Assunção: Maria na glória do céu

Tenho um carinho todo especial pelo dogma da Assunção de Maria. Minha mãe nasceu na vigília desta solenidade litúrgica, no dia 14 de agosto. Seu nome é Maria da Glória. Quando entrei para o seminário, em plena adolescência, um dos padres nos dizia com piedade que Maria é como a mãe da gente lá em casa: silenciosa, humilde e servidora. Certamente ele descrevia a sua própria mãe, mas isso não tinha nada a ver com aquela professora, catequista e líder falante, cheia de iniciativa que Deus me presenteou como mãe. Aos poucos fui descobrindo que Pe. Zezinho tem toda razão quando nos ensina a cantar: “em cada mulher que a terra criou, um traço de Deus Maria deixou…” Maria é simples e humilde, silenciosa e serviçal, mas é também uma mulher cheia de questionamentos e iniciativas. Não seria qualquer jovem que após receber a notícia de que seria a Mãe de Deus, sairiria de casa enfrentando 120 quilômetros de montanhas e perigos para ajudar sua prima Isabel que já estava gravida há seis meses.

Maria assumiu a proposta de Deus se fazendo serva do Senhor e dos irmãos. Por isso foi assumida de corpo e alma no céu. Assunção pode ser traduzida como “elevação” mas também como “ser assumida”. Quando escrevi a última estrofe do disco “Os Mistérios do Terço” procurei traduzir esta verdade com o seguinte verso: “E no quinto mistério coroada é Maria, que foi serva e por isso é rainha”.

Há quem pense que este dogma não tem muitos fundamentos nas páginas da Bíblia. Mas se pensarmos a “assunção” como “elevação” torna-se cheio de sentido o verso do Magnificat que canta: “Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,52). É mais do que uma cena cinematográfica de uma mulher sendo elevada acima das nuvens. É um jeito bonito de pensar que aquela que foi fiel a missão de Nazaré até ao pé da cruz, permaneceu unida ao seu filho na hora da luz, ou seja, da ressurreição e da ascensão. O fim de sua vida terrena foi uma serena passagem que os primeiros cristãos chamavam de “dormição”, ou “trânsito”. A primeira cristã também foi a primeira assumida eternamente no coração de Deus.
No dia 1º de novembro de 1950, por meio da Bula Munificenticimus Deus, o papa Pio XII declarou que esta verdade é um consenso natural entre nós, ou seja, um dogma: “[…] pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu”.

São João Paulo II disse em uma de suas catequeses em julho de 1997: “A Assunção constitui o ponto de chegada da luta que empenhou o amor generoso de Maria na redenção da humanidade e é fruto da sua singular participação na vitória da Cruz.” Recentemente o Papa Francisco publicou uma encíclica social sobre o cuidado da terra: Laudato si’. Nela existe um parágrafo que faz referência à Maria, evocando a sua assunção: “Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza. Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que ‘guardava’ cuidadosamente (cf. Lc 2,51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente” (Nº 241).

Olhar para Maria na Glória do céu nos ajuda a fortalecer a esperança enquanto caminhamos e cantamos na história, entre dores e amores, luzes e cruzes… Nossa mãe chegou lá e abriu a porta do céu e nos aguarda para que também sejamos elevados e assumidos na glória!

João Carlos Almeida
Pe. Joãozinho, scj
Teólogo e Comunicador

Fonte: Jornal O Lábaro – agosto de 2015A

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