Conversão para o serviço à sociedade

“O que mais falta aos homens da Igreja é o Espirito de Cristo, a humildade, o despojamento de si mesmo, a acolhida desinteressada, a capacidade de ver o melhor do outro. Nós temos medo, queremos manter o que caducou, porque disso temos o hábito, queremos ter razão contra os outros. Dissimulamos, sob o vocabulário de humildade estereotipada, o espírito de orgulho e de poder. Brincamos de pôr a vida à parte. Da Igreja fizemos uma organizadção como as ouras. Empregamos todas as nossas forças para organizá-la e agora as empregamos para fazê-la funcionar. E ela caminha mais ou menos, menos do que mais, mas caminha. O problema é que ela caminha como uma máquina, e não como a vida”.

Essa afirmação do patriarca ecumênico de Constantinopla, Atenágoras, feita há mais de quatro décadas, possui caráter exortativo também para a Igreja na atualidade. Por aquela mesma época, o Concílio Vaticano II, por meio da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, formulou princípios orientadores para a missão da Igreja num mundo em acelerada transformação. De lá para cá foram inúmeras as iniciativas, em todos os âmbitos, para organizar uma Igreja mais humana e solidária, respondendo aos clamores da sociedade, especialmente das pessoas abandonadas.

Peregrina neste mundo, a Igreja precisa avançar sempre mais, rompendo com a tentação de acomodar-se. E para avançar com liberdade evangélica, há necessidade de abandono de tudo o que a impede de ser verdadeiramente discípula missionária do Senhor. O documento da CNBB n. 100 – Comunidade de comunidades: uma nova paróquia – chama-nos à conversão pastoral e nos orienta a sair “de uma Igreja distante, burocrática e sancionadora” para uma Igreja mais evangélica, comunitária, participativa, realista e mística (n. 37).

O papa Francisco, atento às demandas que emergem das comunidades pelo mundo afora, abraçou essa causa com determinação. Seus ensinamentos, corroborados por seu testemunho, inspiram-se na prática da Igreja das origens, seguidora de Jesus Cristo, servidora do seu evangelho e, por isso mesmo, promotora da vida digna sem exclusão. A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium apresenta o caminho a ser seguido pela Igreja em sua obra evangelizadora no mundo atual. É a proposta do evangelho que precisa ser retomada com coragem. “A proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4,43); trata-se de amar a Deus que reina no mundo. À medida que ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos” (EG 180).

Celso Loraschi,
mestre em Teologia Dogmática.

FONTE: Jornal O Lábaro – edição de fevereiro de 2015

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