Por Paulo Teixeira e
Padre Luís Paulo de Aquino Cunha
Em 19 de maio de 1843, Dom Carlos de Forbin Janson, Bispo de Nancy na França, com o desejo de ajudar as crianças da China devido ao grande sofrimento em que elas se encontravam, conforme cartas de missionários que lá atuavam, decide convocar as crianças de sua Diocese para ajudarem as crianças chinesas. Ele propõe a elas recitarem uma Ave Maria por dia e doarem um dinheirinho por mês em prol daquelas crianças chinesas. Nascia assim a “Santa Infância”, em homenagem a uma devoção existente na França à Infância do Menino Jesus.
Infância e Adolescência Missionária (IAM)
Atualmente presente em mais de 130 países, a Infância Missionária alcança crianças necessitadas de todos os lugares, culturas, raças e crenças. Hoje com o nome de Infância e Adolescência Missionária (IAM), foi proclamada pelo Papa Pio XI, como Obra Evangelizadora à Serviço de toda Igreja, passando assim a ser uma Obra Missionária Pontifícia.
A IAM tem por objetivo suscitar o espírito missionário universal nas crianças, desenvolvendo o protagonismo na solidariedade e na evangelização. Sua máxima é “Crianças ajudam e Evangelizam crianças”.
As crianças e adolescentes da IAM tomam como exemplo Jesus Cristo e seus discípulos e tem em Maria uma fiel testemunha da ação evangelizadora. Inspiram-se também em São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, Padroeiros das Missões. Ambos viveram intensamente o carisma missionário, doando suas vidas pelo anúncio do Evangelho.
Na IAM, grupos são formados por 12 crianças ou adolescentes, simbolizando os Apóstolos. A partir dos 4 anos já é possível a criança participar dos grupos e, a partir dos 16 anos, o adolescente pode tornar-se um assessor.
O menino e a menina da Infância Missionária anunciam Jesus com palavras. Mas, antes disso, mostram com sua vida, com suas atitudes, pelo serviço fraterno e solidário que são amigos de Jesus. Ser missionário, missionária é seguir Jesus e continuar aqui na terra a “missão de Jesus, Filho de Deus e do Espírito Santo que tem origem em Deus Pai”.
A Infância Missionária e as outras Pontifícias Obras Missionárias realizam esta tarefa de conscientizar todos os católicos, desde a infância, com este espírito verdadeiramente universal e missionário, no pleno sentido da palavra (cf. AG 38).
Presença da IAM na Diocese de Taubaté
No Brasil todo, a IAM conta cerca de 30 mil crianças e adolescentes em seus grupos. Existe um secretário nacional, o Padre André Luiz de Negreiros, que trabalha em Brasília, na sede das Pontifícias Obras Missionarias (POM). Todo ano, ele se reúne com os coordenadores estaduais para avaliarem e traçarem planos para a caminhada da IAM no Brasil.
Na Diocese de Taubaté, a Obra da Infância Missionária foi implantada por volta de 1996, pelo Padre João Francisco Bernardes, que montou uma equipe diocesana e implantou a Obra em varias paróquias. Até o ano de 2002, eram realizados anualmente encontros diocesanos e formação para assessores e assessoras. Nesses eventos, assessores e crianças de varias paróquias participavam e partilhavam suas experiências entre os grupos. Os trabalhos foram retomados em 2006. Desde então, a Diocese de Taubaté conta com uma equipe diocesana, coordenada pelo casal Fátima e Paulo Teixeira e assessorada por Padre Luis Paulo de Aquino Cunha.
Atualmente, a IAM está presente em três paróquias da diocese. Em Caçapava, na Paróquia Menino Jesus, em Campos do Jordão, na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus e, em Taubaté, na Paróquia Menino Jesus, que é conduzida pelo Instituto Missionário São José.
Igreja “em saída” missionária
O tema da Campanha Missionária de 2015 destaca a essência da mensagem de Jesus. Ele veio “para servir” (cf. Mc 10, 45). Diante da tentação do poder, Jesus dá uma grande lição: “Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos” (Mc 10,44). Essa sabedoria é o lema da Campanha.
O papa Francisco, nos recorda que, “na doação, a vida se fortalece, e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar vida aos demais” (EG 10). O papa insiste ainda em uma Igreja “em saída”, com as portas abertas, despojada para servir.
A missão é de Deus, para a qual somos chamados a colaborar. Não podemos fugir dessa responsabilidade. O Decreto Ad Gentes do Concílio Vaticano II afirma que “toda a Igreja é missionária e a obra de evangelização, o dever fundamental do Povo de Deus” (AG 35). “A Igreja peregrina” é “missionária por natureza” (AG 2), essa é sua vocação própria, sua identidade mais profunda (cf. EN 14), sua razão de ser, sua essência estruturante e seu serviço à humanidade (cf. DP 1145; RMi 2). Dizer Igreja é dizer missão. De fato, “a Igreja nasce da missão e existe para a missão” (DGAE 2011, 76). A Campanha Missionária nos lembra que “Missão é Servir” a humanidade.
A missão é a razão principal da existência da comunidade de fé. Tudo o que se faz na comunidade é feito em função da Missão. Nesse sentido, toda a ação da Igreja, seus planejamentos e objetivos devem girar em torno da missão. O Deus que aparece desde o Genesis ao Apocalipse é sempre aquele que vem até nós, nos transforma pelo seu poder restaurador e por fim nos envia. Não dá pra fugir dessa dinâmica.
“Vem, agora, e eu te enviarei ao Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Ex 3, 10). Envolvimento com a missão sem envolvimento com Deus não perdura. A grande dificuldade da Igreja e de muitos em diversos momentos reside nesta questão. Nós descobrimos que aqueles que estão oprimidos são nossos irmãos e irmãs, ficamos revoltados e interessados em ajudar, nos envolvemos por um breve momento. Mas em meio aos desafios fugimos nos acomodamos e nos esquecemos. Nesta fase de sua vida Moisés ainda não conhecia a Deus. Participar plenamente da missão implica num encontro pessoal com Deus. Foi no encontro com Ele que Moisés se envolveu definitivamente com a missão. Foi através do diálogo com Deus que Moisés descobriu que o seu povo ficara no Egito e que era preciso retornar e participar do movimento de libertação do povo.
Ser missionário não é privilégio de determinadas pessoas, mas a essência de ser cristão: “Anunciar o evangelho é necessidade que se me impõe” (I Cor 9, 16). É um compromisso de toda a comunidade que vive e transmite a sua fé. “Nenhuma comunidade cristã é fiel à sua vocação se não é missionária”. Ser missionário não é só percorrer grandes distâncias, ir para outros continentes, mas é a difícil viagem de sair de si, ir ao encontro do outro, ir ao encontro do diferente, ir ao encontro dos pobres e marginalizados, os preferidos de Jesus.
A missão nos permite criar novos laços, novas relações, um novo jeito de olhar a vida, um novo jeito de ser Igreja. E aqui vai o desafio: como eu posso ser missionário em minha casa, no trabalho e na comunidade em que vivo? Assumo o compromisso de cristão, vivendo e transmitindo a boa-nova da paz, da justiça, do amor, do perdão, da fraternidade, da acolhida? Ser missionário é fazer uma decisão radical de entrega total ao reino de Deus.
Roteiro para implantar a IAM em sua paróquia
Muitas paróquias não conseguem encontrar a forma ideal para iniciar o trabalho da Infância Missionária. Eis algumas sugestões de planejamento:
1- Realizar um encontro com as crianças interessadas em participar da Infância Missionária. Preferencialmente, escolha um sábado ou domingo, com duração de 3 horas, com lanche comunitário no intervalo e algumas brincadeiras sadias.
2 – Crianças e pré-adolescentes podem ser convidados através de cartazes espalhados pela paróquia e comunidades, nas escolas, nas missas etc. A participação deve ser controlada através de inscrições contendo o endereço completo, telefone, e informações, além do horário do encontro e lanche comunitário.
3 – No dia do encontro, uma equipe de acolhida deve identificar cada criança com um crachá e entregar o material disponível. Uma bandeira colorida, representando os cinco continentes, deve ser entregue a cada criança. Se possível, outros materiais como Caderno Missionário, Livro de Diretrizes e Orientações, Camisetas, Lenços, Terços Missionários, também podem ser distribuidos.
4 – Desde a chegada das crianças, a equipe de animação deve iniciar os cantos. Não é necessário distribuir folheto de canto para as crianças. Porém, devem ser selecionadas apenas músicas conhecidas e com gestos. O Hino da Infância Missionária é a única música obrigatória. Utilize dinâmicas como as músicas da Olaria, Jacaré, Formiguinha, Boi, dentre outras.
5 – O encontro deve iniciar com a entrada de Nossa Senhora (preferencialmente carregada pelo Padre), da imagem dos Santos Padroeiros (Santa Teresinha do Menino Jesus e São Francisco Xavier), o terço missionário, o globo representando a universalidade da Missão, dos panos coloridos (ou fitas) representando os cinco continentes e outros símbolos pertinentes. Pode-se usar papel crepom colorido. Todo este material deve ser arrumado no altar, ou no palco ou na frente do salão.
Lembramos as cores que representa cada continente: Oceania/azul, África/verde, Europa/branco, Ásia/amarelo, América/vermelho. O globo pode ser comprado em papelarias ou lojas de artigos importados, como as lojas de R$ 1,99 (os globos pequenos de 10 cm custam cerca de R$ 3,00). O terço missionário também pode ser feito usando bolas de isopor pintadas (tamanho grande) ou comprado pronto em lojas de artigos religiosos (terço comum).
6 – O Padre inicia agradecendo a presença de todos. Anuncia a alegria de estar iniciando a Infância Missionária na Paróquia e dá a bênção. Posteriormente, convida a equipe para iniciar os trabalhos.
Fonte: O Lábaro – outubro/2015
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