O Tempo Quaresmal, dentro do Ano Litúrgico, integra o ciclo pascal, quando a Igreja celebra o mistério da paixão, morte e ressureição de Jesus. É um tempo de preparação mais intensa pelas práticas da caridade, do jejum e da oração. Neste período, a Palavra de Deus proclamada na liturgia, especialmente nos domingos, destaca o aspecto penitencial e caminho batismal. Nesta entrevista, o Pe. Kleber Rodrigues, assessor diocesano da Liturgia, nos fala sobre o sentido espiritual deste tempo e como vivenciá-lo.
O LÁBARO: O que é a Quaresma e qual o sentido espiritual deste tempo?
Pe. Kleber: A quaresma é um tempo litúrgico que começa na Quarta-Feira de Cinzas e vai até o final da tarde que antecede a Missa da Ceia do Senhor, na quinta-feira santa. Sua principal finalidade é preparar os fiéis para a celebração da Páscoa, contemplando os três maiores dias de nossa fé, ou seja, a vivência do Tríduo Pascal. Trata-se de um período que evidencia dois aspectos significativos: o batismo e a penitência. Talvez estejamos mais acostumados a associar o tempo quaresmal ao sentido penitencial e nem tanto aos aspectos batismais. Pensar a quaresma com o sentido batismal é resgatar todo aspecto da “vida nova” que se celebra em Jesus Cristo, principalmente com o destino deste itinerário que é a Páscoa. De modo particular, os evangelhos dominicais deste ano reforçam este propósito, quando, no primeiro domingo, nos trouxe o tema da tentação, do deserto; no segundo domingo, a transfiguração; no terceiro, o encontro com a samaritana; no quarto, o cego de nascença e no quinto, a ressurreição de Lázaro. Penso que, neste ano, temos uma oportunidade de avançar na compreensão deste tempo litúrgico com o sentido batismal, para, então, chegarmos à festa pascal apresentando aquilo que produzimos como frutos quaresmais de conversão e que se tornam sinais de vida nova.
O LÁBARO: Quais os aspectos litúrgicos a serem observados durante o Tempo Quaresmal?
Pe. Kleber: Basicamente, temos a caridade, a oração e o jejum como práticas mais intensas. No entanto, as orientações litúrgicas nos remetem a um mergulho mais intenso no contato com a Palavra de Deus, através de uma leitura, meditação diária, o silêncio, a introspecção e a observância comportamental. Na esfera celebrativa, suprime-se o Hino de Louvor, o Aleluia, as flores, (exceto nas solenidades que ocorrem no tempo, a de São José, esposo de Maria e a Anunciação) como expressões desta busca da simplicidade e da interiorização.
O LÁBARO: Quais atitudes práticas podem ajudar os fiéis na vivência deste tempo?
Pe. Kleber: Vale ressaltar que os três elementos básicos da caridade, oração e jejum nos colocam em atitudes de relacionamento: com o outro, com Deus e consigo, respectivamente. Sentir que estamos em contato com o outro, com o divino e com o nosso interior faz parte deste processo quaresmal e não apenas realizar uma penitência sem atingir um objetivo ou alcançar uma meta. Trata-se de um período espiritual que une elementos externos e internos no desenvolvimento de nossa fé e prática cristã. Penso que escolher bem a penitência a ser feita, relembrar a ocasião do seu batismo, rezar por aqueles que lhe ajudaram na educação da fé, atitudes de caridade, valorizar as obras de misericórdia corporais e espirituais, podem ser atitudes que ajudarão a mergulhar na mística quaresmal
O LÁBARO: A Semana Santa, especialmente o Tríduo Pascal, é o ponto alto do Ano Litúrgico. O que se celebra em cada um dos dias e como os fiéis podem melhor participar dessas celebrações?
Pe. Kleber: “A Semana Santa, que inclui o Tríduo Pascal, visa recordar a Paixão e a Ressurreição de Cristo, desde a sua entrada messiânica em Jerusalém”. Costumamos dizer que se tratam dos três maiores dias da nossa fé, numa unidade celebrativa. Como perceber isso? Basta observar os ritos. Por exemplo: na quinta-feira santa não temos bênção final; na Sexta-Feira Santa não temos o sinal da cruz no início da ação litúrgica e terminamos em silêncio; do mesmo modo em que na vigília pascal iniciamos com os ritos de bênção do fogo novo. Isto tudo para demonstrar a continuidade celebrativa desses dias. Penso que mergulhar na dinâmica dos ritos, sem exibicionismo, sem teatralidade, faz com que cada momento expresse a sua força por si mesmo. Uma boa participação é construída pela organização dos ritos, da parte de quem preside, de quem atua nos ministérios de leitor e música, com seu testemunho de que está integrado na celebração, e da parte do povo, o chegar antes, a preparação sacramental da confissão dos pecados através dos momentos que são oferecidos pelas paróquias, a participação nas aclamações (respostas) e nos cantos, faz com que o rito nos coloque em comunhão.
O LÁBARO: Durante a Quaresma, a Igreja no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade. O que é a CF e por que é realizada durante este tempo?
Pe. Kleber: A Campanha da Fraternidade é uma ação eclesial, que visa trazer a dinâmica social deste período. Falamos da caridade, não apenas como “doar algo a alguém”, mas também, refletir, pensar, analisar e agir em favor do tema que nos é proposto, principalmente como resposta ao Evangelho que nos motiva.
O LÁBARO: Alguma outra orientação importante?
Pe. Kleber: Penso na profundidade espiritual que o tempo nos oferece. Acho que o maior desafio é superar a compreensão de um tempo de tradições antigas, procissões, ritos bonitos. Tudo isso é uma riqueza da Igreja e nos é oferecido como meio de crescimento espiritual, de conhecimento de Jesus Cristo, de prática evangélica e construção da santidade.
Pe. Jaime Lemes, msj