Ecologia Integral: um apelo da CF-2025

Por ocasião das comemorações de São Francisco das Chagas, o “pobrezinho de Assis”, padroeiro da Diocese de Taubaté e patrono da ecologia, a entrevista desta edição aborda o tema da Campanha da Fraternidade de 2025 que trata da ecologia integral. Essa pauta tem sido defendida incisivamente pelo Papa Francisco e tornado uma marca do seu pontificado. Para falar sobre isso, temos a colaboração do Pe. Marciano Inácio, assessor da CF em nossa Diocese.

O LÁBARO: O que é a Campanha da Fraternidade e por que ela é realizada todos os anos no Tempo Quaresmal?

Pe. Marciano: A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que promove a solidariedade e a reflexão dos fiéis durante o período da Quaresma. Iniciativa essa que celebrou, neste ano, os seus  60 anos e tem como objetivos: despertar o espírito comunitário; educar para uma vida em fraternidade e renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação evangelizadora.

A cada ano, é escolhido um tema e um lema para definir uma realidade concreta a ser transformada em meio ao espírito quaresmal que une as exigências da conversão, da oração, do jejum e da esmola, na linha de uma questão humana e social. Ela convoca os cristãos à participação nos sofrimentos de Cristo como auxílio aos pobres e excluídos.

No entanto, a quaresma é um momento oportuno para a conversão exigida por Jesus: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). “A penitência do Tempo Quaresmal é também externa e social. Sua prática acontece de acordo com as possibilidades de nosso tempo, as realidades de cada região e as condições dos fiéis” (SC, n. 110).

A Campanha da Fraternidade, nos propõe realizar ações que testemunhem o arrependimento e a conversão pessoal, comunitária, eclesial e social. Ela dá à Quaresma o tom, ao mostrar o que o pecado pode fazer quando não o enfrentamos. Por isso, devemos vivê-la em espírito de conversão integral.

O LÁBARO: A CF-2025 traz como tema: “Fraternidade e Ecologia Integral”. O que podemos entender como Ecologia Integral?

Pe. Marciano: A ecologia integral toca profundamente as nossas vidas, a nossa civilização, o nosso modo de agir, nossos pensamentos, e está diretamente envolvida com a globalidade, totalidade e qualidade de vida. A Ecologia Integral assume que a dignidade de cada pessoa apenas se expressa numa lógica de relação com as outras pessoas e com o mundo. Respeitando a dignidade de cada pessoa, ou seja, a dignidade da criação.

Na Encíclica ‘Laudato Sì’, o Papa Francisco manifesta sua preocupação com “o que está acontecendo com a nossa casa comum” (LS 17) e afirma que “basta olhar a realidade com sinceridade, para ver que há uma grande deterioração da casa comum” (LS 27).

O LÁBARO: Na história da Campanha da Fraternidade neste século XXI, esta é a oitava edição que aborda o tema da ecologia. Por que é importante insistir nessa temática?

Pe. Marciano: A Ecologia reaparece no conjunto das CF’s de uma forma nova, como Ecologia Integral. Conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante nos dias atuais. Com o apelo especial a louvar a Deus pela beleza da Criação, a fazer um caminho decidido de conversão ecológica e a vivenciar a Ecologia Integral.

Portanto, neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025). É um convite à toda a sociedade para refletir sobre o cuidado da Casa Comum, em um momento de urgência climática e ambiental.

Campanha da fraternidade 2025: Fraternidade e a Ecologia Integral

O LÁBARO: A preservação do meio ambiente integrada à espiritualidade cristã é uma pauta que se destaca no pontificado do Papa Francisco. A encíclica “Laudato sì”, inclusive, se tornou uma referência para refletir sobre este assunto. De que modo os ensinamentos do Santo Padre podem se tornar ações concretas em nossas comunidades?

Pe. Marciano: O Papa Francisco, em sua encíclica ‘Laudato sì’, nos chama à atenção para o cuidado com a casa comum e para uma conversão integral que vai além do simples cuidado com a natureza. A Ecologia Integral propõe uma mudança profunda na relação do ser humano com o meio ambiente e consigo mesmo, compreendendo que tudo está interligado. O Papa Francisco nos recorda que o mundo é um ‘mistério gozoso que contemplamos na alegria e no louvor’.

A Casa Comum é uma responsabilidade teológica, espiritual e moral. Não se trata apenas de uma questão ambiental, mas de um chamado divino. O Papa convoca a humanidade para agir em favor de uma ecologia integral, da natureza e do homem na sua totalidade. Porque a relação com o meio ambiente, numa atitude egoísta, de indiferença, usando de exploração, de moralismo, com estilos de vida irresponsáveis, afeta a dignidade da pessoa e ameaça o futuro da humanidade.

O LÁBARO:  O padroeiro da Diocese de Taubaté, São Francisco, celebrado neste mês de outubro, é também patrono da ecologia. O que dele podemos aprender para melhor cuidar a criação?

Pe. Marciano: São Francisco representa um homem novo, que viveu uma experiência do o amor de Deus em Jesus crucificado, e reconciliou-se com Ele, com os irmãos e irmãs, com toda criação. Essa reconciliação ganha maior expressão no Cântico das Criaturas, composto por ele há mais de 800 anos.

Faz ressoar em nosso coração o desejo ardente de fazer essa experiência, tendo como exemplo aquele Francisco que ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. Mais tarde, compreendeu que tratava de algo bem maior, a Igreja mesma de Deus.

“São Francisco nos convida a ver o mundo não como um problema a ser resolvido, mas como um mistério que desperta louvor e gratidão. Isso nos leva a uma verdadeira conversão ecológica, onde o cuidado da criação passa a ser parte essencial da nossa espiritualidade” (Pe. Jean Paul, Secretário executivo de Campanhas da CNBB).

Que nosso padroeiro, interceda por nós e nos ajude a ser cuidadores de toda criação.

 

Por Pe. Jaime Lemes

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