Nem todo católico se sente à vontade quando ouve falar de meditação. Parece que meditar é um verbo próprio a outras religiões, bem diferente dos tradicionais rezar, celebrar e adorar.
Quando trabalhava com a Pastoral da Comunicação, conheci um casal ligado ao movimento internacional de Meditação Cristã, conduzido por um beneditino inglês chamado Dom Laurence Freeman. Eles me convidaram para um café em sua casa e, ali, explicaram-me sobre a WCCM (World Community for Christian Meditation), a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã. Da conversa brotou novo chamado: ir meditar com eles.
Assim, passei cinco dias em sua casa, praticando a meditação três ou quatro vezes ao dia: antes do café da manhã, antes do almoço, antes do jantar e, às vezes, antes de dormir. Eram sessões de trinta minutos cada. Às vezes passava disso, durante uma hora completa. Um despertador no celular, com sons de sinos, avisava a hora de começar e o momento de encerrar o exercício.
Na primeira tentativa, a mente ficou bastante agitada. Havia uma luta constante entre pensamentos acelerados, preocupações e ansiedade, de um lado, e a disciplina de respiração e repetição de uma palavra orante, de outro. A ideia era bastante simples e poderia ser resumida, à guisa de introdução didática, aos seguintes passos: (1) sentar-se em uma posição cômoda, para permanecer nela durante toda a prática; (2) oferecer a Jesus o exercício a ser começado; (3) repetir, no ritmo da respiração, uma palavra que funcione como guia para atravessar a tempestade da mente; (4) utilizar uma palavra que não obrigue a mente à reflexão, mas que a ajude a evitar raciocínios lógicos – para isso, a primeira sugestão que se dá é a palavra “maranatá”, que vem do aramaico e significa “Vem, Senhor!”; (5) por fim, agradecer pelo tempo passado diante de Deus.
Após cinco dias, tínhamos praticado ao menos quinze sessões, que representavam sete horas e meia de meditação. Parece muito, mas não é tanto: há meditadores que tomam três horas, em um único dia, para isso. Ainda assim, como foi estranhamente positivo, após esse tempo, o desabrochar de um sentimento de “ser outro”!
Meditar muda a percepção, a sensação de mundo, os ritmos interiores, o sabor das coisas, a relação com Deus.
Todo cristão deveria experimentar, sem precisar sair da sua própria fé, a graça que é a oração de meditação.
Pe. Marcelo Henrique, reitor do Seminário de Filosofia