A presença de José na sagrada família é exigida e justificada em última análise pelo seu relacionamento com Jesus.
A expressão “não a conheceu até que”, nada acrescenta à concepção virginal, já realizada, e nem é apta para indicar o nascimento virginal de Jesus.
A sua inserção explica-se bem, ao invés, se com esta Mateus entendeu colocar em evidência que José não tomou Maria consigo para um matrimônio comum. José, consentiu de estar ao lado de Maria, em obediência à voz de Deus, aceita responsavelmente a paternidade messiânica de Jesus.
O paralelismo entre o anúncio (v.21) e a execução (VV.24-25) exige que a primeira proposição (“tomou consigo a sua esposa”) não fique separada das outras, como se somente esta fosse o objeto do preceito do anjo.
O anjo ordena antes de tudo a José de dar o nome ao menino e somente secundariamente de tomar consigo Maria. Toda a mensagem do anjo é voltada para a prova da messianidade do menino e para a tarefa de pai que José deve assumir em relação a este menino.
O anúncio a Maria e o seu consentimento (Lc 1,26-38) encontram, portanto, um paralelismo adequado e uma resposta oportuna no anúncio a José e no seu consentimento (Mt 1, 18-25), através de descrições que estão em harmonia com as exigências dos destinatários dos dois evangelistas e com suas respectivas finalidades.
A citação da profecia, através de uma rara introdução “Tudo isto aconteceu”, que estará presente ainda uma vez em Mt 26,25 por ocasião da prisão de Jesus e logo depois da ordem da imposição do nome, indica claramente que o sentido atribuído por Mateus à passagem de Isaías não é simplesmente aquele de confirmar a concepção virginal, mas de colocar em realce a messianidade de Jesus.
Se a profecia de Isaías tinha surgido para confirmar a fé de Israel no Senhor, operador da salvação, aqui esta assume o pleno significado enquanto tal salvação está agora presente na sua plenitude. A tríplice insistência do verbo “chamar” (VV. 21.23.25) com um retorno vibração e ainda no v.23, coloca evidentemente o acento sobre o nome do Redentor presente.
José está consciente da sublimidade da missão para qual foi chamado por Deus. Aceitando Jesus como filho, ele se torna o depositário dos destinos do mundo. “Ela dará à luz um filho, ao qual deves dar o nome de Jesus porque é ele que salvará o seu povo dos pecados”. Aquele filho que ele chamará Jesus (v.25) e que Maria (Lc 2,48) e todos reconhecerão como seu filho, “filho de José” (Lc 3, 23; 4,22); “filho do carpinteiro” substituído em alguns códigos com “de José”: Mt 13,55), na realidade reivindica uma origem divina (M 1,18.20; Lc 2,49) e por isso todos o chamarão “Deus conosco” (Mt 1,23).
Na base da família de Nazaré existe uma acolhida recíproca de Maria e José, precedida, porém, pela aceitação por parte de ambos do mistério da concepção virginal de Jesus (Lc 1,38; Mt 1,24). Mateus focaliza expressamente que José “tomou consigo Maria sua esposa” (Mt 1,24): é o Fiat silencioso do esposo, que aceitando Maria consente em aparecer aos olhos do povo como o pai de Jesus, assumindo, porém, a sua responsabilidade como chefe da família segundo os costumes do seu tempo.
A partir daquele momento José realiza a sua vocação na obediência, respeitando com a sua continência conjugal o mistério do qual o menino concebido no seio de Maria é portador (Mt 1, 24-25), depois comportando-se como chefe de família em todos os episódios relatados.
No episódio dos magos, ele se eclipsa diante do “menino com Maria sua mãe” (Mt 2,11), mas o acontecimento se desenrola na casa onde ele é o patrão. Ele toma a iniciativa da fuga para o Egito e da volta do Egito (Mt 2, 14.15.21-23) como responsável pelo “Filho de Deus”.
Prof. Dr. José Pereira da Silva