Na mitologia grega, o pomo da discórdia foi uma maçã (fruto mal afamado esse) que um deus do Olimpo lançou entre as deusas que disputavam entre si quem era a mais importante. O atributo do fruto já diz do resultado.
Lembrei desse mito ouvindo a Primeira Leitura do Primeiro Domingo da Quaresma (Gênesis 2,7-9; 3,1-7). Neste trecho bíblico ouvimos o relato da queda, do pecado original.
No Evangelho (Mateus 4,1-11), a segunda tentação alerta para a religião falseada, que perverte as Palavras do Senhor, como fez o tentador, para fazer prevalecer seus preceitos em vez daqueles de Deus, assim como antes fizeram Adão e Eva seduzidos pela tentação “sereis como Deus”.
Seguir o Cristo é caminhar com a Igreja. Estar em comunhão com a Igreja é obedecer aos seus pastores, é respeitar o Papa, Vigário de Cristo na Terra. A boa ovelha do rebanho escuta os pastores que passam pela porta, que é o Cristo, que é a Igreja. Quem sobe por outro lugar é mercenário e assaltante (cf. João 10,1).
Hoje a árvore do conhecimento é a internet. Nessa árvore se empoleirou novamente a serpente para inocular, nos que se aproximam, o veneno da dúvida e do desejo de autodeterminação absoluta.
O expediente é o mesmo: apresenta-se um discurso verossímil, recheado de passagens bíblicas, frases de santos, afirmações do catecismo e do direito. A intenção, no entanto, é enganar, semear a dúvida, é corromper corações e dividir o rebanho.
Sua pretensão é definir a religião a partir do ponto de vista pessoal e enquadrar a Igreja a partir de seu próprio modo de entender e querer. O “eu é que sei” se junta ao “tem de ser assim” numa verdadeira guerra santa para repetir um passado já superado, separando-se do resto do rebanho que caminha, guiado pelo Pastor, pelos caminhos que conduzem para o futuro, com os pés no chão e os olhos misericordiosos postos no irmão de caminhada. Pois a Igreja, fiel ao seu Senhor, “viu, sentiu compaixão e cuidou”, como no lema da Campanha da Fraternidade de 2020.
Não se deixe convencer pela serpente sedutora, ainda que com aparência de santidade. Se sua voz prega caminho diverso daquele que a Igreja faz, se contradiz o ensinamento dos seus pastores, se destila ódio e ressentimento, se se aferra a aparências, sinais externos e tradições que lhes são mais caros que a fraternidade e a obediência à hierarquia sacra, não a escute. Não seja discípulo de um homem, ainda que em vestes sacerdotais. Siga Jesus Cristo. Caminhe com o seu rebanho que é a Igreja de hoje, do Concílio Vaticano II, do Papa Francisco.
Cuidado com o “pomo da discórdia” lançado por alguns YouTubers ditos católicos. Seu fruto é sedutor, sempre parecerá “atraente aos olhos e desejável para se alcançar conhecimento” (Gn 3,6). Mas o resultado, já conhecido, é a desobediência à Palavra de Deus e o afastamento do seu caminho.
Pe. Silvio José Dias
Fonte: Jornal O Lábaro edição março 2020