Natal: manifestação do mistério de Cristo e do mistério do homem

O Natal é manifestação do mistério de Cristo. A necessidade de salvação nos estimula a abrir-nos a um conhecimento mais pleno da pessoa de Jesus: a sua mensagem, a sua palavra, as suas ações, o seu modo de se situar diante da vida.

O Natal coloca a cada um a pergunta dirigida por Jesus aos apóstolos: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem (…) E vós quem dizeis que eu sou”. Cada cristão deveria confessar de maneira convicta e com alegria: “(…) Tu és o Cristo,o Filho de Deus vivo!”(Mt 16,16).

O Natal é revelação do mistério do homem. Como afirma o Vaticano II (1962-1965) na Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo,” na realidade,só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem”(GS,n.22).

O Natal é memória atualizada do acontecimento da salvação para quem acolheu e conheceu Cristo; é, por isso, uma história que continua, porque, Cristo quer renascer hoje nas nossas casas, no nosso coração, na nossa vida. Como expressou São Máximo o Confessor: “O Verbo de Deus (…) deseja ardentemente nascer segundo o Espírito naqueles que o querem e tornar-se menino que cresce com o crescer das suas virtudes”.

Escreveu São Bernardo de Claraval: “… Quando veio a plenitude dos tempos, veio também a plenitude da divindade (…). Grande certamente é a bondade de Deus e certamente uma grande prova de bondade ele deu unindo a divindade com a humanidade” (Discurso 1 para a Epifania, 1-2).

Jesus é a plenitude do amor e da revelação de Deus, é portador de novidade absoluta: “De sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça”. Trata-se do amor que dá a vida, como ele a deu (Jo13,1;15,13). Corresponder ao seu amor é fazer o que ele fez, ou seja, amar sem limites.

Deus se fez gente como nós para revelar o amor fiel que tem para conosco. Somos convidados a nos alegrar, pois, o Filho de Deus, assume radicalmente o humano. Jesus é o ponto de encontro da humanidade com Deus.

Deus tirou todos os véus que impediam sua comunicação coma humanidade, falando-nos por meio do seu Filho Jesus. E à medida queformos novos Cristos, também nossa ‘carne’ (nossa vida e história) será uma palavra de Deus para nossos irmãos e irmãs, e mostrará ao mundo o verdadeiro rosto de Deus: um rosto de amor.

“Por ele (Cristo), realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova em plenitude. No momento em que ele assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (Prefácio do Natal III).

Com a encarnação do Filho de Deus a esperança é renovada. É possível um mundo de paz, justiça, amor e fraternidade. Com a encarnação, Jesus uniu todas as pessoas.Deus se fez solidário com todos.Emerge a vida, alegria e encontro. Todo o cosmo é atingido pelo mistério da encarnação. O Verbo entrou na história, recriando todas as coisas.

O Natal requer de cada um o empenho por uma solidariedade concreta, feita de obras e de sinais visíveis. De fato a descoberta do dom de Deus nos leva a uma humilde valorização dos dons que cada um recebeu também para os outros; é o convite a sair de nós mesmos para a superação do próprio egoísmo, do desinteressa pelos outros.

O Natal é convite à alegria.No dia do nascimento de Jesus, o anjo revela aos pastores: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor”(Lc 2,10-11). A alegria natalina exprime confiança na história porque ela foi atravessada pela salvação.

Como lembra-nos a liturgia devemos “ser interiormente renovados à imagem do Filho de Deus que se manifestou na nossa carne mortal”. O Natal é a festa do homem novo, do homem que renasce e é renovado, que pode ser filho e herdeiro de Deus e, portanto, partícipe do seu futuro.

Prof. José Pereira da Silva

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