Situada em Campos do Jordão, sob a coordenação das Irmãs Mercedárias da Caridade, a Associação Nossa Senhora das Mercês, é uma casa de acolhida e cuidado de pessoas idosas. Atualmente, são quase 70. A maioria depende de cuidados especiais. Nesta entrevista, a Ir. Isaura Raimunda de Lima, 69, superiora da comunidade, conta como é realizado o trabalho e sobre os desafios que enfrentam para se manterem.
O LÁBARO: Fale um pouco sobre a história da Congregação, o carisma e desde quando atua em Campos do Jordão.
Ir. Isaura: Nós, Irmãs Mercedárias da caridade estamos em Campos do Jordão desde o ano de 1934, exercendo nossa missão na Fundação Sanatório Santa Cruz. O Sanatório Nossa Senhora das Mercês (hoje, Associação Nossa Senhora das Mercês) foi fundado pela mesma Congregação de Irmãs Mercedárias da Caridade na Cidade e Comarca de Campos do Jordão, Estado de São Paulo, no dia 9 de dezembro de 1940. Nossa missão desde o início era Hospital para cura de pessoas portadora de tuberculose. Nestes anos éramos um grupo de hospitais que cuidava só de tuberculosos vindos de todo Brasil. No início dos anos 1980, os enfermos de tuberculose passam a ter atenção em suas próprias casas e os sanatórios foram destinados para assumir uma nova missão. Neste tempo, em convênio com a Ação Social do Governo do Estado de São Paulo, estes espaços passaram a receber pessoas idosas, vulneráveis, com dificuldades de cuidados próprios e preferencialmente pessoas em situação de rua ou em extrema pobreza familiar. Hoje, o Sanatório Mercês é um asilo, oferecendo abrigo-moradia para pessoas idosas com as características citadas acima.
O LÁBARO: A Associação Nossa Senhora das Mercês realiza um importante trabalho social, que é o de acolhida às pessoas idosas. De que modo é feito esse trabalho, quantas pessoas são atendidas e como ele se mantêm?
Ir. Isaura: No momento, são quase 70 idosos, sendo a maioria com grau de dependência bem acentuada. Destes idosos, um grande número são cadeirantes. São de famílias pobres e sem condições de cuidar de seu parente idoso. Atendemos pedidos de todo o Vale Paraíba e alguns de outras cidades do Estado de São Paulo. Desde o início desta missão com os idosos foi realizado um convênio com o Governo do Estado de São Paulo e, atualmente, dependemos do Serviço Social com a sede em São José dos Campos. Esta obra é mantida com este convênio e com 70% do auxílio dos idosos aposentados. Para a atenção integral destas pessoas, recorremos a doações. Eles recebem cuidados de higiene, de médicos, enfermagem, alimentação e roupas necessárias por causa do frio da cidade.
O LÁBARO: Neste ano, a Associação foi uma das quatro entidades contempladas pela coleta da Campanha da Fraternidade realizada pela Diocese de Taubaté. Qual a importância dessa ajuda e como ela será utilizada?
Ir. Isaura: Toda ajuda neste momento tem sido bem-vinda, pois a situação econômica do Sanatório passa por um momento delicado. Os gastos são maiores que as entradas. Esta ajuda da nossa Diocese, apoiada pela CF 2023, chegou em boa hora. Necessitamos de várias reparações e manutenção na lavanderia, cozinha e refeitório para atender a nossos irmãos. Recebemos, graças a Deus, doações que nos vão ajudando no nosso serviço e missão: alimentos, material de higiene e limpeza. São muito necessárias as doações de fraldas, mesmo assim, precisamos comprar para atender, completar e oferecer conforto para os idosos. A ajuda da nossa Diocese está sendo bem investida para a devida prestação de contas.
O LÁBARO: Quais os maiores desafios na realização desse trabalho social e como eles têm sido superados?
Ir. Isaura: O quadro de profissionais, entre eles os cuidadores, enfermagem e fisioterapeuta, que temos hoje, não é suficiente para atenção integral aos idosos; a assistência de um profissional médico, remunerado devidamente, para uma melhor atenção; realizar a manutenção do imóvel e de todo o maquinário utilizado nos vários setores da casa; investimento em medicamentos não oferecidos pela Rede Pública; o material de higiene é bem oneroso. E o número reduzido de irmãs para coordenar todos os setores, com a escassez de vocações. As doações sempre nos ajudam muito.
O LÁBARO: A Pandemia da Covid-19 foi um tempo muito triste e desafiador de nossa história, atingindo principalmente os mais pobres. Como vocês atravessaram esse momento e que lições ficaram?
Ir. Isaura: No tempo da pandemia, o Sanatório recebeu orientações e atenção da Vigilância Sanitária da Cidade. Recebeu uma ajuda econômica de nossa Congregação através de nosso Governo Geral de Roma e do Governo Público de nossa cidade. Foi possível adquirir todo o material necessário para prevenir e cuidar de todos: Idosos, funcionários e irmãs. Os idosos que tiveram o Covid foram levados e atendidos na Fundação Santa Cruz que oferecia espaços para os isolamentos. Como tomaram todas as medidas de prevenção, o número de contágios não foi alto e não houve óbito por Covid.
O LÁBARO: No ano passado a Fundação Santa Cruz, que é administrada pela Congregação de Irmãs Mercedárias da Caridade, completou 90 anos de existência. Como foi celebrado esse momento e qual o significado desse tempo de trabalho?
Ir. Isaura: A Fundação Santa Cruz tem o seu estatuto independente da Associação Nossa Senhora das Mercês. O que nos une é que somos Mercedárias da Caridade vivendo o mesmo carisma nesta missão com o Rosto de Jesus pobre. A Fundação Santa Cruz é uma missão que nos traz memórias de nossas primeiras irmãs missionárias vindas da Espanha. Foram muitas irmãs que ao longo destes 90 anos deram e dão a vida nesta missão tão importante. Atender com dignidade e muita caridade redentora as pessoas que passaram pela casa e as que hoje estão. Muito lindo celebrar 90 anos de muita Caridade Redentora.
O LÁBARO: Deixe uma mensagem aos nossos leitores.
Ir. Isaura: É muito gratificante dedicar a vida para dar vida às pessoas idosas que chegam até nós. Estar com eles, é oferecer o melhor para dignificar a vida e humanizar essa última etapa da vida dos que estão em nossas casas. Cuidar do idoso na realidade da sociedade de hoje é um clamor. Precisamos olhar com mais ternura e reponsabilidade para estes nossos irmãos e irmãs. O gesto de nossa Diocese foi fruto desse olhar com ternura para as pessoas de nossa casa. Nossa gratidão e muita comunhão na missão.
Pe. Jaime Lemes, msj