Por quê esse tema? – Com o intuito de celebrar o Ano Santo, em 2025, o Papa Francisco pediu que nos dedicássemos à oração, ao longo deste ano. O objetivo é nossa preparação em vista ao “Jubileu da Esperança”. A oração foi marcante na vida terrena de Jesus Cristo e é indispensável na vida do cristão. Como o compromisso do cristão com a oração não é só por um ano, mas contínuo, aproveitamos para considerar esse tema.
Oração na Bíblia – No AT a oração tem relação direta com os acontecimentos, com a história do Povo de Deus. Os grandes momentos da história do povo são marcados pela oração dos mediadores do povo, como Moisés, os sacerdotes, os reis, os profetas; estes exercem a função de intercessores do povo junto a Deus. Na Bíblia, o livro dos Salmos se destaca como livro de orações, que expressam as mais diversas situações da vida do povo: alegria, lamento, confiança, súplica, força na provação, louvor, ação de graças, …. todos os bens se buscam e se encontram em Deus. Os salmos expressam a alegria de estar com Deus e habitar em sua casa. O próprio Jesus rezou servindo-se dos salmos, nas sinagogas e até na cruz, quando rezou o salmo 22: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Os evangelistas registraram muitas ocasiões de Jesus em oração. Antes de começar sua atividade pública Ele esteve 40 dias em oração; isso revela a relação entre a oração e a missão. Sem oração nossa ação pastoral pode ser até bem planejada e muito eficiente, mas não será eficaz, pois quem faz frutificar é Deus. Também vemos Jesus em oração antes de escolher os apóstolos; em seu batismo; tantas vezes se afastando dos discípulos e da multidão para colocar-se em oração; na transfiguração; na sinagoga, que é local de escuta da Palavra e de oração, aos sábados, conforme seu costume; também no jardim das oliveiras; na cruz; e em muitas outras ocasiões, como relatam os evangelhos.
Além do exemplo de oração, Jesus também ensina a orar: “Quando orardes, dizei….” (Lc. 11,2). O “Pai nosso” é o ponto alto do ensinamento de Jesus sobre oração; é prece dirigida a Deus como Pai, em quem se confia. A vontade d’Ele deve ser buscada, não a nossa (Mc.14,36). Devemos rezar para nos conformar à vontade de Deus, não para tentar convencer Deus a fazer a nossa vontade.
Jesus ensina a rezar no recolhimento: “entra no teu quarto … ora ao teu Pai reservadamente…” (Mt.6,5-8). Ele ensina a orar sem multiplicar as palavras; não é rezar longamente, multiplicando palavras, que garante sermos ouvidos (Mt.6,7). Jesus mesmo ensina que devemos pedir: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis. Pois todo aquele que pede recebe…” (Lc.11,9-10). Diz para pedir com insistência: “Jesus propôs uma parábola (do juiz injusto) para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc.18,1). Por outro lado, também ensina que o Pai celeste sabe do que temos necessidade antes mesmo que nós lhe peçamos (cf. Mt.6,8). Ao contar a parábola do fariseu e do publicano que rezavam no templo, Jesus ensina que a oração deve ser feita com humildade, pois Deus resiste aos orgulhosos e dá sua graça aos humildes (cf. Lc.18,9-14). Jesus ensina a pedir em seu nome: “…até agora nada pediste em meu nome; peçam e receberão” (Jo.16,24). Pedir em nome de Jesus não é simplesmente invocar seu nome, mas é pedir vivendo unido a Ele, querer o que Ele quer, viver segundo seus mandamentos, sobretudo o amor. Aí seremos atendidos e nossa alegria será completa. Não progride na oração aquele que, por seus atos, se afasta do Senhor. “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Mc 7, 6). Por sua vez, a oração nos move a conformar nossa vida à vontade de nosso Senhor. Esse é o exemplo que contemplamos na vida dos santos. A oração conduz à uma vida de comunhão com o Senhor, à uma vida de santidade. Não pode agradar ou servir a Deus quem não se dedica à oração. Os Apóstolos e a Igreja nascente aprenderam do exemplo de Jesus. O livro dos Atos dos Apóstolos registra: “Todos eram unânimes na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais estava Maria, mãe de Jesus” (At.1,14). Deus enviou a nós o Espírito de seu Filho que clama Abbá, Pai (cf. Gl.4,6), para que nós O busquemos como Pai; nEle confiemos e vivamos como filhos no filho Jesus. É o Espírito Santo que nos leva a reconhecer Deus como Pai e a orar, vindo em auxílio de nossa fraqueza (cf. Rm.8,26). Assim, nossa oração será disposição em concretizar na terra a vontade de Deus-Pai; fará frutificar nossa missão; nos fará considerar o outro como irmão e cuidar do mundo como obra de Deus e nossa casa comum. A oração nos coloca em harmonia com Deus e com toda criação.
Cultivar a prática da oração – Como discípulos de Jesus, nossa oração tem que ser inspirada na prática de Jesus Cristo ou não será oração cristã. A oração pode ser mental ou vocal. As que expressamos verbalmente são chamadas de oração vocal; são as orações que repetimos de cor, as que fazemos em comum, o rosário e o saltério (rezar com os Salmos). Existe também a oração silenciosa, que chamamos de oração mental. Cada modo de rezar pode servir a um momento específico. Tendo presente o exemplo de Jesus, cultivemos a prática diária da oração. Que seja uma oração que brote do coração e não simplesmente dos lábios. Seja a partir da Palavra de Deus. Santo Agostinho dizia que nós falamos a Deus por nossa oração e Ele nos responde por sua Palavra. A oração nos conduzirá à uma comunhão mais profunda com Deus e à uma vida cristã mais intensa. Aprendamos de Jesus, rezemos sempre!
Dom Wilson Angotti
Bispo Diocesano