COMUNHÃO COM DEUS: A VOCAÇÃO DE TODO BATIZADO

Quando se falava em vocação, quase que automaticamente se pensava nas pessoas do Bispo, do Padre, do Diácono, dos religiosos. Felizmente, nos tempos atuais, vemos que a compreensão acerca da vocação tem se tornado mais clara, não está mais relacionada apenas à figura religiosa, mas também se compreende que os fiéis leigos são vocacionados. Porém, faz-se necessário relembrar que todos, pelo batismo, somos vocacionados à comunhão com Deus.

O Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et spes, nos relembra que “a razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador”[1].

O pecado fez com que o homem se distanciasse de Deus e de Seu projeto de amor. Vemos que no livro do Gênesis, Adão e Eva viviam em plena comunhão com Deus, mas essa comunhão é perdida com a desobediência do primitivo casal. Apesar disso, Deus sempre manifesta seu amor aos homens, mesmo diante da sua rejeição.

Ao contemplarmos a História da Salvação vemos que Deus sempre deu o primeiro passo indo ao encontro da humanidade: fez aliança com Noé; elegeu Abraão para congregar a humanidade dispersa; formou Seu povo Israel libertando-o da escravidão do Egito; falou pelos profetas; e enviou o Filho Jesus, mediador e plenitude de toda revelação. Como nos ensina o Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Dei Verbum, Deus Se revela para que o homem tome conhecimento de Si e de Sua vontade:

Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,14-15) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele[2].

Diante do exposto, é válido relembrar que pelo Sacramento do Batismo nos tornamos membros de Cristo. Por Cristo, no batismo nós recebemos a filiação divina, isto é, nos tornamos filhos no Filho. Com seu sacrifício redentor, Jesus restitui a amizade entre a humanidade e Deus; nos reconciliou com o Pai. Na obediência do Filho nós fomos justificados (cf. Rm 5,19).

Perante ao ato de Deus que nos oferece Seu amor nós somos chamados a dar uma resposta e essa resposta nos leva à comunhão com Ele. O homem só será plenamente realizado se corresponder ao amor para o qual foi destinado. É preciso que nos lembremos que fomos criados para Deus, e por isto, somente n’Ele está nossa realização, como nos ensina Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”.

Contudo, o homem só será plenamente realizado vivendo a vocação à comunhão com Deus. Fora do esforço de corresponder ao amor de Deus o homem sempre viverá de buscas. Buscará sempre se preencher, mas nunca será saciado. Deus nos dá a graça de participarmos da Sua vida divina por meio do Batismo, mas devemos nos esforçar para permanecermos n’Ele.

[1] CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Pastoral “Gaudium et spes” sobre a Igreja no mundo atual, 1965, n. 19.

[2]Idem, Constituição Dogmática “Dei Verbum” sobre a revelação divina, 1965, n. 2.

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