A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com toda a Igreja, louva e bendiz a Deus pela Beatificação de Francisca de Paula de Jesus, carinhosamente chamada pelo povo de Nhá Chica, no sábado, 4 de maio de 2013, na cidade mineira de Baependi. O reconhecimento pela Igreja da santidade de Nhá Chica, passado pouco mais de cem anos de sua morte, confirma a importância de se colocar em relevo o exemplo de sua vida de fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho.
A Beatificação de Nhá Chica é uma mensagem de extraordinário significado e importância para nossa Igreja. Filha e neta de escravos, analfabeta, órfã ainda criança, viveu no escondimento, na pobreza e na simplicidade. Devota de Nossa Senhora da Conceição, consagrou seu tempo e consumiu sua vida, como leiga que testemunha a fé, servindo às pessoas, especialmente na nobre tarefa de escutar e aconselhar. Seu cuidado com os mais pobres rendeu-lhe o belo título de “Mãe dos pobres”. Aos que lhe atribuíam favores especiais, respondia com a verdade de quem crê: “Isso acontece porque rezo com fé”.
A biografia de Nhá Chica revela sua vida de intimidade com Deus e nos estimula a buscar o ideal proposto por Cristo, como nos lembra São Paulo: “A vontade de Deus é esta: a vossa santificação” (1Ts 4,3). O testemunho de nossa mais nova Beata torna-se, portanto, convite irrecusável a viver intensamente o encontro com Jesus Cristo que “implica necessariamente amor, gratuidade, alteridade, unidade, eclesialidade, fidelidade, perdão e reconciliação” e leva cada discípulo-missionário a se tornar “fonte de paz, justiça, concórdia e solidariedade” (cf. DGAE, 16).
Que a Beata Nhá Chica alcance de Deus graças e bênçãos para todo o povo brasileiro e nos ensine a trilhar o caminho da santidade, vivendo na simplicidade e na pobreza evangélicas.
Mais a frente ele escreve: “a maioria das pessoas quer apenas comprar, divertir-se, ter uma autoestima alta, gozar livremente, não sentir culpa alguma; enfim, ter uma vida moral de criança de dez anos de idade”.
De novo, espantosa a capacidade de dizer coisas de modo objetivo e direto, revelando um pensamento claro e distinto. Segundo ele mesmo confessa em seu artigo, essas são qualidades suas aprendidas num colégio jesuíta.
O filósofo citado é Luiz Felipe Pondé. Toda segunda-feira sai um artigo seu, no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo. Em seus artigos ele costuma colocar em evidência que é necessário ter coragem de ouvir e, depois, pensar e refletir. Sem essa coragem não será possível mudar, crescer, amadurecer.
Em vários artigos meus, publicados nesse periódico, chamei a atenção para essa característica dos tempos atuais: a imaturidade.
Muita gente se sente livre para fazer e dizer o que bem entende, porém, não quer assumir a responsabilidade pelos seus atos. Menos ainda, quer pagar a conta, isto é, não quer arcar com as consequências do que faz e diz.
Em vez de se dar ao trabalho de agir como pessoa adulta e responsável, prefere lançar mão de subterfúgios, buscam um bode expiatório ou tentam uma saída na base do “jeitinho brasileiro”. Tentam entorpecer a consciência em vez de enfrentar os próprios pecados. Tem aqueles ainda, que querem ter um pé na estrada do mundo materialista, hedonista e egoísta e outro, ao mesmo tempo, no caminho do Reino de Deus.
Desconsideram a máxima evangélica que diz ser impossível servir a dois senhores (cf. Mt 6,24, a propósito, vale refletir a passagem sobre o jovem rico, Mt 19,16-26). Há também, os que insistem nos seus direitos, mas, ressentem-se quando são cobrados de seus deveres religiosos.
Pondé, que não afirma ser um fiel da Igreja, apenas simpatizante, aponta, contudo, um ponto crucial da espiritualidade cristã. Ou enfrentamos corajosamente a verdade sobre os nossos pecados, sobre a moralidade de nossos atos, ou não vamos crescer espiritualmente. Restará, então, seguir uma espiritualidade infantilizada, a toda hora pedindo colo para Deus, fazendo bico quando é contrariado em seus desejos que se opõem aos princípios evangélicos ou mostrando carinha de coitadinho esperando que o papai passe a mão na cabeça dando aval para que continue a cometer livremente e sem culpa os pecados que pratica.
No evangelho é fácil identificar Jesus acolhendo os pecadores. Contudo, lá está também, esse mesmo Jesus despedindo o pecador perdoado dizendo-lhe “vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11). E quantas vezes ele devolveu a pergunta quando, sabidamente, o interlocutor queria apenas justificar seus atos, eximindo-se da culpa, para continuar em seu erro sem ter que “pagar a pena” por isso.
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Pe. Silvio José Dias