Situando o tema
Com esta frase inspirada no livro dos Provérbios (31,26), na quarta-feira de cinzas, iniciamos a Quaresma e, com ela, a Campanha da Fraternidade. A Quaresma é um período em que nos preparamos para celebrar a Páscoa, a fim de termos vida nova com Cristo ressuscitado. Não basta só a conversão pessoal, é preciso também uma conversão comunitária. Nós influenciamos e somos influenciados pela sociedade em que vivemos. Por isso, são necessárias também ações que visem a aperfeiçoar nosso contexto social. Em meio a uma família, comunidade ou sociedade mais saudável, justa, harmoniosa se desenvolverão pessoas mais ajustadas, bondosas e colaborativas. Assim também, pessoas com essas qualidades poderão contribuir com o aperfeiçoamento de famílias, comunidades e sociedades. Para que tenhamos pessoas melhores, faz-se necessário um processo educacional que as aperfeiçoe sempre mais. A educação é base para pessoas e sociedades melhores, mais desenvolvidas e íntegras em todos os sentidos. A educação além de ato humano e também ato divino. A Bíblia é o relato da ação de Deus que educa seu Povo. Jesus é chamado de Mestre, nós somos seus discípulos e com Ele aprendemos. Dada a importância da educação no contexto de nossa vida pessoal e comunitária, esta é a terceira vez que o tema da educação é abordado pela Campanha da Fraternidade. As anteriores foram em 1982 e em 1998. Neste ano, o lema é inspirado no livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pv.31,26). Sabedoria e amor têm sua fonte em Deus. Sabedoria é a arte de bem conduzir a vida e o amor nos leva a tudo fazer pelo bem dos outros.
Objetivos da CF
Mais que tratar de um ou outro aspecto da educação, a intenção da atual Campanha é considerar os fundamentos da educação. O objetivo geral deste ano foi assim formulado: “Promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.” A intenção é estabelecer diálogo com o contexto educacional, de modo a iluminá-lo com os valores cristãos, oferecendo assim nossa contribuição específica para a realidade educacional em nosso País. Apoiados na antropologia cristã, ou seja, na maneira cristã de conceber a pessoa humana, queremos contribuir com o estabelecimento da cultura da paz, que brota do respeito ao outro, da postura solidária que vê o outro como irmão. O humanismo integral que desejamos é o que considera o ser humano na totalidade de seu ser, em suas relações sociais e no ambiente onde nos situamos. A concepção cristã do ser humano além de considerar a complexidade desses aspectos que envolvem nossa condição neste mundo, também tem em conta o destino último de nossa existência que é a eternidade em comunhão com Deus. A educação deve estar em função de tudo isso. A Campanha da Fraternidade deste ano faz eco ao Pacto Educativo Global lançado em outubro de 2020, pelo Papa Francisco, que tem em vista justamente esses objetivos, propostos globalmente, a serem realizados com a contribuição e o empenho dos cristãos.
Como esse tema nos provoca
O tema da educação visa a educação formal, que se dá nas escolas e universidades, envolvendo alunos e professores. A educação formal precisa ir muito além de preparar pessoas para ter êxito num concurso, vestibular ou na profissão. Não se trata simplesmente de técnicas ou aquisição de conhecimentos, mas sobretudo de postura em relação à vida, aos semelhantes e ao mundo. É necessário promover propostas educativas que, enraizadas no Evangelho, promovam a dignidade da pessoa, a experiência de abertura ao transcendente, a cultura do encontro e o cuidado com a casa comum. Neste sentido, sobretudo os professores cristãos, mesmo sem contarem com um horário específico, mas no ensino de suas próprias disciplinas, poderão contribuir com reflexões relevantes que tenham em vista o que aperfeiçoa a educação do ser humano. O tema da educação é responsabilidade também das famílias, a quem cabe sobretudo a educação dos filhos. Na difícil tarefa em formar para os ideais e valores humanos e cristãos as famílias, atualmente, competem com a massiva influência dos meios de comunicação, das mídias sociais, dos amigos, que são substancialmente mais presentes e essencialmente contrastantes com os valores da família. Esse é um grande desafio que não pode ser subestimado. A família que não se organiza e não se empenha a educar com amor e sabedoria está fadada a ver ruir seus ideais mais genuínos, sobretudo como família cristã. Temos que ter consciência de que o ambiente cultural nos é adverso, por isso, educar requer de nós empenho e decisão. No âmbito da comunidade cristã, especial atenção deve ser dada à catequese abrangendo desde as crianças até aos mais idosos. A atitude de Jesus que ensina é frequente no Evangelho e deve ser assumida, com maior empenho, pelos ministros ordenados, religiosos e fiéis leigos. Ensinar e formar na fé é tarefa fundamental da Igreja e deve ser priorizada. Concluo com as palavras do Santo Padre o Papa Francisco, em sua mensagem para a abertura da Campanha da Fraternidade, deste ano: “Desejo de todo o coração que a escolha do tema ‘Fraternidade e Educação’ torne-se causa de grande esperança em cada comunidade eclesial e de efetiva renovação nas escolas e universidades católicas, a fim de que, tendo a Cristo como modelo de seu projeto pedagógico, transmitam sabedoria educando com amor, tornando-se assim modelos desta formação integral para as demais instituições educativas.”
Dom Wilson Angotti