A Praça São Pedro viveu neste domingo uma manhã de festa, com mais de cinquenta mil pessoas que participaram do encontro do Papa com os anciãos e avós provenientes do mundo inteiro. Convidado pelo Papa Francisco, encontrava-se presente também Bento XVI, que participou do primeiro momento do encontro, retirando-se antes do início da santa missa, que constituiu a segunda parte.
De fato uma grande festa, animada, entre outros, pelas músicas apresentadas pelos cantores Andrea Bocelli e Claudio Baglioni, e marcada pelo testemunho de alguns dos presentes, em particular, o de Mubarak, refugiado do Curdistão iraquiano, acompanhado de sua mulher Aneesa, casados há 51 anos, com dez filhos e doze netos. Mubarak recordou os sofrimentos de seu povo.
“Agradeço a vocês por terem vindo tão numerosos”, disse o Papa no início de seu discurso aos presentes, agradecendo também a Bento XVI por sua presença. “Várias vezes disse que gostava muito do fato de ele morar no Vaticano, porque é como ter um avô sábio em casa”, frisou.
Em seguida, referindo aos testemunhos, quis destacar um deles, a dos irmãos vindos de Qaraqosh, Iraque, fugidos de uma violenta perseguição.
“É belo que vocês estejam aqui hoje: é um dom para a Igreja. Oferecemos-lhes nossa proximidade, nossa oração e ajuda concreta. A violência sobre os anciãos é desumana, como a violência sobre as crianças. Mas Deus não os abandona, está com vocês!”, disse Francisco.
“Estes irmãos testemunham-nos que também nas provações mais difíceis, os anciãos que têm fé são como árvores que continuam a dar fruto. E isso vale também nas situações mais ordinárias, onde, porém, pode haver outras tentações, e outras formas de discriminação.”
Francisco afirmou que a velhice, em particular, é um tempo de graça, no qual o Senhor nos renova seu chamado: chama-nos a custodiar e transmitir a fé, chama-nos a rezar, especialmente a interceder; chama-nos a estar próximo de quem precisa.
Em seguida, o Santo Padre afirmou que foi confiada uma grande tarefa aos avós que receberam a bênção de ver os filhos dos filhos:
“Transmitir a experiência da vida, a história de uma família, de uma comunidade, de um povo; partilhar com simplicidade uma sabedoria, e a própria fé: a herança mais preciosa! Bem-aventuradas aquelas famílias que têm um avô próximo! O avô é pai duas vezes e a avó é mãe duas vezes.”
Mas nem sempre o ancião, o avô, a avó, tem uma família que pode acolhê-lo, observou o Pontífice. “E então, são bem-vindas as casas para os anciãos… desde que sejam verdadeiramente casas, e não prisões! E sejam para os anciãos, e não para os interesses de outro alguém! Não devem existir institutos onde anciãos vivem esquecidos, como que escondidos, descuidados”, exortou.
Francisco disse sentir-se próximo dos muitos anciãos que vivem nestes Institutos, e pensar com gratidão naquelas pessoas que vão visitá-los e cuidam deles. “As casas para anciãos deveriam ser ‘pulmões’ de humanidade num país, num bairro, numa paróquia; deveriam ser ‘santuários’ de humanidade onde quem é ancião e frágil recebe cuidados e proteção como um irmão ou uma irmã maior”, disse.
O Papa chamou a atenção também para a realidade do abandono de anciãos:
“Quantas vezes descartam-se os anciãos com atitudes de abandono que são uma verdadeira eutanásia escondida! É o efeito daquela cultura do descarte que faz muito mal ao nosso mundo. Descartam-se as crianças, descartam-se os jovens, porque não têm trabalho, e se descartam os anciãos com a pretensão de manter um sistema econômico “equilibrado”, no centro do qual não está a pessoa humana, mas o dinheiro. Somos todos chamados a contrastar esta venenosa cultura do descarte!”, exortou.
Dito isso, o Papa afirmou que “nós cristãos, junto a todos os homens de boa vontade, somos chamados a construir com paciência uma sociedade diferente, mais acolhedora, mais humana, mais inclusiva, que não precisa de descartar quem é frágil no corpo e na mente, pelo contrário, uma sociedade que mede seus ‘passos’ justamente nessas pessoas”.
O Papa concluiu seu discurso aos idosos com uma exortação: “Como cristãos e como cidadãos, somos chamados a imaginar, com fantasia e sabedoria, os caminhos para enfrentar esse desafio”. E fez, em seguida, uma advertência.
“Um povo que não protege os avós e não os trata bem é um povo que não tem futuro! Por que não tem futuro? Porque perde a memória, e deixa suas raízes. Mas atenção: vocês têm a responsabilidade de manter vivas essas raízes em vocês mesmos! Com a oração, a leitura do Evangelho, as obras de misericórdia. Assim permanecemos como árvores vivas, que mesmo na velhice não deixam de dar fruto. Uma das coisas mais bonitas da vida de família, de nossa vida humana de família, é acariciar uma criança e deixar-se acariciar por um avô e uma avó.”
Após o discurso do Papa teve início a segunda parte do encontro com os avós, a santa missa presidida por Francisco e concelebrada por numerosos sacerdotes anciãos. O Pontífice, comentando na homilia o Evangelho do encontro entre Maria e a anciã prima Isabel, ressaltou que não há futuro “sem esse encontro entre as gerações, sem que os filhos recebam com reconhecimento o bastão da vida das mãos dos pais”.
Por vezes há gerações de jovens que, por complexas razões históricas e culturais, vivem de modo mais forte a necessidade de tornar-se autônomos dos pais, quase ‘libertar-se’ do legado da geração precedente. “É como um momento de adolescência rebelde. Mas se depois o encontro não é recuperado, se não se reencontra um equilíbrio novo, fecundo entre as gerações, o que deriva disso é um grave empobrecimento para o povo, e a liberdade que predomina na sociedade é uma liberdade falsa, que quase sempre se transforma em autoritarismo.”
“Maria – ressaltou – soube ouvir aqueles pais anciãos e cheia de admiração fez tesouro da sabedoria deles, e isso foi precioso para ela, em seu caminho de mulher, de esposa, de mãe:
“Assim, a Virgem Maria nos mostra o caminho: o caminho do encontro entre os jovens e os anciãos. O futuro de um povo supõe necessariamente este encontro: os jovens dão a força para fazer caminhar o povo e os anciãos robustecem essa força com a memória e a sabedoria popular.”
Ao término da missa o Papa conduziu a oração mariana do Angelus recordando a Beatificação, este sábado, de Dom Álvaro del Portillo, sacerdote, bispo e primeiro sucessor do fundador do Opus Dei, São José Maria Escrivá de Balaguer:
“Seu exemplar testemunho cristão e sacerdotal – disse – possa suscitar em muitos o desejo de aderir sempre mais a Jesus e ao Evangelho.”
Em seguida, recordou que no próximo domingo terá início o Sínodo dedicado à família, convidando “todos, indivíduos e comunidades, a rezarem por este importante evento” que confia a Maria Salus Popoli Romani (Maria Proteção do Povo Romano). Por fim, invocou “a proteção de Nossa Senhora para os anciãos do mundo inteiro, de modo particular por aqueles que vivem em situações de maior dificuldade”. (RL)
Texto proveniente da página http://pt.radiovaticana.va/news/2014/09/28/papa:_um_povo_que_n%C3%A3o_cuida_dos_av%C3%B3s_e_n%C3%A3o_os_trata_bem_%C3%A9_um_povo_sem/bra-827976
do site da Rádio Vaticano
Comente