Ano Santo: um convite à renovação da esperança

“A esperança não engana” (Rm 5,5). Com esta afirmação da Carta de São Paulo aos Romanos, o Papa Francisco intitula a bula de proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025. Em tempos de tantos desafios, os cristãos são chamados a ser sinal de esperança, como testemunhas da alegria do Evangelho de Jesus Cristo. O Ano Santo, celebrado em todo o mundo, é um tempo de graça. Ao recordar o evento da encarnação e nascimento de Jesus, reavivamos nossa fé e esperança na salvação que Ele nos traz. Para falar do sentido do Ano Jubilar e de como celebrá-lo, conversamos com o Pe. Luís Fernando da Silva, secretário executivo do Regional Sul 1 da CNBB.

O LÁBARO: O que é o Ano Santo ou Ano Jubilar? Qual é a sua origem histórica e o seu sentido para o Cristianismo?

Pe. Luís Fernando: O Ano Santo tem suas raízes no Antigo Testamento, no jubileu que era proclamado para o perdão das dívidas, a libertação dos escravos e o descanso da terra. No Novo Testamento, o próprio Jesus no Evangelho de Lucas menciona a proclamação do ano santo como parte do seu ministério profético-evangelizador. O Cristianismo católico adotou o Jubileu a partir do século XIV como expressão da celebração comemorativa da Encarnação de Jesus. Portanto, todo o jubileu é uma celebração da Encarnação. O jubileu no cristianismo tem sua mística própria com ênfase na peregrinação dos fiéis, no lucrar das indulgências e na passagem pela Porta Santa nas Basílicas de Roma, diocese do Papa.

 O LÁBARO: Para além da tradição histórica, que outras motivações podemos encontrar para celebrar o Ano Santo?

Pe. Luís Fernando: O Ano santo é uma motivação para todos nos enxergarmos como peregrinos, uma Igreja que não fica fechada em si mesma, mas sai para ir ao encontro das pessoas. O Jubileu também é uma ocasião para ampliar entre os cristãos a cultura da misericórdia, é uma ocasião para perdoar e pedir perdão. Ainda, a ida à Roma para passar na Porta Santa recorda a centralidade de Cristo, a porta por onde passamos e ganhamos a vida eterna e, estando em Roma, renovamos nosso compromisso de comunhão com o Papa, sucessor do apóstolo Pedro, e com toda a comunidade eclesial espalhada pelo mundo.

O LÁBARO: O Papa Francisco escolheu o tema da Esperança como eixo central e condutor de todas as ações que envolvem o Jubileu. Qual a relevância deste tema para os tempos atuais?

Pe. Luís Fernando: O Papa é alguém que ouve muitas pessoas de diversas partes do mundo e também vai a muitos locais através das viagens apostólicas. Essas experiências trazem ao Santo Padre uma percepção muito aguçada da realidade. Portanto, no coração do Papa veio o desejo de no Jubileu suscitar na Igreja e no mundo a virtude da Esperança. Estamos vivendo num mundo marcado por guerras e conflitos, uma crise climática sem precedentes, o fenômeno crescente da migração, entre tantas outras situações que podem roubar das pessoas o sentido da vida e as motivações para seguir em frente. O Papa, por meio do Jubileu, convida a todos a se munirem de esperança e se colocar a caminho como peregrinos.

 O LÁBARO: Quais os principais desafios que a Igreja no Brasil enfrenta atualmente para ser sinal profético de esperança?

Pe. Luís Fernando: A Igreja no Brasil é uma Igreja viva e dinâmica espalhada num país colossal de proporções continentais. Justamente por isso, ela tem suas belezas e desafios. Penso que um desafio que tem marcado o Brasil nos últimos anos é a forte polarização que atinge os tantos setores da sociedade, inclusive a Igreja; ainda, a crescente onda de violência que atinge as grandes cidades, o que torna difícil uma evangelização próxima das comunidades periféricas. O Brasil, apesar de ser um país cristão, é marcado por forte desigualdade social e ecológica. A todos esses desafios a Igreja é chamada a oferecer respostas concretas que brotem do evangelho e da Tradição.  O documento final do Sínodo dos Bispos, as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora e o texto base da Campanha da Fraternidade 2025 têm pistas muito vivazes para ajudar nesse processo de elaboração e construção de caminhos.

 O LÁBARO: Como a Igreja no Brasil, especialmente no Regional Sul 1, está se mobilizando para celebrar o Ano Jubilar como uma ocasião realmente significativa?

Pe. Luís Fernando: No Regional Sul 1 da CNBB, que corresponde todo o Estado de São Paulo, o maior Regional do Brasil, as iniciativas em prol do Jubileu estão acontecendo nas Igrejas locais (arquidioceses e dioceses). Cada bispo, em comunhão com os ministros ordenados e os cristãos leigos, estão discernindo o que mais se adequa à sua realidade. Muitas dioceses estão elaborando peregrinações, encontros de espiritualidade e formação, prioridades pastorais, como por exemplo pela Pastoral Carcerária, entre tantas outras variadas iniciativas.

O LÁBARO: Na bula “Spes non confudit”, de proclamação do Ano Jubilar de 2025, o Papa Francisco aponta os diversos sinais de esperança. De modo prático, como os cristãos católicos podem vivenciar e assumir essa virtude no seu cotidiano?

Pe. Luís Fernando: A bula de proclamação do jubileu é um precioso texto que todos nós deveríamos nos ocupar da sua leitura neste ano jubilar. Quando o Papa Francisco aponta os sinais de esperança no texto, ele nos mostra que a esperança não é simplesmente uma teoria, mas um caminho a ser percorrido, e esse caminho passa pela superação da guerra, pelo olhar para os migrantes, os jovens, idosos, doentes, encarcerados; passa pelas iniciativas de superação da fome, do perdão das dívidas dos países pobres, pela ampliação do diálogo ecumênico, entre tantos outros sinais que ajudam visualizar que a esperança é real e possível.

O LÁBARO: Que novas perspectivas a celebração do Ano Jubilar poderá fazer despontar na Igreja?

Pe. Luís Fernando: O Papa Francisco deixa-nos bem claro o objetivo deste jubileu, ele será uma ocasião para reanimar a esperança. Isso, para nós, não pode ser uma utopia somente, mas um compromisso muito concreto, no qual cada um faz a sua parte.

 

Pe. Jaime Lemes, msj

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