Campanha da fraternidade, outra vez…

Com a proximidade do tempo santo da quaresma, a Igreja no Brasil se prepara para vivenciar também a Campanha da Fraternidade, que já celebra os ares jubilares da quinquagésima edição. Nascida num momento bastante específico do nosso não tão distante passado, a Campanha da Fraternidade toca em temas sociais e eclesiais verdadeiramente delicados, o que fez com que enfrentasse, em seu percurso, severas críticas da sociedade e de alguns membros da Igreja.

Mas, afinal, qual a necessidade de uma campanha para a conscientização do aspecto social da fé? Seria esse momento uma deturpação da vivência quaresmal com sua espiritualidade tão fortemente marcada pela conversão? Estará a Igreja abandonando o Evangelho na medida em que se empenha em questões “menos religiosas”?

Todas essas indagações, que permeiam alguns núcleos eclesiais, devem ser respondidas tendo em vista a Doutrina Social da Igreja. Novas urgências pedem medidas sempre novas. A salvação ofertada unicamente por Nosso Senhor Jesus Cristo – autor e consumador de nossa fé – se estende a todos os povos, de todas as raças, línguas, tribos e culturas. Nada escapa desse dom, derramado em abundância e definitivamente maior que o tempo e a história. Tampouco se limita ele unicamente a aspectos unicamente “religiosos”, pois assim está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e a restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4,18).

Considerando isso, por que haveria a Igreja, enquanto continuadora da missão de Cristo e sacramento universal de Salvação, se eximir de derramar sobre tudo e todos a graça salvífica de seu Senhor e Mestre? E que tempo seria mais oportuno do que aquele que nos convida à conversão, não apenas do coração, mas, sobretudo – e o que é certamente mais difícil – da mentalidade?

Portanto, temas delicados (por que não dizer espinhosos?), tais como a fome, a ecologia, o diálogo, a preservação da casa comum ou o cuidado com os povos originários não devem ser abordados apenas pela sociedade civil, mas também pela Igreja, que faz ecoar os ensinamentos de Cristo. Por mais complexos, exigentes e dificultosos que sejam, fugir dessas questões seria como trair o caráter profético da Igreja e sua raiz mais profunda.

Que a Campanha da Fraternidade produza em todos o santo incômodo da conversão.

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