Pede-nos o Papa Francisco que “rezemos para que nós, cristãos, diante dos novos desafios da bioética, promovamos sempre a defesa da vida com a oração e a ação social”.
A palavra bioética vem das palavras bios (vida) e ética (moral). A bioética, a partir da descrição do dado científico, biológico e médico, examina racionalmente a licitude da intervenção do homem sobre o homem. A bioética é a ética da vida. Vida que deve ser respeitada e defendida da concepção á morte natural.
A Igreja tem uma contribuição indicando caminhos de resolução de problemas éticos complexos, respeitando o bem da pessoa, o bem comum e a própria vida.
Portanto a bioética é o estudo sistemático das dimensões morais – incluída a visão moral, das decisões, da conduta entre outros – das ciências da vida e da saúde, com o emprego de uma variedade de metodologias éticas em um planejamento interdisciplinar.
A bioética atua em vários âmbitos: a) problemas éticos dos profissionais da saúde; b) problemas éticos emergentes no âmbito das investigações sobre o homem; c) problemas sociais ligados as políticas de saúde, a medicina ocupacional e as políticas de planejamento familiar e controle demográfico; d) problemas relativos a intervenção sobre a vida de outros seres viventes (plantas, micro-organismos e animais) e em geral o que se refere ao equilíbrio do ecossistema.
Quando a bioética é separada da ética, ou seja, da racionalidade e do valor fundamental da vida, abandonada à sorte da pura tecnologia e da arbitrariedade legal, ela se torna perigosa. É isso que o Papa Francisco alerta-nos. A bioética ocupa uma dimensão interna à técnica-ciência e que essa relação intrínseca ajuda a evitar uma deterioração.
A bioética deve servir e defender a vida, deve defendera dignidade da pessoa humana, objeto próprio da bioética. Dignidade que vem do homem ser criado à imagem e semelhança de Deus, espírito e corpo, ser racional e relacional, chamado à comunhão com os outros e à doação para os outros.
A bioética é o resultado não apenas de um desenvolvimento acelerado das ciências tecnológicas, mas resulta também do fato de que surge num contexto sociocultural particular e atinge, de um modo ou de outro, toas as dimensões da vida do homem.
Necessitamos de uma reabilitação dos valores morais que fundamentam as atitudes humanas; precisamos da ética, de teorias filosóficas sobre os valores e normas que devem nortear as nossas decisões e comportamentos. A atual crise deve ser entendida como uma oportunidade; importa encontrar uma resposta para os desafios do presente. O Papa Francisco nos fala de respostas cristãs aos desafios da bioética. A questão da escolha é, portanto, essencial.
A bioética, ética aplicada às ciências da vida, surge na interseção de uma crise de valores e de normas coletivas com o desenvolvimento do individualismo das pessoas e do pluralismo das sociedades. Estimula o debate público sobre as escolhas para o nosso futuro, promovendo uma alteração de consciência, incentivando a participação informada e responsável dos cidadãos.
A bioética como ciência transdisciplinar, começa a ser reconhecida como a componente indispensável da formação do cidadão e do cristão empenhados na vida coletiva, tornando-se numa ética do cidadão, enquanto reflexão sobre a ação que se desencadeia, desenrola e se repercute na comunidade global.
A bioética quando considerada sob o ponto de vista da educação para a deliberação, constitui uma oportunidade excepcional para o desenvolvimento de competências reflexivas, críticas, de base plural e democrática.
A bioética deve servir a humanidade, promover e elevar a humanidade, a nossa qualidade humana. O respeito incondicionado da dignidade humana. Porque o compromisso fundamental do Evangelho, isto é do Cristo e da Igreja, com o homem na sua humanidade.
Na promoção e no cuidado integrais da vida e da saúde, devemos destacar a importância da dimensão espiritual. Isto supõe atenção explícita a ela, e ao modo como pode permear os âmbitos em que os saberes técnicos atuais e que não lhe são indiferentes. A igreja deve dar sua contribuição cristã ás questões da bioética e dialogar com as correntes culturais e intelectuais da contemporaneidade. Não se pode reduzir tudo à técnica é sempre preciso encontrar o limite quanto às possibilidades tecnológicas. Não podemos satisfazer-nos com um progresso econômico ou científico que não se interrogue a cerca o seu impacto sobre a humanidade. A tecnologia deve está a serviço da humanidade e não a humanidade ao serviço da tecnologia.
A Igreja tem constantemente lembrado que a bioética deve proteger e promover a vida humana em todas as suas fases. São João Paulo II fez muitos apelos a integração da pesquisa científica com a ética e também a luz que vêm da Revelação Cristã, particularmente diante dos perigos do utilitarismo. O Papa Bento XVI destacou o tema da consciência cristã e a relação entre razão e fé, ética e ciência e o papel da consciência moral. O Papa Francisco chama-nos a atenção à ecologia integral e também aos cuidados paliativos e às implicações ligadas ao desenvolvimento e ao uso da inteligência artificial e da robótica, à eutanásia e o aborto.
Ética e direito, defesa da vida e defesa da dignidade humana, uma visão antropológica básica que focaliza o valor da pessoa humana. Mas também os desafios colocados pela ciência e tecnologia que nunca são neutros. No horizonte da bioética global exige que ampliemos a análise para as transformações trazidas pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia e que verifiquemos o impacto na qualidade de vida humana. Desafios em um planeta onde as possibilidades de desenvolvimento, de vida, de uso de tecnologias não são para todos.
A confiança na ciência nunca deve nos fazer esquecer o primado da ética; a confiança na razão abre e enriquece o diálogo com a fé. E no desafio para a defesa da vida, o primado da consciência moral está em primeiro plano.
Rezemos por um mundo onde a tecnologia esteja a serviço dos povos e da vida humana na defesa da sua dignidade. Façamos o que pede o Papa Francisco: promoção da vida, orações e ações sociais!
Prof. Dr. José Pereira da Silva