VISITA AD LIMINA APOSTOLORUM

O que é e o significado que tem – Pretendo, neste artigo, apresentar em que consiste a Visita Ad Limina Apostolorum, expressão latina que significa: “Ao limiar dos apóstolos”. Em Roma, o apóstolo Pedro exerceu sua missão apostólica e como chefe do colégio apostólico, na capital do império, tanto ele como Paulo foram martirizados. Por prescrição do direito eclesiástico, a cada cinco anos, o bispo diocesano deve ir a Roma, sede do apóstolo Pedro e de seus sucessores, para apresentar os trabalhos da Igreja em sua circunscrição, ou seja, no território de sua diocese. Ultimamente, o ritmo das visitas sofreu atraso com a renúncia do Papa Bento XVI e, posteriormente, com a pandemia da Covid. Da última visita já se passara pouco mais de dez anos! A prática de ir ao encontro de Pedro tem sua origem na época apostólica e temos registro disso na carta aos Gálatas, quando Paulo faz referência de ter ido se encontrar com Pedro, por duas vezes, expondo-lhe o que vinha pregando, “para não acontecer que estivesse correndo ou tivesse corrido em vão” (cf. Gl.1,18 e 2,2). Os bispos espalhados pelo mundo, exprimindo a universalidade (ou catolicidade), vão àquele que, reconhecido como sucessor de Pedro, tem a primazia no colégio episcopal e expressa a unidade da Igreja de Jesus Cristo. Essa unidade eclesial se dá na fé, na doutrina, nas orações, nos sacramentos, no governo pastoral. A visita Ad Limina expressa a comunhão episcopal com o sucessor de Pedro e, em sua pessoa, com toda a Igreja espalhada pelo mundo inteiro.

A preparação prévia – A preparação da visita Ad Limina tem início com a elaboração de relatórios informativos que são enviados a Roma, com considerável antecedência. Em nosso caso, enviamos ao final do ano 2020. Esses relatórios referem-se à atividade diocesana, desde a última visita realizada. O relatório consta inicialmente de uma apresentação dos dados da região onde se situa a diocese, a população, o estilo de vida, a economia, a cultura, as práticas religiosas, etc. Apresenta-se a diocese, sua organização pastoral, seus planos de evangelização, seu clero, os institutos de vida consagrada e suas obras, o laicato, os bens históricos e artísticos presentes na diocese. São apresentados mais detidamente os diversos trabalhos pastorais e as obras sociais e caritativas da Igreja e informações econômicas e de gestão da diocese. O relatório é finalizado pelas considerações avaliativas e perspectivas de futuro, que o próprio bispo deve fazer. Em nossa Diocese todo esse trabalho de informação, reunindo dados de 2010 a 2020 foi realizado pelos colaboradores da cúria, por coordenadores e assessores pastorais e por mim, compondo 230 páginas de textos e anexos. Tudo isso é analisado pelos dicastérios (departamentos da cúria romana) e constitui-se como base da visita e das considerações posteriores.

A realização da Visita – Os bispos do Brasil realizam a visita Ad Limina, por grupos, segundo os regionais da CNBB. O regional Sul 1, que compreende o estado de São Paulo, com 42 dioceses, foi dividido em dois grupos. Nosso grupo compreendia as Dioceses da Província Eclesiástica de São Paulo, Aparecida e Sorocaba, composto por 20 Dioceses e 25 Bispos participantes. Compondo o programa da visita Ad Limina os bispos celebram nas quatro basílicas pontifícias; assim, celebramos na basílica de São Pedro, junto ao túmulo do Apóstolo, na basílica de São João de Latrão (catedral do Bispo de Roma), e nas basílicas de Santa Maria Maior e de São Paulo Fora dos Muros, rezando especialmente por nossas Dioceses. Junto aos túmulos de São Pedro e de São Paulo renovamos nossa profissão de fé. Durante os dias da Visita, tivemos reuniões com os seguintes Dicastérios: para os Bispos, para a Doutrina da Fé, para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, para o Clero, para a Educação Católica, para a Evangelização, para a Comunicação e na Secretaria de Estado (que faz relação com os países). Também visitamos o Pontifício Colégio Pio Brasileiro, onde residem os padres que estudam em Roma e tizemos reunião com a direção dessa casa. Muito cordialmente, fomos recebidos para um jantar, na residência do embaixador do Brasil junto à Santa Sé. Em cada um desses dicastérios, um dos bispos ficou incumbido de fazer uma breve apresentação e pontuar os principais assuntos a serem tratados. Em geral o prefeito ou o secretário de cada dicastério dirigia-nos a palavra e, em seguida, abria-se o diálogo em que os bispos, espontaneamente, podiam se manifestar, tratando de questões pertinentes a cada um dos dicastérios visitados. Assim realiza-se uma rica interação: ouvimos assuntos referentes à universalidade da Igreja e partilhamos outros relacionados às nossas igrejas particulares; interação que a todos enriquece.