Igreja, fraternidade e sociedade

A Campanha da Fraternidade de 2015 tem como objetivo aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre Igreja e sociedade, que na linha proposta pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, se concretiza como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.

O aprofundamento deste diálogo e colaboração, tanto da Igreja quanto da sociedade, é fundamental, pois já superamos aquela visão preconceituosa que enxergava na sociedade só elementos ruins e sombras. O diálogo e a colaboração não acontecem de forma unilateral, partindo somente da Igreja. A sociedade também colabora e dialoga com a Igreja. Como cristãos temos os nossos valores, fundamentados na Sagrada Escritura, na Tradição e no Magistério da Igreja. Esses valores tecem a nossa vida de fé que implicam em nossa atuação social. Não obstante, a sociedade tem também os seus valores, as suas leis, que ajudam a organização e a formação de seus cidadãos em vista da justiça social e do bem comum.

Não é de agora que a Igreja dialoga e colabora com a sociedade. Historicamente, Deus, através dos profetas, sempre atuou em favor da pessoa humana, sobretudo da mais fragilizada, o pobre. Evidentemente, com Jesus não foi diferente, ele teve uma vida atuante na sociedade, envolvendo-se com as pessoas com as quais convivia em seu cotidiano. O lema da Campanha da Fraternidade desse ano, “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45), expressa não um sentimento isolado de Cristo, mas o seu programa de vida. A vida toda de Jesus foi um serviço à pessoa humana. E a imagem do cartaz da Campanha ilustra bem isso. Nele vemos o Papa Francisco realizando a cerimônia do Lava-Pés na Quinta-Feira Santa. O gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos é a expressão de seu ministério vivido na doação e no serviço aos irmãos. Ora, Cristo sendo o próprio Filho de Deus encarnado assumiu este gesto de amor e serviço, quem somos nós para não assumir o que ele significa? E o Mestre pediu aos seus seguidores: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos la
vei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 15,14). Portanto, é nossa missão como cristãos assumir esse compromisso com o Senhor servindo o próximo. E não podemos nos esquecer de que esse gesto do Senhor foi realizado no contexto da instituição da Eucaristia, como relata São João Evangelista. O nosso serviço à pessoa humana, portanto, é fruto da Eucaristia que celebramos e comungamos.

A Igreja recebeu de Jesus o mandato missionário. É sua vocação e missão ser sinal da presença de Cristo no mundo. Por isso, a Campanha da Fraternidade 2015 é um instrumento de conversão para toda a Igreja repensar a sua missão e vocação. Sendo o Brasil ainda o maior país católico do mundo em quantidade, é vergonhoso constatar que, em contrapartida, é um país que possui um mosaico de situações sociais que o fragilizam: desigualdade e injustiça sociais, desemprego, violência, drogas, corrupção, exclusão, pobreza, deficiências na saúde pública e no saneamento básico, etc.

Se o nosso retrato social é bem defeituoso, uma das falhas não será a falta de responsabilidade dos cristãos? Ainda, infelizmente, não somos aquilo que Jesus deseja: uma comunidade comprometida com o amor aos irmãos. Por isso, a Campanha da Fraternidade deste ano, será um tempo oportuno para repensarmos a nossa atuação cristã na sociedade. Não vivemos em outro planeta, vivemos aqui no mundo para colaborarmos na construção do Reino de Deus. Assim, um dos desafios neste ano será a divulgação e o fortalecimento das pastorais sociais da Igreja, tais como a pastoral da criança, a pastoral da saúde, a pastoral carcerária, a pastoral da pessoa idosa, entre outras. Elas contribuem para que estas diversas situações sociais sejam iluminadas pelo Cristo.

Assumamos, portanto, o nosso compromisso batismal com Jesus Cristo de ser testemunhas autênticas do Reino de Deus vivendo intensamente a nossa fé em todos os espaços onde estamos em nosso cotidiano. Na Quaresma, a revisão de vida em vista à conversão é indispensável para que o projeto de amor de Jesus seja também o nosso programa de vida. Que a quaresma seja, então, um tempo oportuno para assumirmos verdadeiramente a missão e a vocação da Igreja de ser sinal do amor e do serviço de Jesus no mundo.

Pe. Leandro Alves de Souza
Coordenador Diocesano de Pastoral e Assessor Diocesano da Campanha da Fraternidade da Diocese de Taubaté

FONTE: O Lábaro – edição de fevereiro de 2015

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