“É preciso se perguntar sempre: o que Deus quer que eu faça agora?” Padre José Batista da Rosa

Entrevista com o Padre José Batista da Rosa, vigário forâneo da Forania de São Bento e pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Saúde em Campos do Jordão.

 Quando menino, ele mergulhava em rio, tomava banho de cachoeira, subia em árvore e, no caminho da roça, se deliciava com frutas silvestres: araçá, pitanga, raticum, ingá… Filho de agricultores de Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira, trabalhou desde cedo. Fazia isso com prazer e dedicação, qualidade que conserva até hoje. “Trabalhar era um divertimento. Brincava trabalhando e trabalhava brincando”, diz. Já adolescente, atuou na Pastoral da Juventude, Círculos Bíblicos e outras atividades comunitárias ligadas à Igreja Católica. Foi agricultor, condutor de gado, ajudante de pedreiro e motorista, atividades que exerceu até que os seus oito irmãos estivessem encaminhados e finalmente pudesse entrar no seminário, aos 22 anos e meio.

Cursou o ensino médio no colégio IDESA em Taubaté, graduou-se em Filosofia, com convalidação na PUC de Belo Horizonte, e fez pós-graduação em Gestão Educacional, pela Universidade Claretianos de Batatais. Padre José Rosa (também conhecido como Padre Batista Rosa) atuou em várias paróquias e pastorais da Diocese de Taubaté. Foi co-fundador, da Paróquia São Miguel Arcanjo em Pindamonhangaba, com Dom Carmo Rhoden, SCJ, e da Paróquia Nossa Senhora da Saúde em Campos do Jordão, onde é o pároco atual. Aos 52 anos, é vigário forâneo (pela segunda vez) da Forania São Bento, que compreendecinco paróquiasdas cidades de Campos do Jordão, Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí.

Conheça agora mais sobre a vida, e o pensamento, desse padre que completou 20 anos de Ordenação Sacerdotal no último dia 29 de novembro de 2017 e que mostrou tanta capacidade de realização e carisma na sua atuação como sacerdote na Diocese de Taubaté.

Esta entrevista foi realizada por Liane Soares, jornalista, com fotos e participação de Antonio Milton Soares, publicitário, ambos representantes da Pastoral de Comunicação da Forania de São Bento da Diocese de Taubaté.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – O que o motivou a se tornar padre?

PADRE JOSÉ ROSA – Eu queria me tornar um sacerdote desde a minha mais tenra infância. Minha primeira motivação foi a própria fé dos meus pais, que nunca deixaram de rezar e de ir à Missa aos domingos. E, durante a Santa Missa, o mistério da Eucaristia me fascinava profundamente. Estar no altar, celebrar a Eucaristia, tornou-se então um grande desejo.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – Algum padre o influenciou com o seu exemplo quando era mais jovem?

PADRE JOSÉ ROSA – Já na adolescência, foi o testemunho dos párocos de Santo Antônio do Pinhal (Padre Tabir, Padre Joaquim Vicente e Padre DonizettiSgarbi) que deram força à minha vocação, sobretudo pela sua atuação junto aos pobres. Na época, eu coordenava um grupo dentro da Pastoral da Juventude que se chamava Jovem da Roça Tem Valor. Eram cerca de 30 jovens que se reuniam semanalmente para fazer oração, reflexão e trabalho social. Depois me envolvi no trabalho das pastorais e, já com 19 anos, entrei na Sociedade São Vicente de Paulo. Levava remédios para os doentes, providenciava comida para quem tinha fome e cuidava de pessoas semi-abandonadas. O amor ao próximo, o serviço dedicado a quem mais precisa, tornou-se então a razão fundamental para eu querer entrar no seminário e me tornar padre. Raciocinava assim: “Se eu posso fazer um pouco agora, como sacerdote poderei fazer mais”.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – O senhor já passou por crises de fé?

PADRE JOSÉ ROSA – De fé, não, nunca. Sempre tive certeza da minha fé. E nem tive crise de oração, que foi firme sempre. Mas por crise vocacional, sim. Em alguns momentos posso ter perguntado “Será que é esse mesmo o meu caminho? Será que é isso que Deus quer para mim?”. Mas esses instantes foram superados com oração e vendo o desenvolvimento dos frutos do meu trabalho. É muito triste quando a gente faz um trabalho e não vê fruto. Mas quando se vê, isso faz bem e nos traz alento.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – Qual foi o seu maior desafio nesses 20 anos de sacerdócio?

pe-jose-rosa-santissimoPADRE JOSÉ ROSA – Foram as mudanças de paróquia em curto espaço de tempo. Quando alguns projetos estavam prontos para florescer e deslanchar numa paróquia, eu era chamado, por necessidade da Igreja, para trabalhar em outra. Essa descontinuidade pode acabar com a parte estrutural e formativa de uma paróquia. Nunca consegui concluir os projetos que iniciei numa paróquia por causa do pouco tempo em que lá fiquei, e que nem sempre foram continuados. Elaborar e solidificar projetos, reformar ou criar estruturas, formar um vínculo com a comunidade, não é algo que se faz em poucos anos. Mudar quando algo está errado, é justo e necessário. Mas é preciso mais fôlego quando as coisas estão dando certo. Antigamente, um pároco era o sacerdote responsável pelo batismo, casamento e enterro de seus fiéis. Era quase um cargo vitalício. Hoje, consideramos mais a necessidade pastoral: o padre vai para onde é necessário. Está certo, mas um pároco deveria ter um tempo mínimo para isso. A Santa Sé deu um indulto aos bispos no Brasil de que o padre pode ficar no mínimo seis anos na paróquia e, no máximo, dez. Depois ele já pode ser transferido.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – O que poderia melhorar essa condição?

PADRE JOSÉ ROSA – Permanecer o tempo necessário como pároco, e ver a continuidade dos projetos depois. O ideal é que um pároco dê continuidade aos projetos do padre anterior. Ele tem de entender que trabalha para a Igreja, e não para si. Isso nem sempre acontece. Essa descontinuidade pode ser prejudicial e “arrebentar” uma paróquia. Por isso, na primeira reunião do CPP que tenho ao assumir como pároco, minhas primeiras perguntas são: “O que vocês esperam de mim?” e “O que vocês já vem fazendo?” Para dar continuidade.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – Nesse trabalho pastoral, é importante nos sentirmos inspirados por Deus, não é?

PADRE JOSÉ ROSA – O Espírito Santo está agindo. Mas para seguir em frente, é preciso nos perguntar: “o que Deus quer que eu faça agora?” Essa inquietação é uma inquietação de paz, de procura da verdade, e uma pergunta que nos ajuda a trilhar o bom caminho. Quando a gente não se questiona, o trabalho perde o sentido. É a pergunta que São Paulo faz: “Senhor, o que queres de mim?”. É também é a pergunta que São Francisco também fez séculos mais tarde: “Senhor, o que queres que eu faça?”. E a resposta foi: “Restaure a minha Igreja”. Ele reformou a pequena igreja de Porciúncula, que estava caindo aos pedaços. mas compreendeu em seguida que essa restauração se referia a algo maior. Foi preciso refazer o templo, porque não adianta uma comunidade viva sem um templo que a acolha, mas também trabalhar na direção da restauração da Igreja Católica como povo de Deus.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – E Deus pode nos chamar quando menos esperamos…

PADRE JOSÉ ROSA – Sim. Esse chamado pode acontecer, tanto para sacerdotes como para leigos, inesperadamente. E podemos ficar surpresos com essa escolha: “Quem, eu??? É muito para mim! Não estou preparado, não estou pronto!” Mas esse é o chamado de Deus. Ele tem seus planos e suas medidas, não segue nossa compreensão limitada nem expectativas. É como na parábola dos talentos. Deus nos dá talentos durante um determinado tempo para ver o que fazemos com eles. E podemos fazer isso de várias formas. Podemos chamar outras pessoas para nos ajudar, podemos fazer tudo de uma vez, ou aos poucos. Mas Ele sempre chama de acordo com a capacidade de cada um. Como se diz na roça, “Deus dá a farinha de acordo com o saco”. Mas como você vai fazer o que ele te pediu, é com você. Deus não dá o como. O bonito do chamado, ou da vocação, é isso. Perguntamos: “Mas, Senhor, eu?”. E Ele nos responde. “É isso mesmo, é você. Vai!”. E você é que tem de se virar depois.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – Como foi sua chegada aqui em Campos do Jordão?

PADRE JOSÉ ROSA – Eu vim sozinho para a paróquia. Não encontrei nada organizado: liturgia, canto, Catequese, nada, nada. Eu coloquei o cotovelo no altar um dia, e perguntei: “E daí, Deus, e agora? Terça-feira tem missa às 15h00 (a Novena Perpétua de Nossa Senhora da Saúde), e o que vou fazer? Quem vai tocar? Quem vai cantar? Quem vai ler? Eu não sei! E domingo tem duas missas, uma de manhã… outra à noite! E agora?” Então comecei a perguntar para os paroquianos que estavam por ali: “Ah, você canta? Então vem na terça-feira. Você pode fazer a leitura? Então vem no domingo”. E assim por diante, no corpo a corpo. Tem gente que está comigo até hoje ao meu lado que foi convocada nesse primeiro dia. Deus os chamou também a eles, que atenderam prontamente, mesmo sem saber direito o que fazer e por onde começar.Aos poucos, chegaram outros…

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – Em que estado estava a igreja Nossa Senhora da Saúde?

PADRE JOSÉ ROSA – O piso estava todo corrompido, o lambril lateral podre, e tinha vazamentos no teto. Tudo foi reformado, estamos na metade da reforma da casa paroquial. E ainda temos de fazer um salão, ampliar os banheiros, etc. Andamos conforme os recursos, já caminhamos bastante. A minha principal preocupação na paróquia está em relação à formação de agentes de pastorais, a adequação do espaço físico necessário para isso. Tem de ter salas de formação e catequese, cozinha, banheiros. Da paróquia nascente ainda estamos na fase da estruturação física, que vai levar cerca de dez anos. Era uma igreja antiga, da década de 40, sem manutenção. Fazemos a reforma das capelas das comunidades, que aqui são ativas. E temos vínculo estreito de cooperação com a Sociedade São Vicente de Paulo, parceira das obras socais na paróquia. A situação já está melhor, mas ainda é pouco para o tanto que precisa.

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – Quais são os projetos para a Forania São Bento?

PADRE JOSÉ ROSA – Com relação à Forania, esse é um projeto da Diocese de Taubaté. Mas o principal desejo dos párocos da região é dar formação para os leigos que atuam nela. A Diocese nos ajuda com cursos específicos para cada pastoral. E os padres da Forania tem dois momentos formativos por ano que são ricos e profundos. Eles também precisam de formação. Mas ainda é preciso se estruturar melhor. Isso vai ser feito ao longo do tempo, não é algo simples e nem fácil de se fazer. Mas já temos a Pastoral da Comunicação da Forania São Bento que está sendo organizada, e a da Catequese. E esse já é o começo.

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