Pe. Celso Luiz Longo
Conceição Aparecida: os “sobrenomes” da Padroeira do Brasil
Neste mês de Dezembro, aproveitando a celebração da Imaculada Conceição da Virgem Maria (8/12), refletiremos sobre os dois “sobrenomes” da Padroeira. De fato, ainda que popularmente ela seja invocada como Nossa Senhora Aparecida, o seu nome oficial contém uma alusão ao dogma supracitado; oficialmente, se diz: Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Isso porque a pequena imagem encontrada nas águas do Rio Paraíba do Sul em outubro de 1717 é de Nossa Senhora da Conceição. Diante das inúmeras invocações da Virgem Maria, perguntamo-nos: por que justamente uma imagem de Nossa Senhora da Conceição foi achada no rio?
É preciso ir à história de Portugal para encontrar a possível resposta. Desde 1646, a nação que nos colonizou estava oficialmente sob o patrocínio da Virgem Maria com tal invocação. Embora a proclamação oficial da Imaculada Conceição de Nossa Senhora como dogma de fé pela Igreja tenha ocorrido em 1854, a nação portuguesa, muitos séculos antes, já cultuava a Virgem Maria como a Senhora da Conceição.
Nas origens de Portugal, tem-se notícia de que Dom Afonso Henriques mandou celebrar um pontifical em ação de graças à Imaculada pela conquista de Lisboa, em 1147. Depois, na Revolução que houve entre 1383 e 1385, quando Portugal lutou pela sua independência com o Reino de Castela, salienta-se que a vitória alcançada por D. Nuno Álvares Pereira em Atoleiros (06/04/1384), a eleição do Mestre de Aviz para Rei de Portugal (06/04/1385) e a Batalha de Aljubarrota (15/08/1385), também sob a chefia do mesmo D. Nuno, são fatos atribuídos à devoção do povo português à Imaculada Conceição – fato comprovado pela construção da Igreja de Nossa Senhora do Castelo em Vila Viçosa (hoje, um grande Santuário).
Finalmente, em 1640, em nova luta pela restauração de sua liberdade, Portugal aclama o então Duque de Bragança como seu novo rei, Dom João IV. Durante a coroação, ele recusou-se a colocar a coroa sobre sua cabeça, pondo-a aos pés da imagem da Virgem da Conceição, proclamando-a, assim, rainha de Portugal. Em razão disso, nenhum monarca da Dinastia dos Bragança é representado com a coroa na cabeça.
Com tais motivações históricas, é compreensível que a devoção à Imaculada Conceição tenha sido naturalmente incutida no Brasil pelos colonizadores portugueses. Ter uma imagem da Rainha e Padroeira de Portugal em casa, certamente, era algo muito comum e típico da devoção doméstica.
Acredita-se, pois, que uma imagem doméstica, colorida, é que tenha sido lançada nas águas do Rio Paraíba, algum dia, por alguém, talvez por ter se quebrado. O tempo de permanência dessa imagem nas águas do rio fez com que sua pintura desaparecesse, adquirindo a cor negra em razão do lodo subaquático até o dia em que a Divina Providência a colocou na rede dos três pescadores.
Carregada de história, a pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição foi carinhosamente chamada de “Aparecida” pelos primeiros devotos: era o jeito de dizerem que a imagem surgiu (apareceu) das águas, o que se revelou não apenas como uma casualidade, mas sim como um sinal do amor de Deus para com o Brasil – como, aliás, tem sido, há trezentos anos.
Os “sobrenomes” da Padroeira do Brasil sintetizam, pois, num misto de história, fé e devoção, a doutrina da Igreja (a Conceição Imaculada da Virgem é um dogma de fé segundo o qual Maria é concebida sem a mácula do pecado original) e o carinho dos devotos da primeira hora que, com seu vocabulário simples, chamaram a Virgem Maria de “Aparecida”.
Fonte: Jornal O Lábaro – dezembro/2016