fé, e fazer de sua vida e de seu ministério uma verdadeira doação pela causa de Cristo. Entre tantos, cito: Santa Madre Teresa de Calcutá, Santa Irmã Dulce dos pobres, São João Paulo II e São Oscar Romero, canonizados pelo Papa Francisco. Entre os não canonizados, cito: Dom Helder Câmara, Irmã Dorothy Stang, Dom Pedro Casaldáliga.
São exemplos para nós, hoje, de que ser cristão não é “uma decisão ética ou uma grande ideia, mas é o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” conforme afirma o Papa Emérito Bento XVI na introdução da carta Deus caritas est.
Seminarista Bruno Rodrigues – 3º ano de teologia “Configuração”