No contexto do 3º Ano Vocacional que estamos vivendo na Igreja do Brasil, a reflexão sobre a questão vocacional se faz presente em nossas comunidades de um modo mais intenso e especial. Embora haja um enfoque especial dado às vocações sacerdotais, dada a necessidade delas no momento atual, é fundamental considerar, também, as demais vocações. O Ano Vocacional convida-nos a considerar todas as formas de chamado, levando-nos a refletir sobre elas e a rezar por todas.
No rol das vocações, existe uma que se destaca pela sua importância, inclusive, em relação às demais: a vocação matrimonial. Isso porque, assim como o Sacramento do Batismo é a fonte de todas as vocações, as famílias, nascendo do Sacramento do Matrimônio, são o berço onde todas as vocações são primeiramente cultivadas.
Para se casar, nós assim o cremos na Igreja, o homem e a mulher precisam ter vocação para a vida matrimonial. Não basta a simples união biológica entre um homem e uma mulher para que haja um casamento feliz. Como Cristo santificou a união do homem e da mulher, fazendo dela uma imagem do amor com que Ele ama a sua Igreja, então já não se trata de uma mera união proveniente da natureza, mas de um mistério de união, amor e entrega. Para isso, é necessário saber-se realmente chamado por Deus a viver este estado de vida específico a que chamamos de Matrimônio.
Antes de se assumir a vocação matrimonial, é preciso discernir. O discernimento sincero proporciona que homem e mulher, sentindo-se chamados a viver o Matrimônio, optem por esta vocação e abram os corações para viverem um com o outro e um pelo outro a entrega de vida, à semelhança do que o Senhor faz por todos nós, pela Igreja.
Casar-se em Cristo, portanto, é uma realidade infinitamente maior e mais profunda do que, simplesmente, “juntar os panos” ou juntar histórias para viver um mero “relacionamento” em vista de não se ficar sozinho ou em vista da procriação para a preservação da espécie. O casamento, como nós, católicos, o entendemos e cremos, por ser um chamado especial de Deus, é a vocação para a participação dos cônjuges no mistério da união de Cristo com a Igreja.
Tal participação, justamente por ser uma vocação, é acompanhada de uma graça especial de Deus, o que chamamos de “graça de estado” e acontece com todas as vocações e com toda e qualquer missão que Deus confie ao ser humano: se Ele chama, é também Ele quem dá a graça necessária para que se viva o estado de vida assumido e para que se cumpra a missão recebida.
Então, o casamento é muito mais que homem e mulher morarem debaixo do mesmo teto: trata-se de morarem dentro do mesmo coração – o de Jesus! Somente assim se pode abraçar, com liberdade, a fidelidade que caracteriza a vida matrimonial, a qual se coroa com a bênção dos filhos.
Entretanto, como todas as demais vocações, também a matrimonial conhece suas canseiras. Também não é fácil ser casado! Por isso, é necessário que homem e mulher cultivem uma verdadeira espiritualidade conjugal, sem descuidar da individual. Um deve ajudar o outro na busca e na vivência da santidade, o que vai muito além daquilo que socialmente se define como buscar a felicidade.
Como o Sacramento do Matrimônio é entrega, os esposos, enraizados em Jesus Cristo, buscarão a felicidade um do outro, além da própria, e ambos desejarão o céu para si e para o outro. Assim, elementos como diálogo, correção fraterna, perdão, renúncia à própria vontade etc começarão a fazer parte da vida de quem se casa em Cristo para viver o chamado matrimonial.
Finalmente, outro elemento importante é a perseverança. Ela é quem faz com que os esposos cristãos católicos aprendam a descansar perante as crises, dificuldades e fases difíceis, ao invés de desistirem e partirem para novos relacionamentos.
Recomeços são sempre necessários na vida, o que ocorre também na vocação matrimonial. Porém, recomeçar com a mesma pessoa, na fidelidade, ao invés de aderir à mentalidade mundana do “encerramento de ciclos”, que nada mais é do que a velha cultura do descarte do ser humano requentada e travestida de busca de felicidade em nome de um amor egoísta, somente se mostra possível a quem está consciente de que foi chamado por Deus a viver uma vocação.
É, pois, de grande importância que os esposos decidam cuidar, juntos, do próprio Matrimônio, contando, para isso, com o auxílio da graça divina e com o cuidado da Igreja, vocacionada a cuidar do chamado de todos e de cada um dos seus filhos, com a finalidade de conduzi-los, pelo discernimento e cultivo da própria vocação, a uma autêntica realização pessoal, antecipação daquela plenitude que se viverá no céu.
Pe. Celso Luiz Longo