O amor desinteressado deveria ser um resultado da vida cristã em nós.
Nem sempre conseguimos, mas a nossa incapacidade em alcançar não extingue o preceito sugerido por Jesus.
Em muitos momentos dos evangelhos, Ele nos convida à experiência do amor sem recompensas. Uma prática que requer maturidade emocional, pois é resultado da mais elevada forma de desprendimento.
Na dinâmica da vida é mais comum, e socialmente aceito, viver sob a regra da reciprocidade. Damos, fazemos, mas esperamos que os outros nos retribuam. Salvaguardamos os vínculos que só são saudáveis mediante o equilíbrio das trocas, pois, caso contrário, estaríamos numa relação abusiva, os nossos gestos de bondade deveriam ser como um carro que não tem retrovisor.
Neste tempo em que a visibilidade de tudo o que fazemos tornou-se natural, quase uma obrigação, a recompensa que esperamos adapta-se aos modelos de comunicação hodiernos. Colocamos a nossa caridade na vitrine das redes sociais, pois queremos ser reconhecidos como bondosos, e depois esperamos pelos comentários elogiosos e curtidas.
Mas você poderia dizer: “Precisamos mostrar, pois o bem merece ser noticiado”.
Sim, este pensamento é recorrente, você pode acreditar nele, mas ele não tem fundamento em Jesus.
No evangelho de Mt 6,3-4, há a recomendação da discrição.
“Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique escondida”.
Hoje, mais esclarecidos pelos postulados da Psicologia, entendemos melhor os fundamentos dos conselhos de Jesus. O hábito de alardear sobre as minhas obras de bondade, reforça naturalmente a fragilidade emocional que me habita. Evidencia a tendência de querer ser visto e admirado.
Desta forma, a minha capacidade de amar permanece submissa à minha necessidade de ser reconhecido e amado. O bem que faço não me alcança, pois se limita a ser um bem somente para o outro, pouco contribuindo para a minha elevação espiritual.
A minha capacidade de amar necessita de conversão diária. Para que eu seja capaz de ficar feliz, realizado, mesmo quando a minha bondade não fomentar retribuição.
De acordo com a sugestão cristã, preparar um banquete para quem não pode me retribuir o convite é uma forma de crescer neste propósito.
Que assim seja!
Por Pe. Fábio de Melo