Ser humano desfruta da natureza
No ritmo de nossa vida temos necessidade de pausas restauradoras. Isso ocorre tanto no período de um dia, de uma semana, de um ano. Dedicamos tempo ao descanso, ao lazer, a recompor nossas energias. Para isso, muitas vezes, buscamos o contato com a natureza, no campo, na montanha ou no litoral, junto ao mar. Esse contato com lugares aprazíveis nos recompõem e nos revigoram física, emocional e psicologicamente. Períodos de férias servem especialmente para isso. Como é agradável desfrutar de um lugar bonito, com água limpa, belas paisagens, vegetação abundante, variedade de pássaros e animais. Ao nos encontrar com a natureza, nos encontramos conosco mesmo, pois somos parte de todo esse universo. Um ambiente bem cuidado, preservado, equilibrado tem o poder de nos encantar, de nos pacificar, de nos descansar e recompor. Isso é um dom e uma constatação maravilhosa: o convívio com o ambiente harmonioso tem reflexos restauradores em nós. Infelizmente, o contrário também é verdadeiro: quando estamos interiormente em desarmonia expressamos isso ao nosso redor: com a desorganização de nosso quarto, de nossa casa, de nosso trabalho, de nosso mundo.
Ser humano ameaça a natureza e é por ela ameaçado
Talvez porque esteja faltando maior equilíbrio interior em nós, nossos ambientes e nosso planeta estejam sendo tão severamente agredidos. Essas agressões ao ambiente e ao planeta acabam se voltando contra nós mesmos, pois somos parte desse mundo, estamos nele situados. Nos últimos séculos a ameaça humana sobre o ambiente e o planeta se intensificou com desmatamentos, poluição do ar, das águas, expansão da área agrícola, produção exagerada de lixo, queimadas, prejuízos à biodiversidade, etc. Sofremos as consequências de nossa ação desordenada sobre o planeta, sentimos a reação da natureza, provocamos mudanças climáticas, constatamos com maior frequência episódios climáticos extremos como secas, enchentes, frio ou calor intensos.
Pesquisas científicas tornam evidente a relação entre agressões ao meio ambiente e o comprometimento da saúde humana. A pesquisadora Nelzair Vianna, da Fiocruz da Bahia, mostra em seus estudos que epidemias e pandemias são consequências dessas agressões e desequilíbrios causados por nós. Doenças como HIV, ebola, dengue, zika, chikunginya e covid 19 são conhecidas como zoonoses, pois eram originalmente patógenos que circulavam silenciosamente em animais. Cientistas estimam que 70% das doenças infecciosas recentes surgem da interação desordenada entre o ser humano e o meio ambiente. Isso se dá, sobretudo, pelo impacto nos ambientes naturais e por inadequada proximidade com animais silvestres. O novo coronavirus, muito provavelmente, tenha se originado de patógenos presentes em morcegos; estes contaminaram outros animais e atingiram o ser humano. Os resultados disso já nos são conhecidos. Outros fatores também concorrem para disseminação de doenças, como: interação exageradamente próxima de aves e pequenos animais de estimação dentro de nossas casas, a densidade populacional, a expansão de terras agrícolas, interferência na vida selvagem, a grande mobilidade humana, etc.
O ser humano pode preservar a natureza
Nossa ação danosa sobre ecossistemas e a natureza como um todo é incontestável; porém nossa capacidade de nos sensibilizar e lutar por causas justas e necessárias é igualmente inegável. A Organização Mundial da Saúde afirmou que proteger a natureza como meio de conter os vírus e outros patógenos em seus nichos é o melhor que podemos fazer para evitar pandemias futuras. Estimativas indicam existir aproximadamente 850 mil vírus habitando em aves e em mamíferos com possibilidade de transmissão para seres humanos. Ações globais de conservação de florestas, da biodiversidade, da vida selvagem, de políticas sobre o uso da terra, entre outras, são absolutamente necessárias e urgentes. Para termos conquistas globais são necessários esforços globais. Neste âmbito, destaca-se a COP ou Conferência das Partes que, por iniciativa da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, reúne anualmente 197 líderes mundiais que aderiram a um tratado para estabilizar a emissão de gases que provocam o efeito estufa, num esforço conjunto de conter o aquecimento do planeta, que tanta devastação pode causar. Porém, cada pessoa, em seu próprio âmbito de vida e atividade, pode ter práticas de sustentabilidade como: preservar e plantar árvores, diminuir o uso de detergente e produtos poluentes, evitar queimadas como meio para limpar terrenos, reduzir a utilização de plástico e de materiais descartáveis, diminuir a produção de lixo e separá-lo adequadamente, economizar água e energia, etc. Políticas globais e atitudes individuais podem fazer a diferença para preservar nosso planeta, único local até hoje conhecido com possibilidade de vida. Vamos preservá-lo para o bem da humanidade e de nossa própria saúde.
Dom Wilson Angotti