Quaresma, oportunidade de descobrir: Quem é Jesus?

Chegamos a mais uma quaresma. O roxo toma conta dos ambientes celebrativos, os cantos penitenciais antigos e novos ecoam em nossos corações, a escolha de uma penitência, o jejum e oração tornam-se termos e atitudes, repetidos incessantemente nas liturgias dominicais. Não podemos esquecer-nos da Campanha da Fraternidade, que neste ano de 2009, expõe a problemática da Segurança Púbica e a busca da Paz como fruto da justiça.

Não quero nesta reflexão retomar os elementos que todos anos sabemos que são comuns a liturgia quaresmal, mas tentarei, responder ao título deste artigo: a quaresma como uma oportunidade de descobrir quem é Jesus.

Esta reflexão surge do evangelista que estamos acolhendo neste ano litúrgico, a figura de Marcos. Em seus escritos, ele deseja responder ao questionamento: Quem é Jesus?, por isso, “Marcos reuniu diversas tradições que a comunidade conservava de Jesus: milagres, exorcismos, parábolas e outras palavras de Jesus, como também o imponente relato da Paixão. Organizou tudo isso de uma forma bem simples: Jesus depois de batizado por João Batista, proclama a chegada do Reino de Deus, primeiro na região da Galiléia e, depois, subindo para Jerusalém, onde entra em conflito com as autoridades e morre na cruz” (cf. Introdução ao Evangelho de Marcos, Bíblia CNBB).

Este caminho nós percorreremos a cada domingo com Jesus. Neste itinerário quaresmal temos a oportunidade de nos autoavaliarmos e para isso, sofreremos as tentações de não fazê-lo (1º domingo, Mc 1,12-15). Assim, neste primeiro domingo, olhamos o Jesus que apresenta a face humana da Igreja. Uma Igreja (entenda-se cada batizado), que no deserto árido da evangelização sofre as tentações do ter, do ser e do prazer. E neste sentido descobrimos o Jesus que sustenta sua caminhada na profundidade da oração. Por isso, neste primeiro domingo, perguntamos com Marcos, quem é Jesus? E a resposta nos virá: aquele que supera as tentações com o amor de Deus.

No segundo domingo, temos o relato da Transfiguração (Mc 9, 2-10). Contemplamos antecipadamente o Mistério da Ressurreição, que resplandece na luz do transfigurado. Em visto do que percorremos este itinerário quaresmal? Em vista da nossa santificação, proveniente do Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

No terceiro domingo, saímos de Marcos e acolhemos os escritos de João 2,13-25. Aparece a temática do Templo. Cristo, o novo Templo nos diz como adorar a Deus. Aqui podemos nos perguntar, já praticamente no meio de nosso itinerário: que resultados têm dado a nossa prática penitencial? Que transformação interna ela tem trazido a cada um? Este exercício espiritual tem ajudado na edificação de nosso templo espiritual?

Mais uma vez, podemos compreender que o caminho percorrido por Jesus, quer levar-nos a contemplação da Salvação, aqui no texto, expressa pelo mistério da Ressurreição ou a destruição e a reconstrução do templo em três dias. Assim, a penitência pode ajudar-nos a reconstruir nossa relação com Deus e com os irmãos e irmãs.

No 4º Domingo, com Jo 3,14-21 celebraremos o domingo da Alegria ( do latim Laetare). Cristo vem restaurar, salvar e dar vida a seu povo. Tempo de experiência mais viva da participação no Mistério Pascal. Agora caminharemos com os escritos de João, até uma boa parte do tempo Pascal.

Aqui vale lembrar que o Ponto de partida para a interpretação da Quaresma deve ser o Mistério Pascal. Disso vamos entendendo as expressões da luz, da morte, da vida, do sofrimento, que brota do Cristo.

No 5º Domingo, com Jo 12,20-33, o Caminho do Cristão passa pelo sofrimento e pela cruz. Certamente percorrer estes 40 dias com o propósito de não perder a “penitência feita”, pode ser uma experiência profunda de sofrimento. Se a penitência levou a uma transformação, passando pela dor, ela certamente vai atingir seu objetivo. Assim, na descoberta de Jesus, entendermos que o cristão não está livre desta realidade, ou seja, da dor, do sofrimento, mas é muitas vezes, por estas situações que ele descobre o caminho da santificação. Assim, o anúncio, de qual morte ele devia morrer, trás para nós, o sentido de tantos “Cristos” que continuam morrendo ao nosso lado e não enxergamos.

Assim, ao percorrermos este tempo quaresmal, possamos perceber que é uma oportunidade em que Cristo santifica a sua Igreja. A Igreja (ecclesia) Povo de Deus é convocada para uma experiência junto com o seu Senhor. Chamada a deixar purificar e santificar-se pelo seu Senhor.

Um bom itinerário quaresmal a todos.

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