Hoje, com facilidade percebemos um certo enfraquecimento da consciência e um relaxamento da vida cristã. O que realmente é pecado? E como podemos buscar uma sincera conversão e reconciliação mediante a prática dos sacramentos, sobretudo por meio da celebração do Sacramento da Penitência ou da Reconciliação?
A Igreja, que é mistério, sacramento e instrumento universal de salvação, exerce sua força salvífica que provêm de Deus e que tem a sua fonte na misericórdia do Pai, mediante a ação misteriosa do Espírito Santo. Ela está, portanto, a serviço da salvação de cada homem e esta missão lhe é essencial. Ela é dispensadora dos mistérios de Cristo na Terra e promotora da reconciliação e isso qualifica toda sua atividade pastoral, dos seus ministros e de todo o Povo de Deus.
Porém, o dom da reconciliação não é possível sem a conversão, ou seja, a verdadeira e necessária mudança de mentalidade. A reconciliação é fruto da graça de Deus que toma a iniciativa de libertar o homem do poder do maligno e da escravidão do pecado para reconduzi-lo à comunhão com o Pai, restabelecendo nele a amizade e o vínculo de filho de Deus. Uma mentalidade fechada, centrada no egoísmo, cria obstáculos para a reconciliação. Por isso, a reconciliação pede antes de tudo a conversão sincera da pessoa.
A Sagrada Escritura nos apresenta a realidade do pecado comparando-o à morte, à lepra, ao exílio, à miséria, à fome e à escravidão; estas imagens querem significar os particulares efeitos que o pecado produz na vida do homem. O pecado traz consigo efeitos que nos privam da união com Deus, mas também no âmbito do equilíbrio do relacionamento do homem consigo e com as pessoas. Portanto, o homem precisa deixar-se reconciliar com Deus e com os irmãos, superando o orgulho e a vaidade e amadurecendo suas relações com Deus e com os irmãos. Com efeito, o pecado é uma ofensa feita contra a bondade de Deus, uma ferida na santidade da Igreja e a causa das desordens que afligem a sociedade.
Nesse sentido, o anúncio da reconciliação tornou-se essencial na pregação e na missão da Igreja. O Sacramento da Reconciliação é a forma como Cristo vem ao encontro do homem a fim de resgatá-lo do mal e da tentação que quer desvia-lo da graça que um dia ele recebeu no Batismo.
No início do Tempo da Quaresma, na celebração da Quarta-feira de Cinzas, a Igreja nos propõe, em primeiro lugar, o forte apelo que o profeta Joel dirige ao povo de Israel: “Mas agora diz o Senhor, voltai (convertei-vos) para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor vosso Deus” (2, 12). A reconciliação só é possível se houver uma conversão sincera do coração, onde está a raiz de nossas decisões, escolhas e ações. Há muitos que se prendem a uma prática vazia de penitência, marcada por um devocionalismo vazio que encoberta a realidade e sobretudo a possibilidade de uma verdadeira reconciliação.
A conversão a Deus só se torna realidade concreta na nossa vida quando a graça do Senhor penetra no nosso íntimo, dando-nos a força para “rasgar o coração”. Mas poucos parecem dispostos a atuar sobre o seu “coração”, a sua consciência e as próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, renove e converta.
A reconciliação é uma via de regresso para Deus e para os irmãos. Ela nos dirige ao interior de nossa consciência e avalia nossas atitudes e condutas.
Pe. Leandro dos Santos