No dia 29 de maio, Solenidade da Ascensão do Senhor, celebramos o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Na mensagem deste ano, o Papa Francisco refletiu sobre a importância da escuta para estabelecer uma verdadeira comunicação. O Pe. Julius Rafael, atualmente, Administrador Paroquial da Paróquia São Benedito, em Campos do Jordão, e há quase um ano e meio à frente da Pastoral da Comunicação da Diocese de Taubaté, nos fala, neste bate-papo, sobre a importância desse dia e sobre os desafios da comunicação hoje.
O LÁBARO: Todos os anos, no Domingo da Ascensão do Senhor, se comemora o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Quais as motivações para celebrar esse dia e por que no Domingo da Ascensão?
Pe. Julius: O domingo da Ascensão é escolhido pelo fato de ser um dia que traz a característica de Jesus que realiza a comunicação de Deus Pai, enviando os discípulos e apóstolos para comunicar a boa nova de Deus a todos. A instituição deste dia foi feita pelo Papa São Paulo VI no decreto conciliar do Concílio Vaticano II chamado Inter Mirifica.
O LÁBARO: Como o Dia Mundial das Comunicações foi celebrado na Diocese de Taubaté?
Pe. Julius: O dia mundial foi celebrado em nossa diocese com a celebração da Santa Missa em nossa catedral diocesana, além das paróquias que se utilizaram de diversas formas para celebrar esse dia.
O LÁBARO: “Escutar com o ouvido do coração” foi o tema da Mensagem do Papa Francisco neste ano. Qual é a importância da escuta no processo comunicacional?
Pe. Julius: Acredito que o Papa Francisco foi assertivo no tema desta mensagem, pois ele vem fazendo um caminho a cada ano que mostra a importância dos processos comunicacionais da Igreja. No ano passado, teve como tema: “Vinde e Vede”; neste ano: “Escutar com ouvido do coração”. Escutar não é o problema, encontramos problema quando não escutamos com o ouvido do coração, pois aí não conseguimos eternizar aquilo que escutamos, e escutar a palavra de Deus tem o sentido de trazer ao coração para que essa palavra que é Jesus se torne presente em nós,
O LÁBARO: Na sua percepção, em que media as Redes Sociais interferem, positiva e negativamente, no processo comunicacional?
Pe. Julius: As redes sociais são uma ferramenta de dois lados, tanto positivo quanto negativo no processo comunicacional. Hoje, quando falamos na comunicação da verdade, devemos tomar muito cuidado, pois muitas vezes entramos em assuntos ou comunicamos coisas que não condizem com a verdade, se tornando, portanto, uma mentira, uma Fakenews, que é uma notícia falsa e enganosa, não condizendo com a verdade. Papa Francisco, na mensagem sobre a comunicação no ano passado, tinha como tema o “Vinde e vede”, dizendo que precisamos sempre buscar checar a informação. Logo, penso que para que haja uma ação positiva, deve-se ter a escuta com o ouvido do coração, pois as redes sociais se tornaram um lugar onde o que importa não é a verdade, mas, sim, a quantidade de likes. E para conseguir isso, vale tudo, chegando ao ponto de muitas vezes não ser respeitada a dignidade da pessoa humana. Por isso, o processo de escuta com o ouvido do coração faz com que nós consigamos trazer o que é positivo no processo comunicativo, vivendo, assim, a verdade.
O LÁBARO: Na mensagem, o Papa Francisco diz que nos tempos atuais o ser humano “tende a fugir da relação, a virar as costas e fechar os ouvidos para não ter de escutar”. A que se deve essa resistência? Como você percebe essa realidade?
Pe. Julius: Quando falamos de relação, a sociedade está vivendo aquilo que Papa Francisco disse “um duólogo” que é um monólogo de duas partes, e não um diálogo. Esse duólogo faz as pessoas escutarem as suas verdades, porém não se chegam a um ponto comum. Geralmente, chegamos a esse fechamento por diversas formas: uma delas é a sociedade que preza por um consumismo exacerbado, quando deixamos as tentações do Ter, do Prazer e do Poder tomarem conta de nós, levando-nos a cair no “neopelagianismo”, ao qual o Papa Francisco faz referência na sua encíclica GAUDETE ET EXSULTATE (Sobre o chamado a Santidade no mundo atual). Tal postura considera que basta o esforço humano para se chegar à realização. A comunicação humana deve passar também pela graça de Deus, pois é assim que abrimos a escuta aos irmãos para percebermos a necessidade do outro e, assim, abrir o nosso coração ao diálogo, renunciando muitas vezes a nossa vontade em vista de um bem maior para todos.
O LÁBARO: Vivemos num tempo de excesso de informação, que o papa chama de “infodemia”. Como lidar com essa realidade sem perder a referência do que é essencial?
Pe. Julius: A infodemia abordada pelo Papa se trata da manipulação da informação que traz de forma catastrófica o caos para a sociedade, como vimos na pandemia do Covid-19. Não é de hoje que a Igreja busca trazer a verdade e mostrá-la à sociedade, tanto que o Papa São Paulo VI, no decreto concíliar sobre a comunicação, fala do uso correto dos meios de comunicação social, trazendo a aplicação de uma moral justa, sempre em vista da caridade; não desconsiderando a arte, ter consciência daquilo que será colocado, e, principalmente, não ser omisso com a informação comunicada, pois muitas vezes estamos diante da verdade, mas não falamos. Quando comunicamos a verdade, diminui a infodemia.
O LÁBARO: Como podemos transformar as nossas paróquias e comunidades em espaços de escuta? De que modo a Pastoral da Comunicação (PASCOM) pode colaborar nesse processo?
Pe. Julius: Várias são as formas que podemos desenvolver o processo de escuta. Neste ano, em especial, já vivemos em nossa diocese o processo de escuta do Sínodo dos Bispos. Porém, é um processo de continuidade que se dará de forma direta e indireta. Direta, quando temos os padres e os agentes de pastorais que atendem o povo ajudando-os de uma forma mais próxima. A exemplo disso, em algumas comunidades tem a pastoral da escuta. De forma indireta, quando temos meios de escuta, como os canais digitais de nossas paróquias e comunidades, em que o fiel pode apresentar a sua necessidade, tendo aquele que escuta a ação de retornar e dar uma direção para a pessoa. Enquanto Pastoral da Comunicação, um nos pilares que norteiam a estrutura da pastoral é a articulação, que ajuda não só na criação de meios para a escuta no mundo digital, como também a escuta no mundo real, pois muitas vezes são os agentes da Pascom, que são os primeiros a escutar a necessidade daqueles que trazem sua história e, nesse processo, encaminham àqueles que podem dar um direcionamento.
Pe. Jaime Lemes, msj