SACERDOTES UNGIDOS PELO ESPÍRITO SANTO

À luz de Pentecostes Reunimos o Clero da Diocese de Taubaté, na véspera de Pentecostes, para celebrar a Missa Crismal, que não pôde ser realizada na quinta-feira santa, devido às restrições provocadas pela pandemia da Covid. Distanciada da semana santa e aproximada de Pentecostes essa celebração nos deu oportunidade de evidenciar que os sacerdotes são ungidos pelo Espírito Santo e, assim, consagrados a serviço de Deus e de seu Povo. Ser ungido é ser configurado a Cristo, que significa “Ungido” e, por consequência, participantes de sua missão. Durante a semana santa, ao celebrar a instituição do sacerdócio os padres renovam as promessas sacerdotais na mesma celebração em que são abençoados os óleos dos Catecúmenos, dos Enfermos e consagrado o Santo Crisma. A renovação das promessas sacerdotais e a bênção dos óleos na mesma celebração evidenciam que para o exercício de suas funções os sacerdotes são ungidos para a missão e, no exercício do ministério, utilizam os óleos para a celebração dos sacramentos, que têm em vista a santifi cação do povo de Deus.

Moisés inspira a função sacerdotal

Em nossa celebração, a Palavra de Deus (Êxodo 19), por elementos muito significativos, iluminou nossa reflexão sobre o sacerdócio. Vimos por este texto bíblico que Deus atraiu Moisés para o alto da montanha do Sinai. A montanha é símbolo da proximidade de Deus, lugar do encontro com o Senhor. Ninguém pode colocar-se a serviço do Senhor se antes não se colocar junto do Senhor. O texto diz que Moisés subiu em direção à Deus (v.3). A subida de uma montanha é sempre fatigante, é fruto de esforço e de obstáculos a serem enfrentados. Para encontrar o Senhor, necessariamente, o sacerdote tem que fazer esse caminho. Em proximidade ao Senhor, o sacerdote poderá iluminar a vida do povo e evidenciar a ação de Deus em sua história. Assim Moisés fez lembrando a Israel os feitos de Deus que os libertara da escravidão do Egito e os trouxera sob sua proteção, como que “sobre asas de águia”. Nós não precisamos levar Deus aos outros, Ele se antecipa à nossa ação; Ele já está presente a cada pessoa. Cabenos apenas evidenciar essa presença amorosa, que liberta e estabelece comunhão: “vós sereis meu Povo, eu serei vosso Deus” e ensinar o povo a obedecer a voz do Senhor e a guardar sua Aliança, para que tenha vida. Depois de ter estado na presença de Deus e ter instruído o povo sobre como andar na presença do Senhor, Moisés conduz o povo ao encontro de Deus (v.17). Aqui se evidencia a missão do sacerdote: viver na presença do Senhor, instruir o povo sobre como observar os preceitos do Senhor, interceder a Deus por ele e conduzi-lo à Sua presença. Certamente, esta não é uma tarefa fácil, mas o Espírito Santo, pelo qual fomos ungidos, vem em auxílio de nossa fraqueza e intercede por nós (cf. Rm 8,26).

O agir de Deus nos inspire

Conduzidos pelo Espírito de Deus, como sacerdotes, poderemos nos configurar ao modo de agir de Deus, que encerra: proximidade, compaixão e ternura. Deus se faz próximo de seu povo. Moisés se faz próximo do povo que sofria a escravidão no Egito. Pelo evangelho que ouvimos (Jo.20), percebemos que Jesus ressuscitado se pôs em meio aos discípulos, fazendo-se próximo. Desejou-lhes a paz e, ao mesmo tempo, lhes fez ver as mãos e o lado com as marcas da paixão. Isso significa que a paz daquele que foi chamado a serviço ao povo nunca é desacompanhada de sacrifícios. Segunda característica do agir de Deus é a compaixão. Deus se compadece e escuta os clamores do seu povo escravizado. Moisés, que vivia no palácio real, se compadece de seus irmãos de raça. Jesus se compadece de nós, submetidos aos nossos pecados. A compaixão vai além da proximidade, pois nos faz “padecer com” o outro, assumindo suas dores e ajudando-o a superá-las. A compaixão se visibiliza na caridade. A terceira característica divina é a ternura, ou seja, a maneira afável de agir no trato conosco. Para alguns de nós, a ternura é algo inato, espontâneo, natural; para outros é fruto de (muito) esforço. A ternura do Senhor para conosco se manifesta, sobretudo, no perdão concedido e por nos associar à sua própria missão: “como o Pai me enviou eu também vos envio … recebei o Espírito Santo … a quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados, a quem não os perdoardes eles lhes serão retidos” (cf. Jo.20,23). Jesus é o Ungido do Pai e nós sacerdotes somos ungidos com Ele e participamos da missão de reconciliar e aproximar todos a Deus. Sublime e árdua missão! Que o Espírito Santo nos inspire e nos conduza e nos faça dignos desse dom.

Dom Wilson Angotti

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