Entre o clero, no tocante à formação dos novos padres, frente a um desafio ou outro que surge, não é raro ouvirmos a expressão: “Isso é coisa que deve ser trabalhada desde o tempo de formação”. De fato, o período institucional de formação é a base de todo o exercício do ministério. Porém, é impossível prever e preparar uma pessoa para todos os eventuais desafios que ela poderá enfrentar ao longo da vida. Nos sete anos básicos da formação procura-se construir a base para que, diante dos desafios que surgirem, a própria pessoa possa responder da melhor maneira possível. É importante ter claro também que não só o período regulamentar de formação, mas toda nossa vida é um grande caminho formativo, diríamos, um aprendizado continuado. Isto, porém não nos exime de investir atenção e recursos nos anos institucionais para a formação básica dos futuros presbíteros.
Para tornar conhecido o processo formativo, creio que seja interessante apresentar aqui, mesmo que brevemente, como tem sido a formação regular, aqui na Diocese de Taubaté. O caminho inicia-se com o jovem interessado, sendo apresentado por seu pároco e acolhido para um processo de discernimento e acompanhamento orientado pela Pastoral Vocacional. Esse período pode ser de alguns anos, porém, em via de regra, não menos de um ano completo. O candidato participa de encontros mensais de discernimento e espiritualidade. É acompanhado pelo padre responsável pela Pastoral Vocacional e sua equipe, entre os quais dois psicólogos que atendem individual e coletivamente, buscando conhecer sobretudo as motivações dos candidatos.
Uma vez aprovados no acompanhamento prévio, o Padre responsável pela Pastoral Vocacional, os encaminha a um retiro de admissão e envia as informações sobre cada candidato aos membros do Conselho dos Formadores. Durante o retiro cada candidato passa por entrevista com cada um dos membros que compõem o Conselho dos Formadores, constituído pelo Bispo, Vigário Geral, Reitores e Formador Espiritual do Seminário, Coordenador Diocesano de Pastoral e o coordenador da Pastoral Vocacional. Cada um destes, na entrevista, aborda aspectos previamente estabelecidos, com o intuito de melhor conhecer os candidatos, sua história de vida e suas disposições. De posse das informações provenientes do processo de acompanhamento vocacional e concluídas as entrevistas, esse Conselho reunido define os candidatos que serão ou não admitidos ao seminário.
Em nossa Diocese, as atividades do chamado “ano propedêutico” são distribuídas entre o ano obrigatório de acompanhamento prévio e o primeiro ano de seminário. A formação regulamentar básica se dá durante o período de sete anos, sendo três anos de estudo de filosofia e quatro de teologia. Durante os três primeiros anos o intuito é de formar o discípulo de Cristo. Os quatro anos seguintes o objetivo é a configuração a Cristo. Esses princípios orientam o processo formativo organizado segundo as dimensões: humano-comunitária, espiritual, intelectual e pastoral-missionária. Para isso, os seminaristas são acompanhados pessoal e comunitariamente pelos reitores do seminário. Espiritualmente, contam com orientação comunitária do formador espiritual e individualmente, no foro interno, com os diretores espiritais que lhes são designados. Existem os momentos para oração pessoal e os encontros para oração comum, celebrações comunitárias e retiros espirituais. Academicamente, os seminaristas seguem o curso regular na faculdade de filosofia e, posteriormente, de teologia e contam com aulas extracurriculares, semanas formativas e outros cursos realizados no próprio seminário aproveitando, inclusive, período de férias acadêmicas. Contam com orientação psicológica dada de modo coletivo e direcionamento individual para casos específicos. Fazem estágio pastoral nas paróquias, sendo nos primeiros anos, confrontados com situações humanas de sofrimento e pobreza e, nos anos seguintes, a proposta cristã aplicada em pastorais específicas, pelas quais exercitarão a própria liderança. Uma vez ao ano, em geral no período de férias, realiza-se trabalho missionário, onde atuam conjuntamente em um local determinado.
Os reitores das casas da filosofia e da teologia são responsáveis por formações específicas mensais, seguindo o plano formativo estabelecido pela Diocese. Além da formação coletiva, fazem o acompanhamento individual por meio de conversas regulares sobre o aproveitamento de cada seminarista. Cabe também aos reitores fazer, por escrito, o escrutínio anual de cada seminarista e partilhar os resultados nas reuniões regulares do Conselho de Formadores e no Conselho dos Presbíteros neste, sobretudo, em vista às solicitações para ministérios de leitor e acólito, como também para o diaconado e presbiterado. Como bispo, além do acompanhamento junto com o Conselho de Formadores, celebro mensalmente com os seminaristas e, a cada semestre, tenho conversa individual com cada um, oportunidade em que trato sobre a caminhada que fazem, as dificuldades que enfrentam e o aproveitamento pessoal. Dessa maneira temos conduzido a formação dos nossos futuros padres e somos reconhecidos e gratos pela seriedade e dedicação como esse trabalho tem sido realizado.
Dom Wilson Angotti
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