Nos últimos tempos, tem sido cada vez mais comum a busca dos fieis por orientação espiritual. Seja quando eles vêm para se confessar, seja quando vêm com um pedido específico pelo acompanhamento espiritual, o fato é que buscam. Em nosso contexto eclesial, o pedido é dirigido quase que exclusivamente aos sacerdotes, embora o serviço da orientação espiritual na Igreja também possa ser exercido por diáconos, religiosos e leigos preparados para isso.
Tal busca, que não era tão comum há alguns anos, certamente é um bom sinal. Mesmo que a duras penas, tem-se notado, positivamente, efetivo crescimento dos fieis que sentem a necessidade de responder a inquietações interiores e, para isso, são encorajados a buscar a ajuda da orientação espiritual.
Entretanto, é preciso considerar o que, de fato, a pessoa deve buscar na orientação espiritual. Não é raro acontecer que, sendo encorajada a tal busca, sobretudo, ao ouvir sugestões de padres que desenvolvem apostolado na Internet, a pessoa vá ao encontro de um sacerdote de sua confiança mais porque foi incentivada a fazê-lo do que porque saiba realmente o que é ser orientada espiritualmente.
Mais preocupante ainda é quando a pessoa espera do sacerdote respostas prontas e conselhos milagrosos, como se o padre fosse um dispositivo de inteligência artificial, um coaching ou um site de buscas – formatos atualizados das velhas figuras do guru ou do oráculo de diversas experiências religiosas antigas.
A busca por soluções imediatas e repostas rápidas para tudo é algo muito comum em nossos tempos. Ansiosos que estamos todos, queremos que alguém nos dê a solução rápida para os nossos problemas e, se isso tiver o peso de religião ou espiritualidade, quanto melhor, pois se torna uma solução autorizada.
Contudo, a orientação espiritual na vida cristã é bem outra coisa. Sendo uma realidade que se verifica na vida da Igreja desde os seus primeiros tempos e tendo se desenvolvido a aprimorado ao longo da história, a orientação espiritual para o cristão é algo intimamente ligado à própria experiência de fé. Crer em Jesus Cristo, lembrava-nos o Papa Bento XVI, não é aderir a uma ideia ou causa, mas sim entrar numa relação com uma pessoa viva.
Daí se depreende que a relação com Deus é pessoal porque o próprio Deus, que é pessoa, é que busca o ser humano para com ele se relacionar, revelando-lhe seu desígnio salvífico. Logo, em Jesus Cristo, Deus feito homem para a salvação do homem, estabeleceu-se a relação de amizade entre o ser humano e Deus. Essa relação nasce de um encontro pessoal com Jesus e, pela fé, se mantêm pelo cultivo desse encontro que, por mudar totalmente a vida do ser humano, se torna determinante para a pessoa humana.
Então, ser orientado ou acompanhado espiritualmente em sua relação com Deus por outra pessoa mostra-se importante e necessário para um cristão não somente pela necessidade de aprimorar e aprofundar tal relação, como também porque há realidades que só podemos enxergar bem quando o outro nos ajuda a percebê-las. Ser orientado é uma necessidade para qualquer ser humano, ainda que o discurso da autossuficiência pretenda o contrário.
A função da orientação espiritual é auxiliar a pessoa a perceber sua relação com Deus e a crescer nessa relação, identificando a marcas que Deus imprime em sua vida e história. Quem busca orientação espiritual, ao invés de desejar respostas prontas, precisa dispor-se a ouvir perguntas de quem o orienta. Isso precisa acontecer com o intuito de favorecer a relação da pessoa com Deus.
No fim das contas, a resposta ansiosamente buscada, muitas vezes, já pode estar no coração da própria pessoa, visto que a relação de cada qual com Deus é íntima e pessoal. Por isso, o papel do orientador espiritual é o de ajudar a pessoa orientada a prestar atenção àquilo que Deus dela deseja, a fim de que possa responder ao Senhor, viver uma intimidade pessoal com Ele na oração e assumir as consequências de tal relação em sua vida prática.
A orientação espiritual deve ser um aprendizado de discernimento para o cristão. É fundamental, então, que a pessoa se abra ao orientador espiritual, estabelecendo com ele uma relação de confiança. Assim auxiliada, a pessoa poderá crescer no seu relacionamento com Deus e na amizade com Ele, aprendendo a ouvi-Lo, a discernir seus apelos feitos ao coração e à consciência e a colocá-los em prática. Tudo isso é muito mais sério e desafiador do que querer respostas prontas… Ao contrário, é dispor-se a um caminho de crescimento interior fundado na oração e construído na autonomia que caracteriza a liberdade dos filhos de Deus, para a qual Cristo nos libertou.
Pe. Celso Luiz Longo