Vivenciamos caros leitores a grande experiência Pascal. Depois de percorridos os dias do Mistério da Paixão-Morte e Ressurreição, degustamos na liturgia, das conseqüências destes mistérios. O tempo pascal é belíssimo na sua liturgia, as experiências narradas pelo autor dos atos dos apóstolos e as narrativas evangélicas, levam-nos a uma profundidade de compreensão do que foi o início das comunidades que celebravam sua memória recente do ressuscitado. Mas olhando para este belo tempo, acredito que Jesus nos deixou aquilo que atrevo-me a chamar de “Sacramento do Ressuscitado”, ou seja, a Eucaristia. Por Ela podemos nos identificar com o Ressuscitado, dar a Ele uma resposta de fé, como Tomé, e abraçar a missão como a comunidade ungida pelo Espírito Santo. Por isso, colocamos a seguir alguns elementos da Eucaristia. A Eucaristia algo tão comum.
Diariamente, semanalmente, dominicalmente, anualmente, celebramos este sacramento. A Igreja nos diz, através do Catecismo, que ele é o SACRAMENTO DOS SACRAMENTOS. E por isso, a riqueza deste, se expressa de diversas formas. Seja no modo de cada padre de presidir, no modo de cada assembléia litúrgica presente, de cada região, de cada bairro, seja no modo de ser transmitido, acreditado, vivido e assumido. Por isto, se não nos atermos corrermos o risco de no comum da eucaristia, perder o sentido maior.
A importância do nome Eucaristia. Eucaristia tem sua origem grega, que vai significar, AÇÃO DE GRAÇAS. A profundidade desta palavra é expressa no simples modo de dizer que vamos a missa, que vamos assistir a missa, mas não temos o costume ou o hábito de dizer que vamos a Eucaristia, ou ainda, como algumas denominações religiosas utilizam, Santa Ceia. Não quero reduzir a expressão missa, mas alertar para o sentido de que, podemos estar distante, quando dizemos simplesmente que quero assistir a missa. Por isso, entender a missa como eucaristia, é dar um passo na fé. A missa é um rito ou ação, por isso, uma ação de graças, que precisa ser envolvida. A missa nada mais é do que o termo evoluído. 1. A EUCARISTIA MISTÉRIO PARTICIPADO: Então o que significa: Ir a Eucaristia? Significa ter o desejo de criar comunhão, de tornar-se um participante ativo, consciente, para poder colher os frutos do ato que celebramos. Participar do mistério, exige de nós uma disciplina espiritual, ou seja, dispor o coração para o culto, buscar o melhor lugar, desligar os aparelhos sonoros, para mergulhar no tempo da graça de Deus, sem se esquecer é claro de que quando chegamos, devemos primeiramente ir, onde está o dono do casa e saudá-lo, ou seja, a disciplina espiritual, começa por uma visita a capela do santíssimo. A nossa participação na vida eucarística, nasce nesta noite a partir das Palavras do Cristo. Nesta noite, tão bela nasce para a Igreja dois sacerdócios, um complemento do outro. O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio instituído. Num primeiro instante, pode-nos assustar a expressão de que enquanto povo de Deus, participante da missa, somos denominados SACERDOTES. O sacerdócio comum dos fieis nasce de Jesus Cristo e se concretiza a partir do nosso batismo. A partir dele passamos a fazer parte de um povo eleito, escolhido e denominado por Deus. Fazemos parte de uma Igreja, de uma instituição, de uma Paróquia de uma comunidade. Neste sacerdócio, recebemos a responsabilidade, a tarefa, a missão de continuar acreditando, participando, celebrando e vivendo o mistério que o Cristo hoje institui como expressão do amor. Ser um povo sacerdotal é acreditar que vocês existem para oferecer com o Cristo, com o padre, o sacrifício e recordá-lo. Cristo é o único e eterno sacerdote, mas pela sua graça nos faz participantes. Pelo amor que sente por nós, se faz oferta e ofertante em nosso coração quando diz: deixo isto para que façam sempre em minha memória. Nisto esta uma das graças do sacerdócio batismal: participar do sacerdócio de Jesus Cristo. E isto se dá a cada eucaristia que celebramos. Aqui ainda compreendemos porque a Eucaristia é um mistério participado. 2. A EUCARISTIA MISTÉRIO ACREDITADO: Por isso, um segundo passo na compreensão da Eucaristia, se dá, como Mistério Acreditado. Acreditar no que? Acreditar que tudo que fazemos não é uma peça teatral. Nem mesmo o gesto do lava-pés! Tenho pena daqueles que dizem que a Eucaristia é a mesma coisa toda vez e por isso não participam dela. O rito pode ser o mesmo, mas o momento espiritual é atualizado. Acreditar nas palavras de Jesus. Ai esta a grande novidade do culto cristão e a diferença do culto judaico. A crença nas palavras de Jesus na última ceia. É preciso dar veracidade as palavras de Jesus, onde ele diz, que aquele pão é o seu corpo e o vinho é o seu sangue. Confesso que imagino Jesus, fazendo uma “confusão mental” na cabeça dos apóstolos naquela noite! É por isso, que continuamos dizendo após a narrativa da ceia: Eis o mistério da fé! Eis o mistério acreditado! Por isso, para que o mistério seja participado ele precisa ser acreditado, assim a fé da Igreja é essencialmente eucarística. E saibam que quanto maior for a nossa fé na Eucaristia, mais será o nosso desejo de ser Igreja. É preciso acreditar que Jesus não dá alguma coisa, mas dá a si mesmo. 3. A EUCARISTIA MISTÉRIO A SER VIVIDO. Assim, uma coisa vai puxando a outra.
A eucaristia depois de ser um mistério participado, acreditado, é um mistério a ser vivido. Jesus disse: “Quem come deste pão viverá eternamente! Permanece em mim e eu nele!” A cada eucaristia que comungamos do Cristo, tornamo-nos participantes da vida eterna, mas com os pés no chão. Por isso, não podemos viver uma fábula eucarística. Pela eucaristia, tornamo-nos adultos na fé. Santo Agostinho em seu livro, as Confissões, diz que a eucaristia não deve ser simplesmente um alimento para a carne, ela deve levar-nos a transformação, ou seja, não é um alimento que se transforma em nós, mas somos nós que acabamos misteriosamente mudados por ele. Conclusão Que em cada eucaristia, tenhamos o mesmo sentimento dos discípulos de Emaús, que reconheceram Jesus ao partir do pão e voltaram alegremente para contar aos outros a experiência que tiveram de Jesus e no mesmo instante diziam: não nos ardia o coração quando ele nos falava pelo caminho. Que neste caminho que percorremos com estas palavras, o Jesus Eucarístico, tenha feito arder vossos corações, para que façam a cada dia dele, um sacrário. Um lugar de habitação.