Todos os anos, durante a Quaresma, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, que, neste ano, chega à sua 60ª edição. Fruto de reflexão acerca da Doutrina Social da Igreja, a CF é uma proposta prática de aplicação dos ensinamentos de Jesus, especialmente no Tempo Quaresmal, que nos convoca a todos a uma verdadeira conversão. Com o tema “Fraternidade e amizade social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, a CF nos aponta o caminho para construir um mundo mais fraterno e solidário, expressão concreta da realização do Reino de Deus. Nesta edição, entrevistamos o Pe. Marciano Inácio, assessor diocesano da Campanha da Fraternidade, que explica o sentido da CF e como ela pode ser realizada.
O LÁBARO: Há 60 anos, a Igreja no Brasil, durante a Quaresma, realiza a Campanha da Fraternidade (CF). Qual a importância da CF e por que realizá-la nesse tempo litúrgico?
Pe. Marciano: A Campanha da Fraternidade é uma campanha quaresmal que une as exigências da conversão, da oração, do jejum e da esmola, na linha de uma questão humana e social. Ela convoca os cristãos à participação nos sofrimentos de Cristo como auxílio aos pobres e excluídos. No entanto, a quaresma é um momento oportuno para a conversão exigida por Jesus: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). “A penitência do Tempo Quaresmal é também externa e social. Sua prática acontece de acordo com as possibilidades de nosso tempo, as realidades de cada região e as condições dos fiéis” (SC, n. 110). A
Campanha da Fraternidade nos propõe realizar ações que testemunhem o arrependimento e a conversão pessoal, comunitária, eclesial e social. Ela dá à Quaresma o tom, ao mostrar o que o pecado pode fazer quando não o enfrentamos. Por isso, devemos vivê-la em espírito de conversão integral.
O LÁBARO: O tema da CF deste ano é “Fraternidade e Amizade Social”. De onde vem a inspiração do tema e qual é a proposta de reflexão?
Pe. Marciano: Em 2020, o Papa Francisco lançou a Fratelli Tutti, que é uma carta encíclica, onde mostra a fraternidade, baseado na amizade social e no amor político. Nessa Carta Encíclica, o Papa Francisco anunciou uma proposta de responsabilidade coletiva que nos leva à fraternidade e à amizade social. A Igreja católica, no Brasil, leva essa reflexão adiante como uma ação evangelizadora e uma expressão Pastoral de conjunto. A Campanha da Fraternidade deste ano traz consigo o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço, nos interpela à comunhão e à solidariedade, a fim de entendermos que somos “todos irmãos e irmãs” (Mt 28,8). Nos leva a um “DESPERTAR para o valor e beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos”, como nos diz o objetivo geral da CF.
O LÁBARO: Há pessoas e grupos da própria Igreja que criticam a Campanha da Fraternidade, dizendo que ela é expressão de ativismo político e desvirtuamento da doutrina católica. Essas críticas têm algum fundamento ou se trata de falta de conhecimento do que é a proposta da Igreja?
Pe. Marciano: Infelizmente temos muitas pessoas e grupos que criticam sem antes mesmo conhecer ou estudar o texto base da CF. Porém essa diversidade não pode nos impedir de viver o novo mandamento de Jesus e amar e rezar pelos nossos inimigos. O amor é fundamental e o critério para guiar nossas escolhas e nossos relacionamentos. Desde o início, nunca faltou à CF essa preocupação para que os cristãos retornem ao coração do Evangelho. Enfim, “o amor social se traduz em atos de caridade que criam instituições sadias e estruturas solidárias onde o próximo não esteja na miséria e isso significa ‘amor político’. A política é o mais alto grau da caridade, afinal dar de comer a um desempregado é expressão de amor, mas assegurar o direito de trabalho a muitos, pela ação política, é expressão intensa de amor que emancipa e dignifica. Para isso, é importante a cultura do diálogo, da reconciliação e da paz.
O LÁBARO: Como realizar a Campanha da Fraternidade em verdadeira sintonia com o espírito quaresmal?
Pe. Marciano: É preciso nos colocar no caminho de conversão, viver bem a quaresma e a participação nos sofrimentos de Cristo, como auxílio aos pobres e mais necessitados, pois também são nossos irmãos. Enfim, buscar anunciar o evangelho e fazer a experiência do amor de Cristo.
O LÁBARO: Na prática, que ações as paróquias podem realizar para alcançar os objetivos da CF-2024?
Pe. Marciano: O texto base da Campanha da Fraternidade nos traz algumas ações a serem feitas, que se baseiam no alargar as tendas e nos tirar de nós mesmos e ser uma “Igreja em Saída”. Num âmbito pessoal, Comunitário e Social. Trata-se do acolhimento, valorizar a dignidade do meu irmão, viver o Evangelho, reagir como o bom samaritano, olhar cada pessoa com amor, promover a cultura do encontro, dialogar sempre, favorecer centros de escuta, lutar pela igualmente de oportunidade para todos, educar para o bom uso das redes sociais, como espaço de partilha fraterna e amorosa, entre tantas outras ações que a CF 2024 nos propõe.
O LÁBARO: No Domingo de Ramos é realizada a Coleta Nacional da Solidariedade. Qual o sentido dessa coleta e como é feita a sua destinação?
Pe. Marciano: A coleta Nacional da Solidariedade gera o fundo Diocesano e o fundo Nacional de Solidariedade que, com todos os seus recursos, socorre centenas de projetos sociais por todo o Brasil, especialmente aqueles ligados ao tema da Campanha da Fraternidade. A Diocese de Taubaté encaminha às instituições e obras de caridade de nossa Diocese, como por exemplo: a casa de idosos, aos que assistem os moradores de rua etc.