Junho, Mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus

“Tomai sobre vós o meu jugo e de mim aprendei, que sou de manso e humilde coração” (Mt 11,29)

No mês de Junho, a piedade cristã se focaliza em contemplar o Sagrado Coração de Jesus. Um coração manso, humilde, disponível, acolhedor que vai ao encontro das pessoas aflitas e oprimidas. Coração pronto a oferecer gratuitamente compreensão e amor, que na sua infinita bondade atende as mais diversas súplicas, desabafos e angústias.

A devoção católica ao Coração de Jesus foi iniciada com os místicos dos séculos XI e XII, que encorajavam os fiéis a refletir sobre a Paixão do Senhor, venerando suas sagradas chagas e procurando refúgio no coração aberto pela lança do soldado (cf. Jo 19,34). São Boaventura foi um dos maiores místicos devotos do Coração de Jesus.

No século XVII, Santa Margarida Maria Alacoque teve por feliz graça visões de Jesus com Seu divino coração flamejante à vista sobre o peito – como são as imagens do Sagrado Coração de Jesus de nossos dias. Essa devoção, contrariando o jansenismo, pregava a universalidade da graça, ou seja, que Deus é rico em misericórdia para com todos, que se encarnou para salvar os homens, que não há pecado no mundo que não possa ser perdoado pelo Sacratíssimo Coração de Cristo.

Em 1856, o Papa Pio IX instituiu, oficialmente, a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus e em 1899 o Sumo Pontífice Leão XIII consagrou o mundo ao Coração de Jesus. Já São Pio X prescreveu que a consagração ao Coração de Jesus fosse renovada solenemente todos os anos diante do Santíssimo Sacramento exposto. Aos poucos nasceu a Ladainha do Sagrado Coração de Jesus, bem como o Apostolado da Oração.

Gostaria de ressaltar, relativo ao Coração de Jesus, duas dimensões fundamentais: a humildade e a mansidão apresentadas no Evangelho de São Mateus. Dimensões estas que o Coração do Cristo nos apresenta como características fundamentais da vocação cristã. Jesus nos ensina que o Seu coração é “manso e humilde” para com todos.

Seu divino Coração não conhece o cansaço nem o desânimo, no zelo pela salvação das almas, porto seguro para todos os navegantes e peregrinos desorientados. Seus batimentos e impulsos movimentam a Santa Igreja, e os santos a doar-se e a entregar-se por inteiros no anúncio do Reino.

De Seu Coração bombeia o Preciosíssimo Sangue, saciando nossa sede de infinito amor e de vida eterna. Seu Coração transbordante e transpassado é verdadeiramente o manancial da água viva do Espírito Santo, do calor de graças abundantíssimas, que revigoram toda a Igreja.

Quando Jesus fala que o seu coração é manso e humilde é Ele inteiro que encarna a mansidão e a humildade. Assim, São Paulo tem razão ao rogar aos Efésios que tenham “humildade e mansidão”, porque elas são características da vocação cristã (Ef 4,1-2).

O amor de Deus é para com todos, não faz distinções. Se a vida tem os seus percalços, as suas dificuldades, os seus problemas, e Deus tem consciência disso, devemos contemplar o amor de nosso Deus, que nos acolhe, que nos ama e que nos dá a força necessária para passarmos pela noite escura. Jesus é a Vida, que nos faz compreender as coisas certas. Jesus é a Verdade, para nos fazer encurtar distâncias. Jesus é o Caminho, desde que contemplemos o Seu coração manso e humilde. Só pode contemplar Seu divino Coração aqueles que têm a largura, o comprimento e a altura do amor de Cristo derramado sobre todas as criaturas no altar sacrossanto do Calvário. No pleno amor e na comunhão podemos contemplar o Sagrado Coração de Jesus como “fornalha de amor”, que destrói nossos pecados, que brota o fogo divino redentor que Jesus veio trazer a terra e que gostaria que incendiasse o mundo.

Falar do Coração de Jesus é mais do que evocar um símbolo. É apontar para a substancialidade do mistério de Cristo. Ele se personifica em seu coração e em seu amor. Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante a Sua Vida, Sua Agonia e Paixão e entregou-se por cada um de nós: o “Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim” (Gl 2, 20). Amou-nos a todos com um coração divino-humano. Por esta razão, o Sagrado Coração de Cristo, transpassado por nossos pecados e para nossa salvação é considerado o principal sinal e símbolo daquele amor com o qual o divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno e todos os homens (Catecismo da Igreja, nº 478, citando a Encíclica Haurietis aquas de Pio XII, nº 609).

Com este coração manso e humilde, divino-humano Jesus nos ama e nos ensina a amar: “Não há maior amor do que dar a vida por aqueles a quem a gente ama” – disse Ele (Jo 15, 13). E isto ele fez: morreu por todos nós na cruz. E mais: quis que, depois de morto, seu coração fosse aberto por uma lança, jorrando sangue e água (cf. Jo 19,34).

Coração de Deus, Coração de Homem – eis a expressão mais sublime do mistério de Cristo. Deus abriu-nos o Seu coração num coação de homem que o Verbo assumiu na Encarnação: “O Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós” (Jo 1, 14).

Um coração se abriu, nele todos podemos entrar. A Igreja, na sua teológica devoção, o chama: “Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade”. Se todas as pessoas quisessem Nele entrar, não haveria mais no mundo “corações brutos”. Nem corações para o ódio e para a guerra. Cada um de nós seria como Ele: “Coração de Homem, Coração de Deus”.

O Apostolado da Oração

“O Apostolado da Oração (AO) constitui a união dos fiéis que, por meio do oferecimento diário de si mesmos, se juntam ao Sacrifício Eucarístico, no qual se exerce continuamente a obra de nossa redenção, e desta forma, pela união vital de Cristo, da qual depende a fecundidade apostólica, colaboram na salvação do mundo”. (Estatutos do AO) Compete aos membros do Apostolado da Oração viver uma vida rumo à santidade, rezar e viver o oferecimento diário, buscar a transformação de vida nos colocando em comunhão universal de preces pela força do Espírito Santo que habita o coração da Igreja, vivenciar os mesmos sentimentos do Coração de Jesus, alimentar-se da Eucaristia, reconciliar-se com o Pai a partir do sacramento da Confissão, colocar-se plenamente de coração aberto e inteiro ao serviço do Coração de Jesus e da Igreja, a exemplo de Maria, para que o Reino de Jesus venha a nós, hoje, amanhã e por todo sempre.

O AO está intimamente ligado à Companhia de Jesus. Começou no ano de 1884 em um Colégio dessa ordem na França, onde estudantes de filosofia e teologia desejavam fundar algum apostolado. Contudo seu orientador espiritual lhes fez ver que enquanto eram estudantes não tinham condições para proferir pregações e outros trabalhos de apostolado direto. O que poderiam fazer era oferecer seus trabalhos, seus estudos, os sacrifícios voluntários e outros atos de piedade. Após dois anos, este mesmo padre orientador publicou um livro intitulado “O Apostolado da Oração”. O livro e a devoção obtiveram a aprovação do superior geral da ordem dos jesuítas, e o próprio Papa Pio IX aprovou-os em 1849. O grande teólogo, Padre Gautrelet, SJ, deu o embasamento teológico à devoção ao Sagrado Coração, bem como ao AO, e daí por diante a devoção se propagou rapidamente. Em 1861 começou a circular o “Mensageiro do Coração de Jesus”, como publicação oficial do AO. Posteriormente, o Mensageiro passou a ser publicado em vários idiomas e a associação recebeu estatutos próprios e a aprovação pontifícia.
Na Diocese de Taubaté contamos com a presença do AO em 28 paróquias. São atividades do AO em nível de paróquia: participar da Santa Missa nas primeiras sextas-feiras do mês, bem como fazer um momento de devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Em nível diocesano, a cada três meses são realizadas reuniões das coordenadoras paroquiais com o Assessor Diocesano do AO e, no mês de junho de cada ano, é realizada a concentração diocesana em uma das paróquias da diocese.
Roguemos ao Coração de Jesus que nos faça cada vez mais mansos e humildes de coração. Sagrado Coração de Jesus, nós confiamos em Vós!

Monsenhor Marco Eduardo Jacob Silva
Pároco da Igreja Catedral de Taubaté e Assessor Diocesano do AO

Fonte: Jornal O Lábaro edição junho 2015

Comente

×