AD LIMINA – ENCONTRO COM O PAPA

Na última edição do Lábaro, escrevi sobre a visita Ad Limina, relatando o significado, a preparação e a visita aos Dicastérios romanos. Nesta oportunidade, escrevo sobre o encontro com o Papa Francisco, que teve lugar no dia 23 de setembro, último dia da Visita. O encontro estava marcado para às 10h, numa das salas do “Palácio Apostólico”. Com boa antecedência, nós nos reunimos no “cortile S. Damaso” e, de lá, fomos conduzidos à sala da audiência. O Santo Padre nos recebeu à entrada, saudando a cada um, à medida que entrávamos na sala. Começou em pé, mas devido a um problema na articulação do joelho, o que lhe causa muita dor, logo pediu desculpas e sentou-se. Éramos 25 bispos e um padre administrador, das Dioceses das províncias eclesiásticas de São Paulo, Aparecida e Sorocaba. Logo de início o Papa dispensou toda formalidade. Disse que se tratava de um encontro de irmãos, que duraria por volta de duas horas e que ficássemos à vontade para perguntar sobre qualquer assunto, para comentar o que quiséssemos ou até mesmo para apresentar alguma crítica, caso tivéssemos. Assim começou nossa conversa. A cada assunto proposto o Santo Padre comentava com profundidade e clareza, tendo em conta o contexto global da Igreja e do mundo. Destaco, a seguir, minhas lembranças sobre os assuntos que foram abordados.

Dizendo que sempre repete isso aos bispos, o Papa disse-nos que devemos cultivar quatro proximidades: com Deus, entre nós bispos, com o clero e com os fiéis. Proximidade com Deus porque isso caracteriza nossa missão, pois estamos a serviço do povo nas coisas que se referem a Deus (cf. Hb.5,1). Devemos cultivar essa proximidade especialmente pela oração, pela leitura orante da Palavra de Deus, pela celebração dos Sacramentos. Proximidade com os outros bispos, pois constituímos um colégio episcopal; como sucessores dos Apóstolos participamos da mesma missão. Com o clero essa proximidade é tão necessária pois são nossos mais próximos colaboradores no ministério. Com os fiéis, a quem se destina nosso serviço, nossa proximidade deve ser de muita sensibilidade às situações e aos desafios que vivem. Essas O Santo Padre nos falou a respeito do Documento de Aparecida, elaborado pelo episcopado Latino Americano que completa 15 anos de sua publicação. Referindo-se a esse documento, do qual ainda como arcebispo de Buenos Aires ele participou ativamente da redação, o Papa disse que, recentemente, havia pedido que não fosse elaborado um novo documento, mas que se aprofundasse as importantes inspirações do Documento de Aparecida. Destacou a importância do discípulo missionário, que é formado pelo encontro com Jesus, que se dá pela Palavra de Deus, pelos Sacramentos e pela Comunidade. A Igreja é missionária e deve ser Igreja em saída, deve ir em direção às pessoas, sobretudo aos mais necessitados e àqueles que estão afastados. O espírito missionário deve continuamente mover a Igreja. Aproveitando essa deixa eclesial, ele nos falou também da disposição sinodal. É necessário fazer um caminho conjunto num processo paciente e aberto de escuta e de diálogo. Esse é o espírito suscitado pelo Concílio Vaticano II, sobretudo na Lumen Gentium. Pediu-nos que retomássemos esse documento conciliar assim como a Evangelii Nuntiandi, do papa Paulo VI, sobre a evangelização no mundo contemporâneo. Esses dois documentos foram a base da Evangelii Gaudium, em que o Papa nos faz pensar sobre a alegria de nossa missão evangelizadora.

Suscitada a questão de grupos conservadores, o Papa comentou que, sintomaticamente, os conservadores não buscam simplesmente voltar à uma liturgia do passado, mas resistem à ação do Espírito Santo que moveu o Concílio Vaticano II e colocou a Igreja em diálogo com o mundo (superando uma postura condenatória). O conservadorismo é querer voltar para trás. O Papa dizia que não é saudável voltar atrás e ficar detido num determinado momento da história. É como a criança que fica continuadamente em seu “cercadinho”, ela adoece. O conservadorismo adoece. A Igreja não pode ficar fechada em si mesma, deve ir aos outros, deve dialogar com as pessoas de seu tempo, deve ser Igreja em saída.

Por fim, o Santo Padre pediu-nos que tivéssemos atenção à formação dos novos padres e que fôssemos muito presentes no seminário. Que observássemos os critérios de seleção dos candidatos e que não tivéssemos pressa em ordenar se tivéssemos dúvida sobre algum candidato. Pediu que a formação privilegiasse a dimensão espiritual, a intelectual, a comunitária e a apostólica.

Do significativo encontro com o Sucessor de Pedro, entre outros assuntos também abordados, esses aspectos são os que destaco e apresento como minha memória daquilo que o Papa nos falou.

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