“Deus não enviou seu Filho ao mundo para condena-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele”
(Jo. 3,17).
Ao longo deste ano, vamos dedicar esse espaço a apresentar os principais aspectos da Doutrina ou Ensinamento Social da Igreja. A intenção é apresentar essa temática de modo simples, ao modo de primeira abordagem. Para isso, teremos por base o “Compêndio da Doutrina Social da Igreja”, publicado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz, da Santa Sé, a pedido do então Papa João Paulo II. O Compêndio, como o próprio nome indica, é uma apresentação condensada ou resumida do ensinamento do Magistério Eclesiástico, ou seja, do ensinamento do Papa e dos Bispos reunidos, especialmente, em Concílios ou Sínodos, com o intuito de iluminar a vida das pessoas e do conjunto da sociedade, com a aplicação do Evangelho de Jesus.
Se limitássemos os ensinamentos de Jesus só ao íntimo de cada pessoa, nós estaríamos restringindo ou colocando limites à Palavra de Deus. Esta, além de iluminar a vida de cada pessoa, deve também iluminar as relações e a vida das pessoas em sociedade. Por isso, a Doutrina Social da Igreja é instrumento de evangelização; é o evangelho aplicado às relações em sociedade. Nada do que é humano é alheio à evangelização. Não se evangeliza o homem abstrato, mas concreto, situado e condicionado pelo conjunto dos problemas sociais e econômicos. Nunca se pode separar o plano da criação do plano da salvação. O plano sobrenatural da salvação não acontece quando termina o plano natural da criação, mas começa quando este é assumido, iluminado e organizado segundo a vontade de Deus. Assim o reinado de Deus vai se concretizando na totalidade da vida humana, à medida que se vive a justiça, a verdade, o amor, a paz … e outros valores evangélicos, até sua plenitude transcendente no Reino de Deus. Assim, a Igreja não se confunde com a comunidade política e nem está ligada a nenhum sistema político; mas, de acordo com sua missão, recorda e preserva o caráter transcendente da pessoa humana, que vai além da realidade terrena (Gaudium et Spes, n.76 e Catecismo da Igreja Católica, n.2245).
O que é a Doutrina Social da Igreja? – É o ensinamento dos Pastores da Igreja acerca da vida do homem e da sociedade, que tem origem na reflexão ao se articular o conhecimento das ciências humanas e os ensinamentos do Evangelho e da Tradição da Igreja. Assim sendo, a Doutrina Social da Igreja (DSI) não se caracteriza como ideologia, mas como teologia moral, ou seja, como reflexão de fé sobre o comportamento do homem em sociedade. Não é um sistema ideológico ou pragmático com objetivo de orientar as relações econômicas, políticas e sociais, mas sim o resultado de uma reflexão atenta sobre as complexas realidades da existência humana, na sociedade e no contexto internacional, à luz da fé e da Tradição eclesial. Seu objetivo é analisar a realidade examinando se estão de acordo ou em desacordo com o ensinamento do Evangelho sobre o ser humano e sobre sua vocação terrena e transcendente; visa pois orientar o comportamento cristão em suas relações sociais (cf. João Paulo II, Sollicitudo rei socilais, n. 41).
A DSI tem sua base na Revelação Bíblica e na Tradição da Igreja (que é o conjunto daquilo que a Igreja crê, ensina, vive e celebra). Portanto, antes e acima de tudo está o projeto de Deus sobre a criação, sobre a vida e o destino do ser humano que é chamado à comunhão trinitária. Assim sendo, a DSI analisa se a maneira como os seres humanos estão vivendo, unidos em sociedade, está ou não de acordo com os princípios cristãos, que visam ao bem da pessoa e da sociedade. Nesse sentido, a DSI cumpre uma função social de anúncio e de denúncia. É mensagem dirigida aos filhos da Igreja, mas também à toda a humanidade.
A DSI foi se formando pouco a pouco com progressivos pronunciamentos do Magistério (ensinamentos do Papa e dos Bispos reunidos) quando se referiram a temas sociais. Esses ensinamentos têm em conta que a salvação realizada por Jesus Cristo é para todos os homens e para os homens na totalidade de sua vida. A salvação realizada por Cristo é integral, ou seja, atinge a vida humana em todos os seus aspectos ou dimensões: pessoal e social, espiritual e corpórea, histórica e transcendente. Essa salvação começa aqui, nesta terra, à medida em que vivemos segundo a vontade de Deus, mas somente se realiza de modo completo na eternidade, na plena comunhão com Deus. O amor da Trindade é a origem e o destino de toda criação.