Por Pe. Jaime Lemes, msj
Misael da Silva Cesarino, 68, é pindamonhagabense de origem, nascido numa família de seis irmãos. Atuando na Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso, traz consigo as marcas de uma história curiosa e de um testemunho cristão bonito e empolgante. Sendo de uma família de formação cristã evangélica, converte-se ao catolicismo, torna-se um evangelizador apaixonado e realiza a sua vocação no Ministério Diaconal, que completa neste mês 24 anos.
O LÁBARO: Como foi a sua formação cristã?
DIÁCONO MISAEL: Na minha infância e adolescência segui uma orientação religiosa evangélica recebida da minha família, pois meu falecido pai e dois dos meus tios paternos eram pastores evangélicos. Na minha juventude afastei-me da orientação religiosa familiar, isto, por volta do ano 1966, quando fui prestar serviço militar e cursar a escola de Sargento do Exercito. Graduando-me como sargento, servi a nação por um período de oito anos. Depois, deixei a vida militar, pois não conseguia conviver com o regime da Ditadura Militar vigente no País. Quando sair da vida militar, fui trabalhar na iniciativa privada, exercendo minha profissão de tecnólogo pleno em mecânica.
O LÁBARO: Fale sobre como começou a sua participação na comunidade.
DIÁCONO MISAEL: Minha participação ativa na vida religiosa na Igreja Católica, mais precisamente na Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso, começou no ano de 1984, quando participei com minha esposa de um Encontro de Casais com Cristo, realizado aqui no nosso Centro de Pastoral. Neste encontro fui grandemente tocado por uma palestra cujo tema era “O Filho Pródigo”. Naquele dia procurei Monsenhor Gil Claro, que estava atendendo aos casais e relatei minha história de vida, e ele me acolheu como um filho e me orientou a caminhar na vida comunitária. Daquele dia em diante passei a frequentar assiduamente a Santa Missa, a atuar nos círculos de casais, e a proclamar a palavra de Deus na Santa Missa etc. Mais tarde, fui convidado pelo Monsenhor Gil a me preparar para o exercício do Ministério Extraordinário da Comunhão Eucarística, e após a preparação, recebi a missão de cuidar pastoralmente da Capela São João Bosco, numa comunidade rural, atendendo-a de quinze em quinze dias, por um período de dois anos.
O LÁBARO: E a vocação ao Diaconato, quando e como surgiu?
DIÁCONO MISAEL: No ano de 1988, a pedido do Monsenhor Gil, deixei a Capela Dom Bosco e recebi a incumbência de atuar como Ministro na Comunidade Nossa Senhora de Fátima. Ali, junto aos membros da comunidade, estruturei o Dízimo, organizei a celebração semanal da Palavra de Deus nas casas, implantei a celebração dominical semanal, motivei a comunidade a se construir como igreja humana e igreja templo. Trabalhei arduamente com um grupo de pessoas para preparar a comunidade Nossa Senhora de Fátima, em vista da sua elevação a condição de Paróquia a pedido do Monsenhor Gil e do Dom Antônio. Essas experiências de trabalhar junto com o povo, vendo e participando das suas necessidades espirituais e materiais, foram despertando em mim a vocação, o chamado para, de uma forma mais concreta, consagrada, servir ao Senhor. Fortes convicções começaram a surgir em meu coração: eu sentia que a vida ministerial consagrada como diácono, era a vontade de Deus para minha vida. Após discernir o chamado para o diaconato e após expor minha vocação a Dom Antônio Affonso de Miranda, fui por ele recebido com muita alegria e deu-se então o início da minha preparação teológica para o ministério diaconal.
O LÁBARO: Como a sua família acolheu a sua decisão de se tornar um diácono?
DIÁCONO MISAEL: Minha mãe, meus irmãos, primos e parentes, por serem evangélicos, não me aceitaram nem como católico quanto mais como diácono. Essa aceitação foi conquistada ao longo dos anos pelo meu testemunho de vida cristã católica. Minha esposa e meus filhos acolheram com muita alegria a minha decisão de tornar-me diácono.
O LÁBARO: Como foi o processo de formação para o Diaconato?
DIÁCONO MISAEL: No ano de 1988 fui estudar teologia para leigos no Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus – Conventinho – hoje faculdade Dehoniana. Concluído o curso de teologia, tive uma preparação específica para o ministério diaconal, acompanhada e orientada pelo Dom Antônio Affonso de Miranda e por docentes indicados por ele, até o ano de 1991. Em 15 de junho 1991, recebi o ministério do Leitorato, e no dia 23 seguinte, recebi o ministério do Acolitato. Fui admitido ao estado de clérigo no dia 18 de agosto daquele mesmo ano. Em 31 de agosto de 1991, depois de concluída minha preparação e confirmada a minha vocação para o ofício ministerial, por graça de Deus, em uma bela e participativa Celebração Eucarística realizada por ocasião do Jubileu do Santuário Nossa Senhora do Bom Sucesso, fui consagrado pelo sacramento da ordem ao ministério diaconal, pela imposição das mãos do então Bispo Diocesano Dom Antônio Affonso de Miranda. Depois de ordenado, procurei realizar com muito empenho o meu Ministério, e com isso conquistei o respeito e reconhecimento de todos os párocos e irmãos leigos da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, onde atuei como diácono cooperador, por delegação do senhor Bispo diocesano Dom Antônio. Durante dez anos na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, ajudei na consolidação pastoral da Paróquia, onde, por um processo de Evangelização realizado de casa em casa, construímos a Igreja de São João Evangelista no Jardim Morumbi, e ali atuei até ser transferido, a meu pedido, no ano 2001, por Dom Carmo João, para paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso.
O LÁBARO: Como o senhor faz para conciliar vida familiar e vida ministerial?
DIÁCONO MISAEL: Para que eu pudesse ser ordenado e “Servir ao Senhor com Alegria”, como é o lema da minha ordenação, foi imprescindível o “sim” de minha esposa Cida. Não um “sim formal”, diante do Bispo Diocesano, através de uma carta-compromisso, mas um “sim” que carrega em si muitas renúncias – muitos passeios e lazer deixaram de acontecer. Um “sim” que exigiu ser repartido com a comunidade, com o Reino de Deus. Um “sim evangélico” – lúcido e desprovido de artifícios poéticos, mas cheio de amor pela Igreja, um sim que renuncia a si próprio para edificar aquilo que se ama. Um “sim” que exige dela ajudar-me a ser fiel ao meu compromisso assumido diante de Deus e da Igreja. Portanto, minha esposa e meus filhos são grandes incentivadores do meu ministério. Meus filhos, já casados, sentem-se orgulhosos do meu trabalho ministerial. Eu tenho sempre procurado ser coerente com a dupla sacramentalidade, pois sempre procuro no período de férias viajar com minha esposa, e após minha atividade ministerial (celebrações ou reuniões de pastoral), sair com ela para jantar.
O LÁBARO: Qual a importância do Diaconato Permanente na vida da Igreja?
DIÁCONO MISAEL: O Diaconato Permanente, enquanto sacramento de Cristo-Servo e expressão de uma Igreja servidora, ocupa um lugar privilegiado na missão eclesial. Ele desempenha uma função importante na tarefa de tornar a Igreja mais apta para levar ao mundo sua mensagem de verdade e salvação. Por suas características de ministro ordenado, o diácono, por ser casado e ter uma profissão civil, estar próximo ao bispo e seu presbitério, das famílias e dos colegas de profissão, como homem de Igreja e profissional, participa ativamente dos acontecimentos do mundo secular e se faz testemunha do Evangelho, na prática da Caridade, na animação, reavivamento e organização das comunidades em vista do serviço aos pobres, o que agrega uma experiência significativa para a Igreja em nossos dias. Esse ministério é importante, pois entre outros serviços, pertence a nós, diáconos, assistir ao bispo e aos sacerdotes na celebração dos santos mistérios, sobretudo da Eucaristia, distribuí-la, assistir aos Matrimônios e abençoá-los, proclamar o santo Evangelho e pregá-lo, presidir os funerais e realizar os diversos serviços da caridade. O diaconato permanente oferece à Igreja a possibilidade de contar com uma pessoa, que pode ser de grande ajuda para as tarefas pastorais e ministeriais.
O LÁBARO: Além das atividades pastorais na paróquia, que trabalhos o senhor já desenvolveu na Diocese de Taubaté?
DIÁCONO MISAEL: De 1997 a 2002, juntamente com o Padre Antônio Robson, Missionário de São José, estive à frente da coordenação diocesana da Exigência do Anúncio, onde ministrei para a diocese vários cursos de formação de Evangelizadores, tais como: Ministério da Visitação Missionária, Ministério da Acolhida e Evangelização de Crianças. Nesse período ajudei a formar para as paróquias pessoas capacitadas na arte de evangelizar e acolher, através de cursos sistematizados realizados no âmbito diocesano e paroquial. Também, por dois mandatos consecutivos exerci a coordenação e vice-coordenação do Conselho Diocesano de Diáconos. Em 2002, a pedido do meu Pároco, Pe. Luiz Carlos de Souza, iniciei a implantação, formação e estruturação da Comunidade São Lourenço, composta pelo bairro da Mombaça, Campo Belo e Mariana, como orientador espiritual. Ali, junto com a comunidade, adquiri três terrenos e construí a Igreja-templo, e o mais importante construí uma igreja viva, que hoje conta com duas missas dominicais e outra nas quintas-feiras. Nesta comunidade está organizada uma catequese com mais 140 catequizando, Escola da Palavra, Pastoral Familiar, Corpo de ministros (MECE e Leitores), Equipe de liturgia, CCP, Dízimo, RCC, Pastoral da Criança, Vicentinos, Comissão de eventos e obras. Está em construção um centro de Pastoral e Catequese para melhor acomodar as crianças e promover as atividades pastorais e sociais. Em 2013, recebi da parte do pároco, Pe. Luiz Carlos, uma nova missão, a de organizar administrativamente uma equipe e buscar junto à prefeitura, a oficialização da construção de um templo na Comunidade Beira-Rio, já em adiantado estágio de construção, dedicado a São Pedro Apóstolo, e ali dirigir espiritualmente a Comunidade.
O LÁBARO: No dia 31 de agosto o senhor completará 24 anos de ministério diaconal. Qual o significado desse tempo dedicado ao serviço da Igreja para a sua vida?
DIÁCONO MISAEL: A maior motivação e significado que tem sido o meu ministério, é poder sentir que Deus quer precisar de mim para que o seu plano de amor e justiça aconteça na Igreja e no meio da nossa sociedade; que sou por imensa bondade de Deus canal de suas bênçãos para as pessoas, principalmente para aqueles que mais precisam, os pobres e necessitados. Acredito que o significado da minha missão é levar as pessoas a sentirem o amor de Deus. Sabemos que o amor atrai as pessoas. Jesus atraía tantas pessoas porque vivia no amor. E o que a nossa sociedade precisa é de alguém que seja testemunha autêntica do amor de Deus. Desse modo, eu, como consagrado ao Senhor, resumo minha missão diaconal em testemunhar o amor de Deus, “servir ao Senhor com Alegria”.
O LÁBARO: Nesse tempo de diaconato, quais foram os seus maiores desafios?
DIÁCONO MISAEL: O maior desafio foi, quando eu era supervisor numa empresa metalúrgica, ser um chefe coerente com o evangelho num ambiente em que a produtividade e o lucro são metas e a mundanidade está presente. Um Chefe que fosse um exemplo, que testemunhasse a grandeza do meu ser cristão, ser diácono, para os meus subordinados e para os meus superiores.
O LÁBARO: Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
DIÁCONO MISAEL: Finalizo, deixando a vocês um lembrete da experiência que fiz e faço do “servir ao Senhor com alegria”, porque o servir é uma decisão pessoal, é uma entrega. É sermos humildes para reconhecer que alguém precisa de nossa ajuda. É olharmos ao redor e percebermos que existe alguém chorando, necessitando de cuidados. A Palavra de Deus diz que Jesus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Flp 2,7,8). Que verdade maravilhosa! Jesus abriu mão de sua divindade para servir. Façamos o mesmo. Paz e bem!
Foto: Diácono Misael proclama o evangelho em missa do Advento
Fonte: Jornal O Lábaro – edição de agosto de 2015