A Quaresma é um caminho, o da conversão. Como todo caminho, o da Quaresma não tem o objetivo em si mesmo. Não se faz o caminho pelo caminho. A meta final que o caminho quaresmal almeja, depois de quarenta dias, é a celebração da Páscoa.
Na dimensão temporal litúrgica o objetivo da Quaresma é renovar nosso compromisso de cristão. Na dimensão espiritual, a conversão proposta pela Quaresma é a reconciliação com Deus e os irmãos.
Porque nos acusa que somos pecadores, a Quaresma é marcada pela tristeza de termos ofendido a Deus quebrando a aliança batismal.
Porque nesse tempo de penitência contemplamos a Paixão do Senhor para expiar nossos pecados, nosso coração se enche de pesar solidário, sentimento que deve se estender ao irmão que sofre vendo nele a imagem do Cristo sofredor. Ao mesmo tempo, com os olhos mirando o final da trajetória quaresmal, invade-nos uma alegria, ainda que contida, pela Páscoa da Ressurreição para a qual o Tempo da Quaresma é preparação. Antecipamos o jubilo da reconciliação certos do perdão de um Deus todo misericordioso.
O processo de conversão exige de nós disciplina e dedicação. Por isso mesmo, a conversão proposta pela Quaresma não pode ficar restrita a esse tempo litúrgico. Com a Quaresma e seus exercícios espirituais, a Igreja propõe intensificar nossos esforços de conversão em vista a celebração da Páscoa. A conversão, contudo, continuará depois disso e só se concluirá com a nossa morte e ressurreição, quando então, reconciliados definitivamente, esperamos participar da Páscoa eterna no céu.
A propósito da Campanha da Fraternidade deste ano, abordando o tema da educação, é interessante notar que o Texto Base faz referência a conversão como um processo de educação. De fato é. Na conversão vamos deixando nos educar pelos princípios do evangelho. Ou mesmo, diria, seria preciso submeter-nos a um processo de reeducação cristã. Esse se faz necessário quando, entregando-nos ao exame da vivência do batismo, como propõe a Quaresma, percebemos que vivemos um cristianismo um tanto distante da proposta de Cristo. Por isso dizemos conversão, uma correção de rota, tomar um retorno para voltar a verdade de Cristo e sua Igreja.
Eis porque a Quaresma fala em desprendimento, em corrigir as práticas pelo jejum, a abstinência e a esmola. Certamente, vale também para apegos a falsas imagens de Cristo, da Igreja, da religião. Das práticas Quaresmais, uma não tão lembrada é, no entanto, a mais necessária para uma (re)educação cristã: a escuta da Palavra de Deus. Junto com a oração e a prática da caridade, são exercícios fundamentais para nos disciplinar como discípulos de Cristo. Sem esses, práticas quaresmais como o jejum e a abstinência perdem força e sentido, se o que se pretende de fato é a conversão.
Pe. Silvio José Dias