DISCERNIMENTO VOCACIONAL

Eclesialmente, em nosso País, o mês de agosto é dedicado à reflexão vocacional. Consideramos de modo especial as vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Toda pessoa que pretende trilhar um desses caminhos, necessariamente, faz um processo de discernimento vocacional; ou seja, reflete sobre o que a move a tomar tal decisão. Esse processo de reflexão, escolha e decisão, em geral, se faz no tempo da juventude.  Trata-se de decisão importante, pois, orienta e determina todo o rumo de nossa vida; por isso, exige orientação e ajuda. Tendo presente as escolhas que se dão no âmbito eclesial, vamos considerar esse processo de decisão.

Vocação e profissão – A palavra vocação tem origem no latim e significa “chamado”. Em nossa reflexão, que se dá num contexto de fé, podemos dizer que havendo um chamado há alguém que chama. Consideramos que o chamado vem de Deus. Dizemos isso porque é Deus que suscita em nós a fé; é Ele que nos possibilita viver experiências que, dependendo de como forem significativas, serão também decisivas em nossa vida; é Ele que nos dota de habilidades que nos possibilitam realizar determinadas atividades. Considerando esses elementos, podemos dizer que todo chamado vem de Deus. É Deus que nos chama e nos prepara não só para vocações no âmbito eclesial, mas para todo tipo de vocação a ser concretizada no vasto campo da atividade humana. Assim sendo, além das atividades eclesiais, todo exercício profissional pode ser interpretado como vocação, como chamado de Deus. A vocação proveniente de Deus tem sempre uma dimensão de serviço; portanto, nunca é em benefício pessoal, mas tem o objetivo de conduzir ao bem, à verdade, à vida. Deus não chama simplesmente em função da pessoa, mas chama em função de um projeto maior, conforme seus desígnios de amor e salvação. Somos chamados à vida; chamados à santidade; chamados a vocações específicas que oferecem contribuição própria para benefício de todos. Há uma grande diferença entre aquele que, simplesmente, exerce uma profissão e aquele que o faz por vocação. Quem só exerce a profissão o faz pela própria subsistência, satisfaz as próprias necessidades; quem age por vocação o faz por ideal de serviço ao próximo e realização existencial. Nisto está toda a diferença! É muito significativo e realizador nos sentirmos vocacionados a serviço do bem, da vida, de um projeto de Deus que tem em vista a salvação da humanidade, ultrapassando qualquer projeto meramente pessoal.

Como identificar a vocação? –  Para identificarmos nossa vocação não temos que olhar para fora, como quem escolhe algo numa vitrine; temos que ter um olhar interior que busque identificar o que gostamos de fazer, quais habilidades temos, o que de útil poderemos oferecer aos outros. No âmbito da fé, podemos também perguntar: o que Deus espera de mim? como posso colaborar pelo bem da Igreja? pela difusão do Evangelho? ou no plano divino da salvação? Narrativas bíblicas apresentam belas histórias de pessoas que Deus chamou para alguma missão. Entre tantos outros, podemos lembrar: Samuel, que precisou da ajuda de Eli para identificar e responder ao chamado de Deus; Isaías que se sentiu chamado num contexto litúrgico; Jeremias que não sabia nem falar direito e se sentiu seduzido pelo Senhor; José chamado por meio de um sonho; Maria chamada por intermédio de um anjo (palavra que significa ‘mensageiro’); João Batista chamado a preparar o povo para receber o Senhor; Pedro e outros apóstolos que deixaram imediatamente a profissão para responder ao chamado do Senhor, e assim tantos outros. Talvez, lendo as narrativas bíblicas desses chamados, alguém possa pensar: se Deus se manifestasse com essa clareza para mim, seria bem mais fácil responder ao seu chamado. Porém, Deus não modificou sua maneira de agir. Na Bíblia, as experiências significativas são narradas de maneira grandiosa para evidenciar a ação de Deus; mas Deus não modificou sua maneira de chamar. Para perceber um chamado todos têm que estar atentos aos sinais. Quando temos vontade de realizar algo bom, isso já pode ser um sinal de vocação. Assim também quando temos o desejo de nos dedicar a uma causa boa e justa. Evidentemente as condições de vida que temos podem ter influxo sobre nossos desejos, mas será que isso também não pode ser interpretado como um projeto de Deus? Quantos outros, sob condições semelhantes, não sentiram o mesmo chamado!

Como fazer o discernimento – Para discernir uma vocação, um chamado de Deus é necessária a dimensão da fé; é preciso sensibilidade para perceber os sinais; é necessário refletir, analisar as motivações; pensar à luz da Palavra de Deus; colocar-se em oração. É muito importante ter um olhar especial para nossas motivações. Elas devem ser objeto de nossa atenção e análise, pois podem ser insuficientes, imaturas, inadequadas. Um exemplo disso seria a jovem que deseja entrar numa congregação porque gosta do hábito que aquelas religiosas usam. Assim também o rapaz que deseja ser padre porque terá autoridade reconhecida frente à comunidade. Bem diferente é a motivação de quem se sente atraído pelo serviço e pelo bem que poderá realizar. No processo de decisão ajuda muito participar de encontros de discernimento vocacional que Dioceses e Congregações Religiosas oferecem. Outro recurso indispensável é buscar o auxílio de um orientador espiritual que muito poderá contribuir para que a pessoa faça um discernimento maduro e consciente. Desejo que Deus ilumine e conduza a todos que estão nesse processo, pois, uma vocação acertada é a base para um futuro feliz.

Dom Wilson Angotti

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