METAS E PLANILHAS

Planejar, projetar e avaliar. Uma meta alcançada, outra é colocada em pauta. Planilhas são preenchidas, quadradinhos são assinalados. O passado é avaliado, o futuro planejado. Assim, o tempo presente é gasto com o que já foi e com aquilo que se deseja fazer. Tudo deve estar sob controle. Medido, planilhado, previsto, quantificado… Pessoas, instrumentos, dias e horas, eventos e locais, tudo se transforma em números ou itens ocupando um quadrinho numa planilha.  Não há tempo para celebrar, festejar, não são ditas palavras para agradecer como se deve, não se usam valores a altura para retribuir, nem dividendos para prestigiar quem mais se sacrificou perseguindo a meta almejada.

A vida vai sendo atropelada por necessidades inventadas, urgências desimportantes ditadas por gente distante do chão. Ler, comer, dormir, ouvir música, passear, conversar com os amigos, estar com a família, celebrar… tudo vai sendo atropelado por coisas que vão ocupando todos os pequenos e grandes espaços da nossa existência. Não sobra tempo para viver o presente e desfrutar das próprias conquistas.

Ter objetivos e metas é sim importante. Ter sonhos e ideias são coisas positivas reconhecidas por todos da sociedade. Pois sem elas nada será construído ou melhorado, uma missão não se cumprirá, uma vocação não se realizará. Mas se todo esforço se resumir em apenas fazer algo, alcançar meta e sentir-se capaz disso, que espaço sobra para ser feliz, para celebrar, para comemorar, para apreciar. Sempre haverá ainda algo para se fazer.

Pensemos aqui, se tudo o que importa é estabelecer meta, alcançá-la, propor nova meta pois é preciso crescer sempre, não parar nunca… que tempo sobra para viver? A vida se resume em correria ofegante atrás de metas? O que dizer de certas propostas espirituais ou pastorais, carregadas de afazeres, de objetivos a serem alcançados, de planejamentos a serem feitos… quando tudo o que realmente importa é estar com o Senhor e amar o próximo. Lembremos de Marta. Sua irmã escolheu a melhor parte.

Sem deixar de pensar o futuro, é preciso viver o presente. Ainda que seja necessário planejar, organizar, planilhar, mais importante será olhar para a pessoa, valorizar os agentes, saber agradecer, ter prazer em conviver com irmãos. É preciso festejar e alegrar-se. É preciso saber apreciar momentos e coisas boas da vida que Deus nos concede. É necessário parar e contemplar, como Deus fez na obra da criação. Depois de criar, parou, olhou e “viu que era bom” (Gn 1, 10).

Nisto existe grande sabedoria. Pois “que proveito tira o ser humano de todo o trabalho com o qual se afadiga debaixo de sol?” (Ecl 1,3). Se não tiver sabedoria tudo isso será trabalho em vão.

Pe. Silvio José Dias

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