Jesus anuncia que: Ele é o Bom Pastor, em quem o próprio Deus cuida da sua criatura, o homem, reunindo os seres humanos e conduzindo-os à verdadeira pastagem. São Pedro, a quem o Senhor ressuscitado tinha confiado a função de apascentar as suas ovelhas, de se tornar pastor com Ele e por Ele, qualifica Jesus como o “Archipoimen” o Supremo Pastor (cf. 1 Pd 5, 4), e assim procura dizer que só é possível ser pastor do rebanho de Jesus Cristo por meio Dele e na mais íntima comunhão com Ele.
O bom pastor é aquele que dá a própria vida pelas suas ovelhas; Ele as conhece e elas o conhecem; e está ao serviço da unidade. Jesus, antes de se designar a si mesmo como Pastor, diz algo que nos surpreende: “Eu sou a porta” (Jo 10, 7). É através dele que se deve entrar no serviço de pastor. Jesus põe em evidência de maneira muito clara esta condição fundamental, afirmando: “Quem… sobe por outro lado, é um ladrão e assaltante” (Jo 10, 1). Esta palavra, “sobe” anabainei, em grego evoca a imagem de alguém que escala um recinto para ir, ultrapassando, aonde legitimamente não poderia chegar. “Subir” aqui se pode ver também a imagem do carreirismo, da tentativa de chegar “ao alto”, de procurar uma posição por meio da Igreja: servir-se, não servir.
É a imagem do homem que, através do sacerdócio, quer tornar-se importante, ser um personagem; a imagem daquele que tem em vista a sua própria exaltação e não o humilde serviço a Jesus Cristo. No entanto, a única subida legítima rumo ao ministério do pastor é a cruz. Entra-se no sacerdócio através do Sacramento e isto significa precisamente: mediante a entrega de si mesmo a Cristo, a fim de que Ele disponha de mim.
O pastor dá a vida pelas suas ovelhas: O mistério da Cruz encontra-se no centro do serviço de Jesus como pastor: este é o grande serviço que Ele presta a todos nós. Ele entrega-se a si mesmo, e não apenas num passado longínquo. Na Sagrada Eucaristia, realiza isto todos os dias, doando-se a si mesmo mediante as nossas mãos, entregando-se a nós. Por isso, justamente, no centro da vida sacerdotal encontra-se a Sagrada Eucaristia, em que o sacrifício de Jesus na Cruz permanece contínua e realmente presente no meio de nós. E a partir disto aprendemos também o que significa celebrar a Eucaristia de maneira adequada: trata-se de um encontro com o Senhor, que por nós se despoja da sua glória divina, se deixa humilhar até à morte de Cruz e assim se entrega a si mesmo a todos, a cada um de nós. É muito importante para o sacerdote a Eucaristia quotidiana, na qual se expõe sempre de novo a este mistério; coloca-se sempre de novo nas mãos de Deus, experimentando ao mesmo tempo a alegria de saber que Ele está presente, me acolhe, me anima, me carrega sempre de novo e me dá a mão, entregando-se a si mesmo a mim. A Eucaristia deve tornar-se para nós uma escola de vida, onde aprendemos a doar a nossa própria vida. É necessário que o sacerdote aprenda diariamente que não possui a sua vida para si mesmo. Devo aprender dia após dia a abandonar-me a mim mesmo; a pôr-me à disposição para aquilo que Ele, o Senhor, precisar de mim no momento, mesmo que outras coisas me pareçam mais bonitas e mais importantes.
Como segunda coisa, o Senhor nos diz: “Eu… conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem, assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai” (Jo 10, 14-15). Em primeiro lugar, no nosso íntimo, devemos viver a relação com Cristo e através dele com o Pai; somente então podemos compreender autenticamente os homens, somente à luz de Deus é possível compreender a profundidade do homem. Assim, quem nos ouve dá-se conta de que não falamos de nós mesmos, de algo, mas do verdadeiro Pastor. O pastor não pode contentar-se com o conhecimento de nomes e de datas. O seu conhecer as ovelhas deve ser sempre também um conhecer com o coração. Enfim, o Senhor fala-nos do serviço da unidade, confiado ao pastor: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil… hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 16). Um sacerdote, um pastor de almas, deve em primeiro lugar preocupar-se com aqueles que crêem e vivem com a Igreja, que nela procuram o caminho da vida e que, por sua vez, como pedras vivas, edificam a Igreja e assim constroem e ao mesmo tempo sustentam também o sacerdote. Todavia, devemos também sempre de novo como diz o Senhor sair “pelas estradas e caminhos” (Lc 14, 23) para transmitir o convite de Deus ao seu banquete, inclusive àqueles homens que até agora não ouviram falar dele, ou por ele ainda não foram tocados interiormente.
“É Ele a pedra… não há… outro nome pelo qual devamos ser salvos” (At 4, 11-12). No trecho dos Atos dos Apóstolos entre Pedro e Jesus: Pedro, o qual recebeu o seu novo nome do próprio Jesus, afirma aqui que é Ele, Jesus, “a pedra”. De fato, a única rocha verdadeira é Jesus. O único nome que salva é o seu. O apóstolo, e, portanto o sacerdote, recebe o próprio “nome”, isto é, a própria identidade, de Cristo. Tudo o que faz ele o faz em seu nome. O seu “eu” torna-se totalmente relativo ao “eu” de Jesus. No nome de Cristo, e não certamente no próprio nome, o sacerdote pode compreender gestos de cura dos irmãos, pode ajudar os “enfermos” a levantar-se e a retomar o caminho (cf. At 4, 10).
Ser ordenado sacerdote significa entrar de modo sacramental e existencial na oração de Cristo pelos “seus”. Nós padres temos uma vocação particular para a oração, somos chamados a “permanecer” em Cristo – e este permanecer em Cristo realiza-se particularmente na oração. O nosso ministério é totalmente ligado a este “permanecer” que equivale a rezar, e deriva dele a sua eficiência. Nesta perspectiva devemos pensar nas diversas formas da oração de um sacerdote, antes de tudo na santa Missa quotidiana. A celebração eucarística é o maior e mais nobre ato de oração, e constitui o centro e a fonte da qual também as outras formas recebem o seu sentido: a liturgia das horas, a adoração eucarística, a lectio divina, o santo Rosário, a meditação. Todas estas expressões de oração, que têm o seu centro na Eucaristia, fazem com que na jornada do sacerdote, e em toda a sua vida, se realize a palavra de Jesus: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem,… Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10, 14-15). No que se refere à vida interior, é fundamental para o serviço do sacerdote. O tempo que nos reservamos para a oração não é um tempo subtraído à nossa responsabilidade pastoral, mas é “trabalho” pastoral, é rezar também pelos outros. É próprio do Pastor, que seja homem de oração, que esteja diante do Senhor rezando pelos outros, substituindo também os outros, que talvez não saibam rezar, não queiram rezar, não encontrem o tempo para rezar. Assim, podemos dizer que este diálogo com Deus é uma obra pastoral!
Por isso, a Igreja nos pede como uma Mãe que tenhamos tempo livre para Deus, com as duas práticas que fazem parte dos nossos deveres como sacerdotes: celebrar a Santa Missa e recitar o Breviário. Mas mais do que recitar, realizá-lo como escuta da Palavra que o Senhor nos oferece na Liturgia das Horas.
O pároco não pode fazer tudo! É impossível! Não pode ser um “solista”, não pode fazer tudo, mas precisa de outros agentes pastorais. O pároco não deve só “fazer”, mas também “delegar”; como diz o jubilando: “fazer fazer”.
Deus é a única riqueza que, de modo definitivo, os homens desejam encontrar num sacerdote.
O Cura D’Ars era humilíssimo, mas consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para o seu povo: “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina”. O Doc. de Aparecida (201) diz: “Somente um sacerdote apaixonado pelo Senhor, pode renovar uma paróquia”. O Santo Cura D’Ars diz ainda que: “Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor. (…) Que aproveitaria termos uma casa cheia de ouro, senão houvesse ninguém para nos abrir a porta? O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo do bom Deus; o administrador dos seus bens (…)”